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CINEMA
O ator Leonard Nimoy participa de convenção em São Paulo
Sr. Spock faz seu primeiro contato com fãs do Brasil
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O ator Leonard Nimoy, 72, vem
pela primeira vez ao Brasil trazendo a seus fãs boas e más notícias.
A boa é que irá participar de um
evento no próximo sábado em
São Paulo, onde os apreciadores
da série "Jornada nas Estrelas"
poderão finalmente conhecê-lo
pessoalmente. A má é a declaração de que seus dias como o carismático Sr. Spock, personagem
que lhe garantiu fama e fortuna,
estão definitivamente no passado.
"Eles não me ligaram em cerca
de 12 anos, eu não acho que haja
muita chance de me chamarem
no futuro", diz Nimoy referindo-se à Paramount Pictures, detentora dos direitos sobre a série.
Mesmo que essa ligação venha a
acontecer no futuro, é melhor
perder as esperanças. "Acho que
meus dias de envolvimento na
produção de filmes e séries de TV
estão terminados", diz.
Para saciar suas necessidades
criativas, Nimoy está investindo
em fotografia. Seu livro "Shekhina" causou polêmica nos EUA
por exibir nudez feminina e peças
ritualísticas judaicas tradicionalmente usadas por homens.
Inicialmente temeroso de assumir um papel alienígena numa série de TV dos anos 1960, Nimoy
hoje tem orgulho de estar associado ao nome de "Jornada nas Estrelas". "Estivemos muito preocupados em fazer comentários
sociais e políticos, e acho que isso
garantiu grande parte do sucesso
do trabalho", explica.
Leia a seguir trechos da entrevista com o ator concedida por telefone de Los Angeles.
Folha - O que traz o sr. ao Brasil
neste momento?
Leonard Nimoy - Eu nunca estive
no Brasil antes, estava na hora. Há
uma comunidade de "Jornada
nas Estrelas" no país para quem
eu gostaria de dizer olá. E há alguns lançamentos de DVD de filmes da série dos quais falarei.
Folha - Seu livro fotográfico
"Shekhina" fez barulho entre comunidades judaicas, mostrando
nudez feminina combinada a objetos ritualísticos judaicos. Isso foi
intencional?
Nimoy - Oh, não. (Risos) Esse
não era meu plano, eu estava seguindo uma visão artística.
Folha - Mas o sr. provavelmente
imaginou que pudesse haver uma
reação assim...
Nimoy - Bem, durante o processo de fazer as imagens, mostrando parte do trabalho para várias
pessoas, comecei a perceber que
haveria discussões intensas.
Folha - O sr. tem planos futuros
para seus projetos em fotografia?
Nimoy - Sim, estou trabalhando
em projetos o tempo todo. Várias
galerias nos EUA estão expondo
meus trabalhos. O Jewish Museum de Nova York acabou de
comprar uma peça do livro, e vários outros museus no país também estão adquirindo trabalhos
para suas coleções.
Folha - E seus dias como o sr.
Spock estão mesmo terminados?
Nimoy - Sim, com certeza sim.
Folha - O sr. não consideraria voltar se a Paramount decidisse que
Spock deve ter outra chance?
Nimoy - É uma pergunta hipotética, o que a torna difícil de ser respondida. Eu acho que é improvável que eu receba essa ligação telefônica, então não gasto meu tempo pensando nisso. Eles não me
ligaram em cerca de 12 anos. Não
acho que me chamarão no futuro.
Folha - Falando da atual mania
em torno de "O Senhor dos Anéis",
como o sr. vê o crescimento do gênero fantasia acompanhado pelo
declínio da ficção científica nos
anos recentes?
Nimoy - Bem, eu acho que pode
ser saudável. A ficção científica
em anos recentes se tornou mais
sobre efeitos especiais e explosões, e as histórias dos hobbits
têm um núcleo de humanidade
que eu acho muito tocante.
Folha - "Jornada nas Estrelas"
sempre se preocupou em transmitir mensagens políticas e éticas. Isso foi transportado para os filmes
e, de certo modo, para "A Nova Geração". Mas as versões mais novas
parecem ter se suavizado. Como o
sr. vê o envelhecimento da franquia e de seu poder metafórico?
Nimoy - É uma questão muito
boa. Posso responder apenas em
parte, porque eu não tenho prestado muita atenção ao trabalho
que eles estiveram fazendo nos últimos anos. Eu não sou uma autoridade na história de "Jornada nas
Estrelas". Posso dizer que acredito que, nos primeiros anos, os três
em que fizemos a série, e nos primeiros filmes, estivemos muito
preocupados em fazer comentários sociais e políticos, e acho que
isso garantiu grande parte do sucesso do trabalho. Tinha orgulho
de estar conectado a "Jornada nas
Estrelas" devido ao seu conteúdo.
Agora, eu não posso dizer para
onde a série foi nos anos recentes,
então seria injusto comentar.
Folha - Você trabalharia como
produtor da série?
Nimoy - Eu acho que meus dias
de envolvimento na produção de
filmes e séries de TV estão terminados. Minha vida é mais importante para mim agora, eu não sou
mais tão compulsivo ou obsessivo
sobre minha carreira como costumava ser. Minha mulher e eu temos uma vida muito confortável.
Folha - Spock pode ser lembrado
como um dos primeiros personagens alienígenas críveis da história
da TV. Mas claro que o sr. não sabia
que isso ia dar certo. O sr. se preocupou quando Gene Roddenberry o
convidou para o papel?
Nimoy - Eu estava preocupado.
Eu tinha uma carreira razoavelmente bem-sucedida e bastante
ativa e temia que, se o personagem fracassasse, poderia danificá-la de algum modo. Até considerei a possibilidade de usar uma
maquiagem que me disfarçasse
tanto que as pessoas não conseguiriam me identificar com o personagem quando eu saísse do trabalho. Mas tudo correu bem.
Folha - O que fez o sr. pensar que
a audiência talvez "comprasse"
aquele personagem?
Nimoy - A coisa que eu mais gostava sobre o potencial do personagem era a luz interior que ele tinha, porque Gene Roddenberry
me disse imediatamente que esse
personagem tinha uma herança
dupla, meio-humano, meio-vulcano. Havia conflito interno
-tentando ser vulcano e controlando suas emoções enquanto seu
lado humano ainda estava presente- e o senso de alienação
-pelo fato de que, quando criança, sendo criado em Vulcano, ele
não era aceito porque as outras
crianças sabiam que ele era um
miscigenado com uma mãe humana. Eu achei esses traços do
personagem muito úteis e empolgantes para explorar como ator.
Folha - Um astrônomo chamado
Donald Brownlee uma vez disse
que as pessoas esperam, por conta
de "Jornada nas Estrelas", que encontremos no futuro alienígenas
com os quais poderemos nos relacionar. Como o sr. vê esse efeito
moldando a imagem de como deveria ser um alienígena?
Nimoy - Fico profundamente
chocado em ouvir que alguém
pode estar falando sobre o efeito
danoso da série à ciência.
CONVENÇÃO CAPITÃO SPOCK.
Quando: sábado, das 8h30 às 18h. Onde:
teatro Elis Regina, no Anhembi (av. Olavo
Fontoura, 1.209, São Paulo). Quanto: R$
50 (ingressos esgotados). Na internet:
www.frotaestelar.com.br.
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