São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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CINEMA

Ciclo no Cinesesc comemora os 90 anos do nascimento e os 20 da morte de um dos principais escritores argentinos

Universo de Cortázar ganha som e imagem

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Qual seria o lugar mais indicado para encontrar uma obra do escritor argentino Julio Cortázar (1914-84)? Uma megalivraria de São Paulo? Uma boa biblioteca universitária? Um sebo da avenida Corrientes, em Buenos Aires?
Sim. Se o que se estiver buscando forem alguns dos livros clássicos do autor, como "O Jogo da Amarelinha", "Todos os Fogos O Fogo" ou "Octaedro".
Não. Se o que se procura são exemplos de como a literatura de Cortázar possui características específicas que a tornam propícia a ser transformada em cinema.
Nesse último caso, o endereço para encontrar a obra de um dos principais nomes da literatura latino-americana passa a ser alguma boa videolocadora de títulos antigos (no país vizinho, de preferência), ou, de hoje (em sessão para convidados) a 30 de setembro, o Cinesesc, em São Paulo. É ali que acontece o ciclo "Cortázar, Cinema e Literatura", organizado pelo Sesc e pela USP, com apoio do Consulado da Argentina.
O evento lembra os 90 anos do nascimento e os 20 da morte do escritor com filmes baseados em sua obra e conferências.
Cortázar nasceu em Bruxelas, filho de pais argentinos, e morreu em Paris, onde radicou-se em 1951, fugindo do peronismo.

Fantástico
O autor sempre buscou o fantástico nas brechas da realidade, diferente do conterrâneo Jorge Luiz Borges, para quem o fantástico era algo dissociado do real. Isso ajuda a entender a relação que os contos de Cortázar têm com o cinema, uma vez que este muitas vezes parte de imagens do real para atingir outras dimensões.
O filme que abre a mostra, "La Cifra Ímpar" (1961), de Manuel Antín, baseado em "Cartas de Mamá", se presta a essa reflexão. Nele, um casal vive em Paris e tem o cotidiano quebrado por cartas da mãe dele, de Buenos Aires.
Com elas, vem a lembrança do irmão, de quem tomou a mulher antes que morresse. O casal não fala sobre o rapaz morto, mas as cartas da mãe chegam como "alterações do tempo", lembrando-os de que há uma "realidade" paralela àquela em que vivem, que podem ver por meio de rachaduras no dia-a-dia, só reveladas pelas missivas da mãe.
O principal destaque da mostra é o clássico de Michelangelo Antonioni, "Blow-Up" (66), baseado em "Las Babas del Diablo".
Ausência sentida é a de "Week End" (67), de Jean-Luc Godard. Isso, é claro, se falarmos só de adaptações "oficiais". Afinal, não seria nada fácil quantificar a influência mais difusa de Cortázar nas artes desde os anos 60.


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