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"A GRAND DON'T COME FOR FREE"
Poeta juvenil, Mike Skinner conta histórias de adolescentes comuns
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Com o primeiro disco, ele foi
comparado a William Blake.
Agora vem o segundo, e ele ganha
a alcunha "Shakespeare para
clubbers". A imprensa do Reino
Unido, parece, não sabe o que fazer com Mike Skinner, 25.
The Streets é o nome do projeto
de Skinner, que, desde a sua estréia, em 2002, com "Original Pirate Material", vem sendo incensado como poeta e/ou porta-voz
de uma certa juventude britânica.
O álbum possuía canções que,
menos do que letras, eram histórias sobre o cotidiano de um garoto que freqüenta bares, fuma, bebe, toma foras de várias garotas,
encontra o ecstasy, ganha pouco,
come fast food... Basicamente, como vive grande parte dos adolescentes britânicos (e de um monte
de outros lugares do mundo) de
classe média.
Skinner não cantava; suas aventuras saíam de sua voz num ritmo
quase falado, que se encaixava
com a música, de batidas quebradas, com um pouco de rap, um
pouco de drum'n'bass, o que ficou conhecido como UK garage.
O disco, que havia sido todo ele
produzido num quarto da casa de
Skinner, chegou ao 18º lugar na
parada britânica e vendeu, apenas
ali, mais de 500 mil cópias.
Se não foi um estouro comercial, "Original Pirate..." rendeu,
além de capas de jornais e revistas, dinheiro suficiente para o
cantor melhorar a vida que ele expunha em suas letras. E aí, durante as gravações de "A Grand Don't
Come for Free", surgiram dúvidas
de quais tipos de histórias o endinheirado Skinner iria contar.
Bem, o disco chegou -também
ao Brasil e também produzido no
mesmo quarto- e traz a mesma
temática de seu antecessor, agora
tendo como protagonista um jovem que ainda leva aquela mesma
vida, mas que também aluga
DVDs e troca mensagens de celular com amigos e namoradas.
Dá até para dizer que "A Grand
Don't Come..." é um álbum conceitual. Suas 11 canções se desenvolvem a partir da primeira faixa,
"It Was Supposed to Be So Easy",
em que um garoto esquece mil libras em cima de sua TV quebrada, e o dinheiro desaparece.
O segredo de Skinner não está
nas situações descritas em suas letras (tem um monte de gente que
canta sobre desilusões amorosas,
sobre não ter muita grana), mas
no modo como ele transporta isso
para os hábitos de um garoto normal: essas desilusões aparecem
através de mensagens de celulares; não tem muita grana para
gastar em clubes da moda ou para
comprar jogos de Playstation.
Isso está logo em "It Was Supposed...", quando Skinner se lembra de ter que devolver um DVD
em tempo para não pagar a multa,
mas ele falha, pois não conseguiu
arrumar dinheiro.
Depois ele narra o encontro
com uma garota que conheceu
num clube no sábado passado
("Could Well Be in").
Em seguida, como ele perde dinheiro apostando em jogos de futebol ("Not Addicted").
E vem uma nova ida ao clube,
agora com um olho no celular, esperando um sinal de vida dos camaradas que ainda não chegaram
e que provavelmente não vão aparecer ("Blinded by the Lights").
E isso são apenas as quatro primeiras músicas do disco.
"Fit But You Know It" foi a faixa
escolhida como o primeiro single.
É a mais dançante e a mais pop, e
traz um Skinner que, numa lanchonete, decidindo se pede hambúrguer ou batatas fritas, encontra uma garota linda: "Você merece [nota] 8 ou 9/ Talvez até um 9,5,
depois de quatro cervejas". Em
"Get Out of My House", um
drum'n'bass lento, ele discute
com a namorada. Ela reclama que
ele não está por perto; ele diz que
não é bem assim, que ele tinha
coisas para fazer.
Em "Dry Your Eyes" Skinner
mostra que, sim, tem coração
quando vê seu relacionamento arruinado: "E eu estou ali, parado/
Não consigo dizer nenhuma palavra/ Pois tudo se foi/ Eu não tenho
nada/ Absolutamente nada".
Cara que não é poeta, mas que
sabe como ninguém costurar histórias em suas letras, Mike Skinner não dá espaço para respirar.
A Grand Don't Come for Free
Artista: The Streets
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 35, em média
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