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30º Mostra de SP
Crítica/"Sonhos com Shangai"
Longa exibe China contraditória
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi uma vitória fácil.
O Prêmio do Júri de
Cannes-2005 dado a
"Sonhos com Shangai", de certa
forma surpreendente, deixou
de lado bons títulos de cineastas importantes, como David
Cronenberg ("Marcas da Violência"), Wim Wenders ("Estrela Solitária") e Gus Van Sant
("Last Days"), entre outros.
O júri presidido por Emir
Kusturica certamente foi seduzido pela sobriedade do longa
do chinês Wang Xiaoshuai (de
"Bicicletas de Pequim", Grande
Prêmio do Júri em Berlim-2001), que, ao tratar de uma das
temáticas mais básicas de todo
o cinema oriental -o conflito
entre o antigo e o moderno,
personificado no turbulento
relacionamento entre a jovem
Qing Hong (Yuanyuan Gao) e
seu pai (Anlian Yao)-, paulatinamente exibe todo o desconforto e as contradições que a gigante China não vende em reuniões nas quais se apresenta como "global player".
A precisão de Xiaoshuai pode
ser confundida com frieza, mas
o tom de seu filme dialoga com
obras mais intimistas de seus
pares, como "Dezessete Anos",
de Zhang Yuan, e "Nenhum a
Menos", de Zhang Yimou (antes dele se render às facilidades
do cinema de gênero).
"Sonhos com Shangai" é ambientado na distante província
de Ghizou, região para onde são
enviadas diversas famílias de
grandes centros. O governo
central pretendia desenvolver
os grotões de um país de dimensões continentais. A capital é tema de vários diálogos,
mas concretamente não passa
de um sonho não-realizado.
Qing está completamente
ambientada à cidade e vive as
turbulências típicas da idade,
que ganham tintas mais dramáticas devido à rigidez paterna.
Seu pai acredita que é um
exilado, não se furta a chamar o
local de "fim de mundo" e condena sua mulher pela opção da
mudança -aparentemente, foi
ela quem preferiu mudar-se para o interior.
De um modo mais amplo, os
próprios dilemas da modernidade da China se refletem nos
personagens. O núcleo jovem
do filme copia modismos ocidentais, tenta se rebelar contra
a severidade dos costumes locais, diverte-se em festas que
têm como trilha sonora um
rock algo brega dos anos 80.
E é uma dessas festas que
rende uma das melhores passagens de "Sonhos", quando o galã local exibe todos os seus dotes de dançarino e seduz Xiao
Zhen (Xueyang Wang), a melhor amiga de Qing. O encontro
festivo é abortado em razão de
uma briga promovida por turmas de fábricas rivais.
Esse mimetismo alinhavado
aos solavancos também acontece entre os egressos de Xangai e os "locais". O pai de Qing
condena com vigor o namoro
de sua filha com um jovem operário. Segue-a e manda que jogue fora presentes e cartas dados por ele.
Os conflitos se acirram no
terço final do filme, quando
ocorre um ato violento e inesperado. As tensões do pai de
Qing em seu ambiente de trabalho também chegam a um
ponto insustentável, e ele toma
uma decisão radical.
As manhãs cinzentas e chuvosas refletem a atmosfera nebulosa dos sentimentos dos
personagens. A tristeza que
perpassa grande parte dos fotogramas do longa dialoga muito
com os paradoxos da China,
enigmática aos olhos ocidentais e problemática para muitos
de seus habitantes.
SONHOS COM SHANGAI
Direção: Wang Xiaoshuai
Quando: hoje, às 17h30, no Espaço Unibanco 1
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