UOL


São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

O ator Leonard Nimoy participa de convenção em São Paulo

Sr. Spock faz seu primeiro contato com fãs do Brasil

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Leonard Nimoy, 72, vem pela primeira vez ao Brasil trazendo a seus fãs boas e más notícias. A boa é que irá participar de um evento no próximo sábado em São Paulo, onde os apreciadores da série "Jornada nas Estrelas" poderão finalmente conhecê-lo pessoalmente. A má é a declaração de que seus dias como o carismático Sr. Spock, personagem que lhe garantiu fama e fortuna, estão definitivamente no passado.
"Eles não me ligaram em cerca de 12 anos, eu não acho que haja muita chance de me chamarem no futuro", diz Nimoy referindo-se à Paramount Pictures, detentora dos direitos sobre a série.
Mesmo que essa ligação venha a acontecer no futuro, é melhor perder as esperanças. "Acho que meus dias de envolvimento na produção de filmes e séries de TV estão terminados", diz.
Para saciar suas necessidades criativas, Nimoy está investindo em fotografia. Seu livro "Shekhina" causou polêmica nos EUA por exibir nudez feminina e peças ritualísticas judaicas tradicionalmente usadas por homens.
Inicialmente temeroso de assumir um papel alienígena numa série de TV dos anos 1960, Nimoy hoje tem orgulho de estar associado ao nome de "Jornada nas Estrelas". "Estivemos muito preocupados em fazer comentários sociais e políticos, e acho que isso garantiu grande parte do sucesso do trabalho", explica.
Leia a seguir trechos da entrevista com o ator concedida por telefone de Los Angeles.
 

Folha - O que traz o sr. ao Brasil neste momento?
Leonard Nimoy -
Eu nunca estive no Brasil antes, estava na hora. Há uma comunidade de "Jornada nas Estrelas" no país para quem eu gostaria de dizer olá. E há alguns lançamentos de DVD de filmes da série dos quais falarei.

Folha - Seu livro fotográfico "Shekhina" fez barulho entre comunidades judaicas, mostrando nudez feminina combinada a objetos ritualísticos judaicos. Isso foi intencional?
Nimoy -
Oh, não. (Risos) Esse não era meu plano, eu estava seguindo uma visão artística.

Folha - Mas o sr. provavelmente imaginou que pudesse haver uma reação assim...
Nimoy -
Bem, durante o processo de fazer as imagens, mostrando parte do trabalho para várias pessoas, comecei a perceber que haveria discussões intensas.

Folha - O sr. tem planos futuros para seus projetos em fotografia?
Nimoy -
Sim, estou trabalhando em projetos o tempo todo. Várias galerias nos EUA estão expondo meus trabalhos. O Jewish Museum de Nova York acabou de comprar uma peça do livro, e vários outros museus no país também estão adquirindo trabalhos para suas coleções.

Folha - E seus dias como o sr. Spock estão mesmo terminados?
Nimoy -
Sim, com certeza sim.

Folha - O sr. não consideraria voltar se a Paramount decidisse que Spock deve ter outra chance?
Nimoy -
É uma pergunta hipotética, o que a torna difícil de ser respondida. Eu acho que é improvável que eu receba essa ligação telefônica, então não gasto meu tempo pensando nisso. Eles não me ligaram em cerca de 12 anos. Não acho que me chamarão no futuro.

Folha - Falando da atual mania em torno de "O Senhor dos Anéis", como o sr. vê o crescimento do gênero fantasia acompanhado pelo declínio da ficção científica nos anos recentes?
Nimoy -
Bem, eu acho que pode ser saudável. A ficção científica em anos recentes se tornou mais sobre efeitos especiais e explosões, e as histórias dos hobbits têm um núcleo de humanidade que eu acho muito tocante.

Folha - "Jornada nas Estrelas" sempre se preocupou em transmitir mensagens políticas e éticas. Isso foi transportado para os filmes e, de certo modo, para "A Nova Geração". Mas as versões mais novas parecem ter se suavizado. Como o sr. vê o envelhecimento da franquia e de seu poder metafórico?
Nimoy -
É uma questão muito boa. Posso responder apenas em parte, porque eu não tenho prestado muita atenção ao trabalho que eles estiveram fazendo nos últimos anos. Eu não sou uma autoridade na história de "Jornada nas Estrelas". Posso dizer que acredito que, nos primeiros anos, os três em que fizemos a série, e nos primeiros filmes, estivemos muito preocupados em fazer comentários sociais e políticos, e acho que isso garantiu grande parte do sucesso do trabalho. Tinha orgulho de estar conectado a "Jornada nas Estrelas" devido ao seu conteúdo. Agora, eu não posso dizer para onde a série foi nos anos recentes, então seria injusto comentar.

Folha - Você trabalharia como produtor da série?
Nimoy -
Eu acho que meus dias de envolvimento na produção de filmes e séries de TV estão terminados. Minha vida é mais importante para mim agora, eu não sou mais tão compulsivo ou obsessivo sobre minha carreira como costumava ser. Minha mulher e eu temos uma vida muito confortável.

Folha - Spock pode ser lembrado como um dos primeiros personagens alienígenas críveis da história da TV. Mas claro que o sr. não sabia que isso ia dar certo. O sr. se preocupou quando Gene Roddenberry o convidou para o papel?
Nimoy -
Eu estava preocupado. Eu tinha uma carreira razoavelmente bem-sucedida e bastante ativa e temia que, se o personagem fracassasse, poderia danificá-la de algum modo. Até considerei a possibilidade de usar uma maquiagem que me disfarçasse tanto que as pessoas não conseguiriam me identificar com o personagem quando eu saísse do trabalho. Mas tudo correu bem.

Folha - O que fez o sr. pensar que a audiência talvez "comprasse" aquele personagem?
Nimoy -
A coisa que eu mais gostava sobre o potencial do personagem era a luz interior que ele tinha, porque Gene Roddenberry me disse imediatamente que esse personagem tinha uma herança dupla, meio-humano, meio-vulcano. Havia conflito interno -tentando ser vulcano e controlando suas emoções enquanto seu lado humano ainda estava presente- e o senso de alienação -pelo fato de que, quando criança, sendo criado em Vulcano, ele não era aceito porque as outras crianças sabiam que ele era um miscigenado com uma mãe humana. Eu achei esses traços do personagem muito úteis e empolgantes para explorar como ator.

Folha - Um astrônomo chamado Donald Brownlee uma vez disse que as pessoas esperam, por conta de "Jornada nas Estrelas", que encontremos no futuro alienígenas com os quais poderemos nos relacionar. Como o sr. vê esse efeito moldando a imagem de como deveria ser um alienígena?
Nimoy -
Fico profundamente chocado em ouvir que alguém pode estar falando sobre o efeito danoso da série à ciência.


CONVENÇÃO CAPITÃO SPOCK. Quando: sábado, das 8h30 às 18h. Onde: teatro Elis Regina, no Anhembi (av. Olavo Fontoura, 1.209, São Paulo). Quanto: R$ 50 (ingressos esgotados). Na internet: www.frotaestelar.com.br.


Texto Anterior: Popload: "Kill Bill" e o metrossexual
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.