São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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MÚSICA

DJ e produtor carioca tem seu álbum de estréia, "Tranqüilo!", remixado faixa-a-faixa pelo bamba do dub Neal Fraser

Da Lua passa pelas mãos de Mad Professor

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Neal Fraser, ou Mad Professor, conheça Marcelinho da Lua." O produtor Rafael Ramos interrompe o começo da entrevista com o ícone do dub para apresentá-lo ao motivo de sua vinda ao Rio.
Ainda sob o efeito de tocar duas noites seguidas em um camarote na Marquês de Sapucaí, Da Lua não consegue esconder a felicidade em conhecer um de seus ídolos pessoalmente. Que, como se não bastasse, veio ao Brasil em pleno Carnaval carioca só para começar a trabalhar em mais um de seus antológicos remixes de um álbum inteiro. No caso, o "Tranqüilo!", do próprio Da Lua, lançado no ano passado e transformado agora no álbum "In a Dubwise Style".
O encontro, ocorrido na terça-feira gorda do Carnaval deste ano, marcava a entrega dos originais de "Tranqüilo!" ao bamba do dub, e, pouco antes de Da Lua chegar, Mad Professor ouvia atentamente a cada uma das faixas do disco de estréia do produtor carioca. Sentado em frente à mesa de mixagem do estúdio da DeckDisc, ele prestava atenção em cada detalhe do disco, repetindo o mesmo trabalho cirúrgico de audição apurada que marcou o encontro de Da Lua com seu trabalho, há mais de cinco anos.
O DJ e produtor carioca recorda o primeiro contato sonoro. "Eu estava num aeroporto na Europa, numa turnê com o Bossacucanova, acho que em 97 ou 98..., quando vi o "No Protection", que é o disco em que o Mad Professor remixa o "Protection", do Massive Attack. Comprei na hora e fiquei três horas andando pelo aeroporto, ouvindo cada detalhe." Pouco depois, Da Lua estava visitando sebos de discos do Rio atrás de compactos de dub. "Fui atrás dos discos dos anos 70: Burning Spear, Black Uhuru, Lee Perry..."
Aos poucos, o dub começava a entrar no DNA do som de Da Lua, até então influenciado pelas possibilidades de interseção entre o drum'n'bass e o samba. "Comecei quando estava produzindo um disco do Cabeça e resolvemos fazer uns dubs, para experimentar", diz. O próximo passo seria arregimentar uma banda de dub, o Dubom, que teve vida breve, mas que marca presença no disco de Da Lua, na faixa "Jornada".
O Dubom acabou, mas o dub continuou no trabalho de Da Lua. "Eu comecei tocando dub nos lounges de festas de eletrônica. Enquanto os DJs tocavam downtempo e house, eu passei a tocar dub." Foi o que o levou a chamar Mad Professor para retrabalhar uma das faixas de seu disco.
Ao ser convidado, Mad Professor quis ouvir as faixas do disco para definir qual música ele escolheria. Ficou com a versão de Da Lua para "Cotidiano", de Chico Buarque, que tem vocais de Seu Jorge. Foi o próprio Professor que sugeriu: "Farei todo o disco!".
"Foi um processo semelhante ao do disco do Massive Attack, que também havia me pedido para fazer apenas uma faixa, mas com quem acabei gravando todo o disco", lembra Mad Professor.
"O som do samba não foi explorado em toda sua plenitude", explica Fraser, que, apesar de morar na Inglaterra, nasceu na Guiana, "por isso prevejo um grande potencial para o disco de Marcelo." Ele ainda definia o que poderia acontecer com o disco, mostrando um caderno com anotações sobre cada faixa, em que destacou os pontos que mais lhe chamaram atenção no disco. "É ótimo poder trabalhar no próprio estúdio em que o disco foi gravado, mas vou levar as faixas para terminá-lo em meu sound system, em Londres." O que de fato aconteceu.


Alexandre Matias viajou ao Rio de Janeiro a convite da DeckDisc.


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