|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
NY recebe Chanel Mobile Art
Pavilhão de exposições criado para a grife pela arquiteta Zaha Hadid desembarca no Central Park
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
A bolsa 2.55 da Chanel, lançada em 1955, é um dos fetiches
da moda. Em uma exposição
com trabalhos de 20 artistas
inspirados pelo objeto, porém,
a 2.55 perdeu seu brilho para o
sofisticado pavilhão criado pela
arquiteta iraquiana Zaha Hadid, que abriga até 9 de novembro, em Nova York, as obras do
projeto Chanel Mobile Art.
Hadid, premiada em 2004
com o Pritzker, o Nobel da arquitetura, elaborou as formas
fluidas e brancas do pavilhão
com centenas de peças de fibra
de vidro sobre um esqueleto de
metal. Tudo pode ser desmontado e remontado, conforme a
exposição viaja pelo mundo.
Antes de chegar aos EUA, o
Mobile Art já foi visto em Tóquio e Hong Kong. Depois de
Nova York, segue para Londres, Moscou e Paris.
"Não tive nada a ver com a
exposição que está lá dentro. A
bolsa não me interessava aqui,
só me importo com o exterior
[do pavilhão]", afirmou o estilista Karl Lagerfeld, um dos
responsáveis pela iniciativa,
em encontro com jornalistas,
do qual a Folha participou.
Lagerfeld contou que, ao ser
procurado pela Chanel, ele disse que não teria graça usar um
monte de galerias para expor
trabalhos de arte. "Eu queria
criar um pavilhão móvel, que
pudesse ser reconstruído em
várias cidades. E não havia plano B: ou Zaha Hadid fazia o
projeto, ou eu perderia o interesse completamente."
Ela aceitou o convite e teve
liberdade total para elaborar o
pavilhão. "Zaha Hadid é a arquitetura do século 21. Ela nos
livrou da feiúra e do drama da
arquitetura pós-Bauhaus", disse o estilista. Na sua opinião, a
tecnologia atual tornou possível tudo o que a imaginação dos
arquitetos projeta.
Sonho futurista
Para Lagerfeld, nos anos 50 e
60, a arquitetura viveu um sonho futurista, mas não dispunha de tecnologia para materializar suas idéias -e citou
Brasília: "Tentaram criar algo
novo, mas não deu muito certo,
e hoje está em péssimo estado".
Segundo o estilista, a arquitetura, como a moda, representa
"o espírito de uma época".
"Precisamos de roupas e precisamos de casas. Mas, ao contrário da arquitetura, a moda deve
ser esquecida", declarou.
Por seu lado, Hadid disse que
a ligação com a moda foi algo
que a atraiu. "Gosto da forma
como ela combina sex appeal e
sofisticação, algo muito difícil.
É importante expandir meu repertório em outras áreas."
A arquiteta contou que o desenho do pavilhão se baseou
nos conceitos de velocidade e
movimento. Ela destacou ainda
o fato de que a estrutura interage de forma diferente em cada
um dos cenários em que é montada. Atualmente, surge entre
as árvores amareladas pelo outono no Central Park, com seu
terraço de 128 m2 integrado ao
ambiente. "Se já fosse inverno,
seria diferente. Muda totalmente a experiência."
Dentro do pavilhão, a fluidez
do projeto é complementada
pela orientação em áudio feita
pela voz rouca da atriz francesa
Jeanne Moreau, que guia o
passeio. Os trabalhos apresentados em Nova York foram feitos por 20 artistas de 13 países,
incluindo Yoko Ono, o belga
Wim Delvoye e os franceses
Daniel Buren e Sophie Calle.
Em algumas obras, a inspiração da bolsa espanta pela obviedade. Há videoprojeções de
mulheres nuas se espancando
com bolsas ou navegando em
cima de uma 2.55. Outros trabalhos são mais sutis, como a
câmara escura do argentino
Leandro Erlich, com poças de
água refletindo uma cidade, ou
uma animação de insetos projetada em uma estrutura em
cone, da japonesa Tabaimo.
As primeiras críticas nos
EUA, apesar de elogiosas à arquitetura, não foram nada simpáticas à exposição. "O formato
enrolado do pavilhão, no qual
visitantes entram em uma espiral cada vez mais profunda
em direção a um buraco negro
de arte ruim e tentações superficiais (...) é uma elaborada ratoeira para consumidores", disse o "New York Times".
Texto Anterior: Crítica/"Eu Quero Ver": Filme nos ajuda a enxergar aquilo que não vemos mais Próximo Texto: Fast fashion Índice
|