São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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"Improvisar é relaxar e reagir a tudo o que o cerca"

Ligado a projetos como o trio com Paul Motian e Bill Frisell, jazzista tocará no Brasil, com o Joe Lovano Nonet, faixas de seus últimos CDs

Para o saxofonista Joe Lovano, "o jazz é a música das experiências multiculturais'

ESPECIAL PARA A FOLHA

Leia, a seguir, a continuação da entrevista que a cantora brasileira Luciana Souza, que vive em Nova York, fez por e-mail com o saxofonista norte-americano Joe Lovano especialmente para a Ilustrada.  

LUCIANA SOUZA - Nos projetos que você mantém vivos -como as explorações com [Bill] Frisell e [Paul] Motian, e também o trabalho com o seu noneto-, qual é o papel da composição?
JOE LOVANO
- Para mim, improvisar é a abordagem de tocar com uma interpretação livre da melodia, dentro de estruturas harmônicas. Tem a ver com ser criativo com o material e tentar ser livre com a música para que você possa relaxar e reagir ao som e a tudo que o cerca.
O trio com Paul Motian e Bill Frisell, que estamos fazendo agora no Village Vanguard, é uma exploração belíssima de todos os tipos de música: composições originais, música de Thelonious Monk, standards. É emocionante tentar ser criativo dentro de determinado repertório.
Agora, meu noneto, com o qual vou ao Brasil, também tem músicos muito inspirados. Vamos tocar materiais de meus últimos três álbuns com essa banda: "52nd Street Themes", que recebeu um Grammy, "On This Day... at the Vanguard", e o meu CD mais recente, "Streams of Expression".

LUCIANA - Você é visto como um dos improvisadores de jazz mais destemidos. Como professor, que tipo de conceitos e exercícios de improvisação passa para seus alunos?
Você ainda trabalha em cima dessas coisas ou apenas mantém a linguagem em movimento pelo fato de ser um instrumentista tão ativo?
LOVANO
- O repertório é uma das coisas mais importantes para o músico desenvolver um conceito e uma abordagem dentro do mundo da música. E para desenvolver um repertório dentro de seu próprio conceito e abordagem, para que tenha um cabedal profundo de material que o inspire a desenvolver idéias, melodicamente e dentro da harmonia, para que possa sentir as coisas e ser melodicamente expressivo de maneira lírica.
É preciso também uma concepção profunda do estudo do ritmo e do desenvolvimento de sua abordagem para poder ser livre dentro deste mundo de ritmos em que vivemos, para que as pessoas possam tocar juntas e acertar a batida com qualquer tipo de música que seja tocada.

LUCIANA - Você também é baterista. Poderia me falar um pouco sobre a importância do ritmo em sua música, ou do quanto você foca no ritmo quando compõe ou improvisa?
LOVANO
- Bom, eu diria que é um foco total. Há um equilíbrio igual no foco entre os aspectos rítmicos de como você monta melodias, os aspectos harmônicos-rítmicos em que cabem os acordes, e como as coisas podem avançar nesse sentido. Tocando bateria ao longo dos anos, estudando os grandes bateristas...
Meu pai me disse desde cedo que eu tocaria com grandes bateristas e com grandes pianistas. Então é preciso entender o que eles fazem. Mas a bateria, para mim, existiu desde sempre. Todo músico precisa ter um senso profundo de ritmo.

LUCIANA - Nos últimos tempos você anda viajando com uma banda composta de músicos muito mais jovens. Pode contar como vem sendo essa experiência?
LOVANO
- O jazz é a música das experiências multiculturais e multigeracionais. No meu caso, eu sempre era o cara mais jovem nas bandas. Com o passar do tempo, você vai se desenvolvendo, e a situação se inverte.

LUCIANA - Esta será a primeira vez em que você vai ao Brasil [Lovano se apresenta dia 26/10 no Rio; 27/10 em Vitória e 28/10 em São Paulo]?
LOVANO
- Não. Já estive no Brasil, tocando, umas cinco ou seis vezes. Estive no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Maceió. Estou ansioso para voltar. Minha primeira visita ao Brasil aconteceu há uns dez anos. Eu amo e respeito a música brasileira.
Também já tive o prazer de gravar e tocar com artistas maravilhosos, como Hermeto Paschoal, Joyce, Miúcha e muitos outros talentos fantásticos, como você mesma.


Tradução de CLARA ALLAIN

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