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MÚSICA
DJ e produtor carioca tem seu álbum de estréia, "Tranqüilo!", remixado faixa-a-faixa pelo bamba do dub Neal Fraser
Da Lua passa pelas mãos de Mad Professor
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Neal Fraser, ou Mad Professor,
conheça Marcelinho da Lua." O
produtor Rafael Ramos interrompe o começo da entrevista com o
ícone do dub para apresentá-lo ao
motivo de sua vinda ao Rio.
Ainda sob o efeito de tocar duas
noites seguidas em um camarote
na Marquês de Sapucaí, Da Lua
não consegue esconder a felicidade em conhecer um de seus ídolos
pessoalmente. Que, como se não
bastasse, veio ao Brasil em pleno
Carnaval carioca só para começar
a trabalhar em mais um de seus
antológicos remixes de um álbum
inteiro. No caso, o "Tranqüilo!",
do próprio Da Lua, lançado no
ano passado e transformado agora no álbum "In a Dubwise Style".
O encontro, ocorrido na terça-feira gorda do Carnaval deste ano,
marcava a entrega dos originais
de "Tranqüilo!" ao bamba do
dub, e, pouco antes de Da Lua
chegar, Mad Professor ouvia
atentamente a cada uma das faixas do disco de estréia do produtor carioca. Sentado em frente à
mesa de mixagem do estúdio da
DeckDisc, ele prestava atenção
em cada detalhe do disco, repetindo o mesmo trabalho cirúrgico de
audição apurada que marcou o
encontro de Da Lua com seu trabalho, há mais de cinco anos.
O DJ e produtor carioca recorda
o primeiro contato sonoro. "Eu
estava num aeroporto na Europa,
numa turnê com o Bossacucanova, acho que em 97 ou 98..., quando vi o "No Protection", que é o
disco em que o Mad Professor remixa o "Protection", do Massive
Attack. Comprei na hora e fiquei
três horas andando pelo aeroporto, ouvindo cada detalhe." Pouco
depois, Da Lua estava visitando
sebos de discos do Rio atrás de
compactos de dub. "Fui atrás dos
discos dos anos 70: Burning
Spear, Black Uhuru, Lee Perry..."
Aos poucos, o dub começava a
entrar no DNA do som de Da Lua,
até então influenciado pelas possibilidades de interseção entre o
drum'n'bass e o samba. "Comecei
quando estava produzindo um
disco do Cabeça e resolvemos fazer uns dubs, para experimentar",
diz. O próximo passo seria arregimentar uma banda de dub, o Dubom, que teve vida breve, mas que
marca presença no disco de Da
Lua, na faixa "Jornada".
O Dubom acabou, mas o dub
continuou no trabalho de Da Lua.
"Eu comecei tocando dub nos
lounges de festas de eletrônica.
Enquanto os DJs tocavam downtempo e house, eu passei a tocar
dub." Foi o que o levou a chamar
Mad Professor para retrabalhar
uma das faixas de seu disco.
Ao ser convidado, Mad Professor quis ouvir as faixas do disco
para definir qual música ele escolheria. Ficou com a versão de Da
Lua para "Cotidiano", de Chico
Buarque, que tem vocais de Seu
Jorge. Foi o próprio Professor que
sugeriu: "Farei todo o disco!".
"Foi um processo semelhante
ao do disco do Massive Attack,
que também havia me pedido para fazer apenas uma faixa, mas
com quem acabei gravando todo
o disco", lembra Mad Professor.
"O som do samba não foi explorado em toda sua plenitude", explica Fraser, que, apesar de morar
na Inglaterra, nasceu na Guiana,
"por isso prevejo um grande potencial para o disco de Marcelo."
Ele ainda definia o que poderia
acontecer com o disco, mostrando um caderno com anotações
sobre cada faixa, em que destacou
os pontos que mais lhe chamaram
atenção no disco. "É ótimo poder
trabalhar no próprio estúdio em
que o disco foi gravado, mas vou
levar as faixas para terminá-lo em
meu sound system, em Londres."
O que de fato aconteceu.
Alexandre Matias viajou ao Rio de Janeiro a convite da DeckDisc.
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