São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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Calçada da lama

"A Fazenda 3", da Record, bate a Globo no Ibope com nova fórmula de compor elenco de subcelebridades

LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL A ITU

O clima está pesado, todo mundo grita, fala palavrão, e a hélice amarela gira sem parar em cima do boné vermelho de Sérgio Mallandro.
A "Fazenda 3", um "Big Brother" rural com subcelebridades, está dando o que falar com seu elenco inacreditável. A família formada -que, além de Mallandro, tem figuras como o ex-jogador Viola e a expulsa da Uniban Geisy Arruda- mal começou e já coloca a Record à frente da Globo no Ibope.
Enquanto, em fase inicial, a "Fazenda 1" teve 13 pontos e a segunda, 11, esta ultrapassa 15 de média, com picos de até 23 pontos (1,38 milhão de domicílios na Grande SP).
O R7, portal da Record, chegou à demanda de 6.000 e-mails por hora ao liberar o acesso ao programa, ao vivo, a quem se cadastrasse.
Não basta dizer que o público adora barraco para explicar esse sucesso. Não que ele não goste, claro, mas esta edição de "A Fazenda" traz uma nova fórmula na busca por atrair audiência.
A receita foi elaborada por Rodrigo Carelli, principal diretor de realities fora da Globo. Seu know-how data do início da década, quando lançou a "Casa dos Artistas", que fez a Globo antecipar a estreia do "Big Brother 1" ao ver o "Fantástico" perder feio para o SBT no Ibope.
Desde então, com as outras edições da "Casa" e agora as da "Fazenda", ele se aprimorou na escolha dos famosos a serem confinados.
Antes, baseado em seu faro e nas manchetes de sites e revistas de fofoca, Carelli definia os nomes e os escalava.
Desta vez foi diferente. Fez uma lista de 50 nomes -ainda definidos por faro e mídia de fofocas. Seus produtores foram à casa desses candidatos a candidatos, conheceram suas famílias, amigos e os entrevistaram quantas vezes acharam necessário.
O objetivo "foi ver o potencial que a pessoa tinha de mostrar no programa uma imagem diferente da que o público espera", disse Carelli, nos bastidores da "Fazenda", em Itu (para onde a Folha foi em carro da Record, por exigência do canal).
Na receita, "a personalidade acaba sendo mais importante do que o nível de fama". "Óbvio que é importante ser famosa, até porque é preciso que o público tenha uma expectativa sobre o comportamento da pessoa."
Expectativa que, quanto mais for quebrada, melhor para o show. E está aí uma ironia nessa guerra de ibope.
Com a "Fazenda", a Record rouba pontos da Globo ao desconstruir a imagem de artistas. É a estratégia inversamente proporcional à da Globo de construir e manter a todo custo a imagem de seu quadro -é isso que a faz resistir a produzir um "Big Brother" com celebridades.
Além de avaliar quem tem mais potencial de surpreender a audiência, Carelli procurou elaborar um caldo de diferentes personalidades.
Nesse ponto, a seleção se aproximou da do "Big Brother", que busca detectar em anônimos o potencial que terão de desempenhar papéis de "mocinho", "vilão" etc.

MANIPULAÇÃO
Elenco escolhido, é preciso buscar meios para ajudar o famoso a fazer o caminho entre sua imagem pré-reality show e seu lado B. Aí, diretor e cia. põem em prática seu lado mais perverso -se é que o termo vale quando subcelebridades são confinadas em troca de cachê...
Regras e provas são criadas a fim de colocá-los contra a parede. E jogar um contra o outro o mais rápido possível.
Logo na estreia de "A Fazenda", no fim de setembro, Monique Evans foi sorteada para escolher, à queima-roupa: "Quem você acha que não deve ganhar um carro zero no valor de R$ 100 mil?",
"Sérgio Mallandro", entregou, de sopetão, o "velho amigo". Não precisava mais nada para que o palhaço do glu-glu/ié-ié virasse o bicho, com boné de hélice e tudo. E para que a ex-modelo tida como tia bacana surtasse.
Entre um barraco e outro, a Mulher Melancia rebola e, com a sua ferramenta de trabalho, nocauteia a cabeça do cantor Tico Santa Cruz.


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