|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Cantor e autor de Niterói lança "Janelas", seu primeiro disco individual
Fred Martins sai à caça
de melodia e harmonia
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempo de estrangulamento
do mercado de discos, ainda sobra (pouco) espaço para a revelação de novos artistas. O compositor niteroiense Fred Martins, 32,
já gravado por Ney Matogrosso e
Zélia Duncan, chega agora a seu
disco de estréia, "Janelas".
Fred tenta se apresentar ao
grande público brasileiro: "Tenho
uma ligação forte com a canção,
com a canção de rádio, com a música brasileira. Aos poucos essa foi
se tornando minha atividade
principal".
Embora date na gravação de
"Novamente" (99) por Ney Matogrosso sua chegada definitiva à
profissionalização, sempre lidou
majoritariamente com música:
deu aulas e trabalhou tirando cifras para os songbooks de Almir
Chediak.
"Sempre houve o plano de me
tornar cantor pop, mas acho que,
por trabalhar transcrevendo músicas de Tom Jobim, Caetano Veloso e Gilberto Gil, eu tinha autocrítica demais. Só de dois anos para cá a coisa começou a mudar,
com a história do Ney. Montei
banda, comecei a mostrar mais
músicas a cantores", diz.
Não é que antes ele não mostrasse: "Sempre compus, mas sofria com aquele problema do isolamento dos cantores estabelecidos. Ia a shows, levava fitinha.
Mas, se você não tem nome, não
chega a um artista consagrado.
Tentei muito, depois desisti".
Por volta de 88, por exemplo,
tentou Gal Costa, que hoje anda
dizendo que não há mais bons autores nem boas canções no Brasil.
"O empresário dela me disse
que não adiantava, porque Gal jogava fora o que recebia. Não sei se
acontece mesmo, ou se é estratégia de empresário para proteger o
artista. Mas ele sugeriu que eu
procurasse Ney, porque esse costumava ouvir as coisas que recebia. Na época nem procurei. Fui
chegar até ele bem depois, indiretamente, por intermédio das
compositoras Luli e Lucina."
Ligado a uma produção de música e poesia fluminenses que inclui os também cariocas Pedro
Luís, Suely Mesquita, Mathilda
Kóvac e Luís Capucho, Fred tenta
definir sua onda. "Meu interesse é
pela canção, que nem é só música,
nem só letra. É a tradição da letra
sofisticada com música profunda", caracteriza, explicando que
faz menos letra que música.
"Acho que a gente sofreu uma
ruptura grande com toda essa riqueza a partir do advento do rock
brasileiro, que num primeiro momento cuspiu para isso, até para
se diferenciar do que vinha antes", analisa.
"Eu sofria com isso nos anos 80,
via Renato Russo falar que não
havia nada, que só rock inglês era
legal. Depois, ele e outros ficaram
famosos, começaram a encontrar
Caetano Veloso e foram mudando", afirma, complementando:
"Eu até gostava de rock. Incomoda-me a postura de ter que renegar o passado para se expressar,
mas não quero ser repetição de
Noel, ou de Caetano, ou de...".
O produtor Rafael
Na chegada ao disco solo, Fred o
faz por outro percalço próprio da
indústria. Quem o lança é o selo
Deck Disc, de João Augusto e Mônica Ramos. Sendo assim, o disco
é produzido pelo jovem filho dos
donos, Rafael Ramos, que tocou
em banda de heavy metal, descobriu os Mamonas Assassinas, foi
VJ da MTV e hoje produz quase
tudo no selo, seja, indistintamente, forró (Falamansa), bossa nova
(João Donato) ou MPB (Fred).
Rafael se recusou a falar à Folha
sobre o assunto, mas Fred o defende: "Foi intencional, eu quis
que fosse o Rafa. Temos dez anos
de diferença de idade, e isso traz
uma possibilidade maior de diálogo. Estudando música demais,
como foi meu caso, você fica meio
respeitoso demais. Ele mexeu
com isso, trouxe idéias musicais
surpreendentes, até pelo "defeito"
de ser muito jovem e não dominar certas coisas que eu poderia
suprir. Ele quebrou um pouco o
respeito".
Falando sobre MPB, mais
adiante, Fred Martins volta, sem
querer, a assuntos de tradição,
pais e filhos e nepotismos musicais: "Meu lance sempre foi estudar, sempre achei música uma
coisa muito difícil. Tenho uma
postura de amor profundo por
nossa tradição, mas admito que o
filho tem que matar um pouquinho o pai. Senão, fica todo mundo
com a mesma voz".
Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Couro Próximo Texto: Crítica: CD se apóia em arranjos modernos e letristas afiados Índice
|