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29ª MOSTRA DE CINEMA
Retrospectiva homenageia gênio de Sjöstrom
Filmes mudos do diretor que influenciou a identidade do cinema sueco e inspirou Bergman serão exibidos na mostra
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Ele foi o realizador de alguns
dos mais belos filmes do mundo,
mas sua obra, perdida parcialmente em um incêndio, nunca
mais será conhecida em sua totalidade. Ele fez a história do cinema, mas acabou esquecido por
ela. O tempo já foi implacável com
Victor Sjöstrom, mas hoje, como
prova a retrospectiva 29ª Mostra
de Cinema, ele corre a seu favor.
O cinema falado não lhe deu
voz, mas o silêncio de Sjöstrom
revelou-se eloqüente: quase um
século depois, os seus filmes mudos são ainda capazes de nos partir o coração -obras como "Ingeborg Holm" (1913) e "A Carruagem Fantasma"(1921), que Ingmar Bergman costuma rever todos os anos na ilha de Farö.
Para quem não conhecia Sjöstrom senão como o velho ator de
"Morangos Silvestres", a retrospectiva é oportunidade única para conferir as mil faces desse artista, em obras que atestam a perenidade de seu talento tanto diante
como atrás das câmeras.
Dramas de famílias arruinadas,
corroídas pela fome e pelo preconceito, histórias de maridos relapsos prontos a se redimir, retratos de homens atormentados em
paisagens inóspitas: é no encalço
de Sjöstrom que a cinematografia
sueca constrói sua identidade.
"Ingeborg Holm" é a história de
uma mulher que perde tudo, o
marido, os filhos, a dignidade, a
razão... só não perde o seu "coração materno". Desde o princípio,
Sjöstrom afirma a originalidade
de seu olhar sobre a tradição do
melodrama oitocentista. Se opera
no mesmo registro de seus contemporâneos é para daí extrair
um humanismo todo particular,
como o libelo contra o abuso de
poder do Estado na assistência social em que "Ingeborg" resulta.
Um humanismo de caminhos
tão improváveis quanto o do velho usurário que, apaixonado,
descobre a duras penas, em "Garantia Perigosa", o que é a generosidade; ou o da virgem tuberculosa e pia que, em "Carruagem",
quer salvar o ébrio por quem está
inconscientemente apaixonada.
Com "Terje Vigen" e "O Fora-da-Lei e sua Mulher", filmes em
que cria um contraponto entre os
sentimentos dos personagens e o
contexto natural, Sjöstrom consolida a escola sueca, cuja grande
obra-prima é "O Vento e a Areia",
da fase hollywoodiana do diretor.
O fracasso comercial condenaria
Sjöstrom ao injusto e precoce esquecimento que a indústria do cinema sonoro reservou a alguns
dos grandes gênios do silêncio.
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