São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

NY recebe Chanel Mobile Art

Pavilhão de exposições criado para a grife pela arquiteta Zaha Hadid desembarca no Central Park

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A bolsa 2.55 da Chanel, lançada em 1955, é um dos fetiches da moda. Em uma exposição com trabalhos de 20 artistas inspirados pelo objeto, porém, a 2.55 perdeu seu brilho para o sofisticado pavilhão criado pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid, que abriga até 9 de novembro, em Nova York, as obras do projeto Chanel Mobile Art.
Hadid, premiada em 2004 com o Pritzker, o Nobel da arquitetura, elaborou as formas fluidas e brancas do pavilhão com centenas de peças de fibra de vidro sobre um esqueleto de metal. Tudo pode ser desmontado e remontado, conforme a exposição viaja pelo mundo. Antes de chegar aos EUA, o Mobile Art já foi visto em Tóquio e Hong Kong. Depois de Nova York, segue para Londres, Moscou e Paris.
"Não tive nada a ver com a exposição que está lá dentro. A bolsa não me interessava aqui, só me importo com o exterior [do pavilhão]", afirmou o estilista Karl Lagerfeld, um dos responsáveis pela iniciativa, em encontro com jornalistas, do qual a Folha participou.
Lagerfeld contou que, ao ser procurado pela Chanel, ele disse que não teria graça usar um monte de galerias para expor trabalhos de arte. "Eu queria criar um pavilhão móvel, que pudesse ser reconstruído em várias cidades. E não havia plano B: ou Zaha Hadid fazia o projeto, ou eu perderia o interesse completamente."
Ela aceitou o convite e teve liberdade total para elaborar o pavilhão. "Zaha Hadid é a arquitetura do século 21. Ela nos livrou da feiúra e do drama da arquitetura pós-Bauhaus", disse o estilista. Na sua opinião, a tecnologia atual tornou possível tudo o que a imaginação dos arquitetos projeta.

Sonho futurista
Para Lagerfeld, nos anos 50 e 60, a arquitetura viveu um sonho futurista, mas não dispunha de tecnologia para materializar suas idéias -e citou Brasília: "Tentaram criar algo novo, mas não deu muito certo, e hoje está em péssimo estado".
Segundo o estilista, a arquitetura, como a moda, representa "o espírito de uma época". "Precisamos de roupas e precisamos de casas. Mas, ao contrário da arquitetura, a moda deve ser esquecida", declarou.
Por seu lado, Hadid disse que a ligação com a moda foi algo que a atraiu. "Gosto da forma como ela combina sex appeal e sofisticação, algo muito difícil. É importante expandir meu repertório em outras áreas."
A arquiteta contou que o desenho do pavilhão se baseou nos conceitos de velocidade e movimento. Ela destacou ainda o fato de que a estrutura interage de forma diferente em cada um dos cenários em que é montada. Atualmente, surge entre as árvores amareladas pelo outono no Central Park, com seu terraço de 128 m2 integrado ao ambiente. "Se já fosse inverno, seria diferente. Muda totalmente a experiência."
Dentro do pavilhão, a fluidez do projeto é complementada pela orientação em áudio feita pela voz rouca da atriz francesa Jeanne Moreau, que guia o passeio. Os trabalhos apresentados em Nova York foram feitos por 20 artistas de 13 países, incluindo Yoko Ono, o belga Wim Delvoye e os franceses Daniel Buren e Sophie Calle.
Em algumas obras, a inspiração da bolsa espanta pela obviedade. Há videoprojeções de mulheres nuas se espancando com bolsas ou navegando em cima de uma 2.55. Outros trabalhos são mais sutis, como a câmara escura do argentino Leandro Erlich, com poças de água refletindo uma cidade, ou uma animação de insetos projetada em uma estrutura em cone, da japonesa Tabaimo.
As primeiras críticas nos EUA, apesar de elogiosas à arquitetura, não foram nada simpáticas à exposição. "O formato enrolado do pavilhão, no qual visitantes entram em uma espiral cada vez mais profunda em direção a um buraco negro de arte ruim e tentações superficiais (...) é uma elaborada ratoeira para consumidores", disse o "New York Times".


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