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CINEMA
Ciclo no Cinesesc comemora os 90 anos do nascimento e os 20 da morte de um dos principais escritores argentinos
Universo de Cortázar ganha som e imagem
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Qual seria o lugar mais indicado
para encontrar uma obra do escritor argentino Julio Cortázar
(1914-84)? Uma megalivraria de
São Paulo? Uma boa biblioteca
universitária? Um sebo da avenida Corrientes, em Buenos Aires?
Sim. Se o que se estiver buscando forem alguns dos livros clássicos do autor, como "O Jogo da
Amarelinha", "Todos os Fogos O
Fogo" ou "Octaedro".
Não. Se o que se procura são
exemplos de como a literatura de
Cortázar possui características específicas que a tornam propícia a
ser transformada em cinema.
Nesse último caso, o endereço
para encontrar a obra de um dos
principais nomes da literatura latino-americana passa a ser alguma boa videolocadora de títulos
antigos (no país vizinho, de preferência), ou, de hoje (em sessão para convidados) a 30 de setembro,
o Cinesesc, em São Paulo. É ali
que acontece o ciclo "Cortázar,
Cinema e Literatura", organizado
pelo Sesc e pela USP, com apoio
do Consulado da Argentina.
O evento lembra os 90 anos do
nascimento e os 20 da morte do
escritor com filmes baseados em
sua obra e conferências.
Cortázar nasceu em Bruxelas,
filho de pais argentinos, e morreu
em Paris, onde radicou-se em
1951, fugindo do peronismo.
Fantástico
O autor sempre buscou o fantástico nas brechas da realidade,
diferente do conterrâneo Jorge
Luiz Borges, para quem o fantástico era algo dissociado do real. Isso
ajuda a entender a relação que os
contos de Cortázar têm com o cinema, uma vez que este muitas
vezes parte de imagens do real para atingir outras dimensões.
O filme que abre a mostra, "La
Cifra Ímpar" (1961), de Manuel
Antín, baseado em "Cartas de
Mamá", se presta a essa reflexão.
Nele, um casal vive em Paris e tem
o cotidiano quebrado por cartas
da mãe dele, de Buenos Aires.
Com elas, vem a lembrança do
irmão, de quem tomou a mulher
antes que morresse. O casal não
fala sobre o rapaz morto, mas as
cartas da mãe chegam como "alterações do tempo", lembrando-os de que há uma "realidade" paralela àquela em que vivem, que
podem ver por meio de rachaduras no dia-a-dia, só reveladas pelas missivas da mãe.
O principal destaque da mostra
é o clássico de Michelangelo Antonioni, "Blow-Up" (66), baseado
em "Las Babas del Diablo".
Ausência sentida é a de "Week
End" (67), de Jean-Luc Godard.
Isso, é claro, se falarmos só de
adaptações "oficiais". Afinal, não
seria nada fácil quantificar a influência mais difusa de Cortázar
nas artes desde os anos 60.
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