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"Improvisar é relaxar e reagir a tudo o que o cerca"
Ligado a projetos como o trio
com Paul Motian e Bill Frisell,
jazzista tocará no Brasil, com
o Joe Lovano Nonet, faixas
de seus últimos CDs
Para o saxofonista Joe Lovano, "o jazz é a música das experiências multiculturais'
ESPECIAL PARA A FOLHA
Leia, a seguir, a continuação
da entrevista que a cantora brasileira Luciana Souza, que vive
em Nova York, fez por e-mail
com o saxofonista norte-americano Joe Lovano especialmente para a Ilustrada.
LUCIANA SOUZA - Nos projetos que
você mantém vivos -como as explorações com [Bill] Frisell e [Paul]
Motian, e também o trabalho com o
seu noneto-, qual é o papel da
composição?
JOE LOVANO - Para mim, improvisar é a abordagem de tocar
com uma interpretação livre da
melodia, dentro de estruturas
harmônicas. Tem a ver com ser
criativo com o material e tentar
ser livre com a música para que
você possa relaxar e reagir ao
som e a tudo que o cerca.
O trio com Paul Motian e Bill
Frisell, que estamos fazendo
agora no Village Vanguard, é
uma exploração belíssima de
todos os tipos de música: composições originais, música de
Thelonious Monk, standards. É
emocionante tentar ser criativo dentro de determinado repertório.
Agora, meu noneto, com o
qual vou ao Brasil, também tem
músicos muito inspirados. Vamos tocar materiais de meus
últimos três álbuns com essa
banda: "52nd Street Themes",
que recebeu um Grammy, "On
This Day... at the Vanguard", e
o meu CD mais recente,
"Streams of Expression".
LUCIANA - Você é visto como um
dos improvisadores de jazz mais
destemidos. Como professor, que tipo de conceitos e exercícios de improvisação passa para seus alunos?
Você ainda trabalha em cima dessas
coisas ou apenas mantém a linguagem em movimento pelo fato de ser
um instrumentista tão ativo?
LOVANO - O repertório é uma
das coisas mais importantes
para o músico desenvolver um
conceito e uma abordagem
dentro do mundo da música. E
para desenvolver um repertório dentro de seu próprio conceito e abordagem, para que tenha um cabedal profundo de material que o inspire a desenvolver idéias, melodicamente e
dentro da harmonia, para que
possa sentir as coisas e ser melodicamente expressivo de maneira lírica.
É preciso também uma concepção profunda do estudo do
ritmo e do desenvolvimento de
sua abordagem para poder ser
livre dentro deste mundo de
ritmos em que vivemos, para
que as pessoas possam tocar
juntas e acertar a batida com
qualquer tipo de música que seja tocada.
LUCIANA - Você também é baterista. Poderia me falar um pouco sobre
a importância do ritmo em sua música, ou do quanto você foca no ritmo quando compõe ou improvisa?
LOVANO - Bom, eu diria que é
um foco total. Há um equilíbrio
igual no foco entre os aspectos
rítmicos de como você monta
melodias, os aspectos harmônicos-rítmicos em que cabem os
acordes, e como as coisas podem avançar nesse sentido. Tocando bateria ao longo dos
anos, estudando os grandes bateristas...
Meu pai me disse desde cedo
que eu tocaria com grandes bateristas e com grandes pianistas. Então é preciso entender o
que eles fazem. Mas a bateria,
para mim, existiu desde sempre. Todo músico precisa ter
um senso profundo de ritmo.
LUCIANA - Nos últimos tempos você anda viajando com uma banda
composta de músicos muito mais jovens. Pode contar como vem sendo
essa experiência?
LOVANO - O jazz é a música
das experiências multiculturais e multigeracionais. No
meu caso, eu sempre era o cara
mais jovem nas bandas. Com
o passar do tempo, você vai
se desenvolvendo, e a situação
se inverte.
LUCIANA - Esta será a primeira vez
em que você vai ao Brasil [Lovano se
apresenta dia 26/10 no Rio; 27/10
em Vitória e 28/10 em São Paulo]?
LOVANO - Não. Já estive no
Brasil, tocando, umas cinco ou
seis vezes. Estive no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo
Horizonte e em Maceió. Estou
ansioso para voltar. Minha primeira visita ao Brasil aconteceu há uns dez anos. Eu amo e
respeito a música brasileira.
Também já tive o prazer de gravar e tocar com artistas maravilhosos, como Hermeto Paschoal, Joyce, Miúcha e muitos outros talentos fantásticos, como você mesma.
Tradução de
CLARA ALLAIN
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