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CRÍTICA
O lendário homem sensível ataca outra vez
XICO SÁ
CRITICO DA FOLHA
OHS, essa praga inventada
pela publicidade para vender cremes e ervas finas, ataca novamente. HS vem a ser homem
sensível, um produto tão bom
quanto cerveja sem álcool, ouvir
musica new age, comer picanha
sem gordura, ser um macho sem
testosterona etc. A coisa é tão séria que apelo para a filosofia eslovena do amigo platônico Slavoj
Zizek: isso é que é hedonismo envergonhado.
Ora, essa moral norte-americana do rapaz atordoado -pulverizada sobre a lavoura transgênica
das sitcons do mundo inteiro- é
de terceira categoria. Sejamos homens, reconheçamos o triunfo
das mulheres. Lindo. Sejamos homens também ao reconhecer o
triunfo estético dos gays, que fazem a boa festa, ditam moda e
conseguem hoje maior grau de
hedonismo sem culpa.
Para não assumir uma coisa
nem outra, o discurso machista,
covarde como sempre, adotou a
tal fábula do homem atordoado.
Conta outra, velho Esopo. Pergunta se meu primo lá do parque
São Rafael (zona leste) anda perdido diante da mina gostosa que
ele conduz até o terminal São Matheus. Nem ela. Questão de classe.
Viva o nariz-de-cera. É que estreou "Sexo Frágil", sobre o assunto, na Globo. O segundo episódio vai ao ar hoje. João Falcão,
dono da história, é grande diretor
de teatro. Escreveu e dirigiu
"Muito Pelo Contrário", sua melhor peça (1981). A sua praia. Na
TV, tenta fazer o que se denomina, preconceituosamente, "produto de qualidade". Mas o rapaz
tem sustança sim.
O programa peca por cair nessa
onda de homens perdidos, como
se as mulheres também soubessem o que querem a essa altura da
vida. Sintoma de tempos quadrados que ignoram a tragédia que
somos juntos. Na boa, tudo é tragédia mesmo, e a tragédia é a
grande e bela descoberta. É o gozo
deveras. A felicidade é uma arma
quente, mas publicitária.
"Sexo Frágil" tem atores que arrebentaram no tal do cinema,
aquele que sai da "Grande Família" e vira homem na sexta, uma
confusão danada. Só não tem mulher. Os mesmos meninos fazem a
vez delas, digo, representam-nas,
sem nenhum distanciamento, diga-se. "Noooossa!," diria o finado
Costinha. Recurso ousado, diria o
também finado Elia Kazan. O que
não falta a Falcão e à talentosíssima Flávia Lacerda, que co-dirige
o programa, é aventura e coragem, resguardadas as possibilidades de uma emissora cada vez
mais conservadora, que acha que
a vida se resume a falsa sacanagem e folclore.
Sexo Frágil
Quando: hoje, às 23h05, na Globo
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