São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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SALAS ESPECIAIS

Mostra abandonou núcleo histórico, que fazia sucesso entre o público, para privilegiar a produção atual; pintura e instalação são os trabalhos destacados nas oito salas especiais

Cena contemporânea

Telas de um mestre belga, dois artistas chineses e o ateliê inteiro de um brasileiro são as principais atrações

DA REPORTAGEM LOCAL

As salas especiais ocupam o espaço que, em outras edições da Bienal, era denominado núcleo histórico. Elas são dedicadas à produção contemporânea de artistas com repercussão na cena internacional ou que a curadoria busca evidenciar como marcos importantes em vez de apresentarem artistas definitivamente já consagrados na história da arte, como foi o caso do suprematista russo Kasimir Malevich (1878-1935), em 1994, ou do expressionista norueguês Edvard Munch (1863-1944), em 1996.
A mudança ocorreu na edição passada, sob a presidência de Carlos Bratke e com curadoria de Alfons Hug, responsável pela iniciativa, e provocou polêmica. Alguns conselheiros da Bienal, como Jens Olensen, afirmaram, na época, que o núcleo histórico da Bienal não devia ser eliminado porque era o principal chamariz da exposição.
No entanto, com o recorde de público da edição, com 670 mil visitantes, tal tese perdeu validade.
"A Bienal cresceu. Quando criamos o núcleo histórico, em 1994, junto com o Nelson Aguilar, era realmente para atrair público, pois a Bienal estava esvaziada. Mas o público, hoje, demonstra interesse pela arte contemporânea, e o núcleo histórico está morto", afirma Edemar Cid Ferreira, ex-presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
A eliminação do núcleo histórico é apoiada por críticos, artistas e curadores nacionais a partir do seguinte princípio: a Bienal deve ser responsável pela cena contemporânea, função para a qual, afinal, foi criada, em 1951, e os museus cuidam da história da arte. "As instituições museológicas, hoje, têm capacidade de apresentar nomes consagrados. Nossa função é cuidar da produção atual", diz Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Bienal, que apoiou a proposta de Hug, em sua atual gestão. O curador repete o mesmo argumento -os museus já cuidam da produção histórica de arte.
Nesta edição, o curador alemão escolheu um time diversificado de artistas, com destaque para a instalação e a pintura, que Hug busca reforçar nesta Bienal. Em ambas as áreas há três artistas escolhidos entre os oito que compõem esse núcleo do evento.
Do Brasil, o curador selecionou três artistas: Beatriz Milhazes, que mostra suas telas, Artur Barrio, com uma instalação feita de jangada, e Paulo Bruscky, que teve seu ateliê inteiro deslocado do Recife, onde mora, para o prédio da Bienal.
Compõe esse ambiente um cavalete abandonado que, simbolicamente, marca a passagem, na obra de Bruscky, de seu trabalho com a pintura em um sistema tradicional para a arte conceitual. E, coincidentemente, esse elemento acaba por se tornar uma metáfora para a mudança do núcleo histórico para a sala especial: a ruptura com a tradição.
(FABIO CYPRIANO)


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