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Ferragamo exibe sua história
Relações do fundador da grife com
as estrelas de Hollywood são destaque em megamostra na Triennale de Milão
Pola Negri comprava vários
pares de um mesmo sapato
porque detestava limpá-los.
Mary Pickford tinha pés minúsculos, como os de uma menina. Os de Audrey Hepburn
eram longos e esguios, em perfeita sintonia com sua altura.
Essas e outras histórias dos
pés de atrizes famosas de
Hollywood pontuam uma
grande exposição na Triennale
de Milão (Itália) que apresenta,
até o próximo dia 9, a extraordinária contribuição de Salvatore
Ferragamo para a história dos
calçados no século 20.
A exibição é parte das comemorações dos 80 anos de fundação da marca -que, no dia 6,
abre a sua quinta loja no Brasil,
no shopping Cidade Jardim.
Um dos méritos da mostra é
ressaltar a importância da relação de Ferragamo (1898-1960)
com o cinema -particularmente com Hollywood. Ainda
adolescente, ele desembarca
em 1915, nos EUA, e segue para
a Califórnia. O cinema balbucia, mas Ferragamo já é convocado por pioneiros da "sétima
arte", como David Griffith e Cecil B. DeMille, para criar calçados para os filmes mudos.
Nos anos 20, ele se tornará
um dos sapateiros prediletos
das primeiras divas hollywoodianas, como Paulette Godard e
Greta Garbo. Mesmo após o seu
retorno à Itália, em 1928, as estrelas não abandonarão Ferragamo. Ele desenhará calçados
para Rita Hayworth, Ava Gardner, Marilyn Monroe, Carmen
Miranda e até para celebridades políticas, como Evita.
As relações com o cinema
também não se extinguem após
a morte de Salvatore. A grife assinou criações para filmes recentes de Wim Wenders e Steven Spielberg, entre outros.
Centenas destes calçados estão expostos na Triennale, que
exibe ainda bolsas e outros
acessórios criados por Ferragamo, e croquis e modelos feitos
pela filha mais velha do patriarca, Fiamma.
Os objetos vieram do acervo
da grife em Florença, com cerca
de 10 mil itens. Além deles, a
mostra exibe um ateliê de confecção artesanal de sapatos e
obras de artistas contemporâneos, como Vanessa Beecroft,
inspiradas em ícones da grife.
Moda está desorientada, diz matriarca
Já pelo próprio título, a exposição "Salvatore Ferragamo -Expandindo a Lenda, 1928 -2008", na Triennale, demonstra o interesse da grife em não
fazer apenas uma retrospectiva
de sua história.
Busca também enfatizar os
seus laços com as inovações
técnicas do século 20 e do início
do 21, a força atual da marca e
as suas perspectivas futuras.
Para assegurar o vigor do mito, em setembro o clã Ferragamo compareceu em peso ao
desfile do prêt-à-porter da grife
na semana de Milão e, depois, à
abertura da mostra.
No centro das atenções, estava a matriarca da família e presidente da empresa, Wanda
Ferragamo, que foi quem assumiu os negócios após a morte
de seu marido, em 1960.
Na Triennale lotada, uma
longa fila de convidados se formou para cumprimentá-la.
"Estou muito emocionada com
esta homenagem que Milão
presta a Salvatore", disse ela à
Folha, em breve conversa, após
o beija-mão do empresário Vittorio Missoni.
Wanda contou que, entre todas as atrizes que passaram pelo ateliê de seu marido, a que
mais a cativou foi Audrey Hepburn. "Creio que já estava um
pouco doente quando a vi, mas
era uma mulher elegantíssima,
tinha um estilo fantástico e era
muito carinhosa."
Indagada sobre a moda atual,
a matriarca não hesitou: "A moda está desorientada atualmente, as pessoas não sabem o que
fazer, falta uma grande linha
condutora".
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