São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Crítica/"Teza"

Filme interessa apenas como autobiografia

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Prêmio Especial do Júri e o de melhor roteiro que "Teza" recebeu no último Festival de Veneza confirmam certa inclinação dos festivais em agraciar obras por seu conteúdo político, desprezando-se muitas vezes a forma como o discurso chega à tela.
O longa do etíope Haile Gerima comenta um assunto importante -a situação política da Etiópia desde os anos 70, devastada por ditaduras e guerras. Vemos esse cenário por meio de Anberber (Aaron Arefe), um idealista que retorna ao país após estudar medicina na Alemanha a fim de trazer a cura ao seu povo. Seu drama será sentir-se um quase estrangeiro.
Gerima adota uma montagem de fluxos e "flashbacks", numa estética ultra-estilizada, vasculhando por que o protagonista começa o filme atormentado e mutilado. O longa acaba "resolvendo" esse excesso com um encurtamento das seqüências, o que soa bastante tosco.
"Teza" é feito com os devidos recursos e assinado por alguém que é professor emérito em universidade de Washington.
Ou seja, a tabuada foi ensinada a Gerima. Mas, nesse embaraço por escolhas visuais semelhante ao de Anberber em seu país, parece claro que Gerima assinou um trabalho autobiográfico, o que torna "Teza" um tanto mais interessante. Ou pelo menos "digno", outro traço que os festivais em geral apreciam.


TEZA
Quando: hoje, 21h, Cine TAM; amanhã, 23h20, Espaço Unibanco Pompéia 10; dia 26, 21h50, Cine Bombril 1; dia 27, 22h, Reserva Cultural Sala 1
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: regular



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