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CINEMA
Diretor abre programa Folha Documenta com filme sobre tráfico no Rio e fala de sua desavença com o prefeito Cesar Maia
João Salles debate suas guerras particulares
DA REPORTAGEM LOCAL
O Rio de Janeiro do final dos
anos 90 que os cineastas João Moreira Salles e Katia Lund documentaram em "Notícias de uma
Guerra Particular" (1999) não é
outro hoje.
A atualidade da obra -que
inaugura nesta noite o programa
regular de exibição de documentários Folha Documenta, no Cine
Bombril- "não é uma virtude do
filme, mas um defeito da realidade", diz Moreira Salles.
O diretor virá a São Paulo, para
debate com a platéia, após a sessão. "Notícias de uma Guerra Particular" aborda o beco sem saída
no qual se enfileiram o tráfico de
drogas, a repressão policial e a juventude das favelas -seduzida
pelo crime, à falta de alternativa
melhor para lhes garantir uma
perspectiva de futuro.
Se os espectadores quiserem, no
entanto, discutir a guerra particular que Moreira Salles trava atualmente, pelas páginas da Folha,
com o prefeito do Rio, Cesar Maia
(PFL), em torno de seu mais recente documentário, "Entreatos"
(2004), o cineasta não tentará escapar do assunto.
Maia acusou Moreira Salles de
agir como censor de si mesmo ao
negar o relançamento nos cinemas de "Entreatos" (2004), documentário que registra a campanha presidencial de Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2002.
Moreira Salles identificou na
atitude do prefeito "propósitos
eleitoreiros", conforme explicitou
em sua resposta ("Cesar Maia
(não) vai ao cinema", "Tendências e Debates", 22/11).
Para o público do Folha Documenta, o diretor acredita ser outro o ângulo de interesse nessa
questão: "Esse projeto existe para
discutir documentário. Discutir
documentário é também, e talvez
até sobretudo, discutir a natureza
da relação do documentarista
com a pessoa que ele filma", diz.
Moreira Salles afirma que "independentemente de filmar o adversário ou o herói, a natureza da
relação é a mesma e pressupõe
que você não seja desleal".
Na opinião do documentarista,
esse pressuposto é a raiz da distinção entre o cinema de ficção e o
documental. "O que define nossa
profissão é o fato de fazermos um
filme no qual há um compromisso de natureza ética que liga o documentarista ao documentado."
Ainda que o compromisso
eventualmente não seja respeitado, isso não elimina sua existência, como lembra o diretor: "Você
pode infringi-lo, tocaiar o seu documentado, fazer um filme contra
ele, ser desleal, mas o que está no
centro da questão do documentário é esse problema essencialmente ético. Cada um vai resolvê-lo à
sua maneira. Eu resolvo desta".
Promover o encontro de documentaristas com seu público é um
dos vetores do programa Folha
Documenta, idealizado pelo exibidor Adhemar Oliveira.
Cada título, inédito ou em reestréia, ficará duas semanas em cartaz, com uma sessão diária no Cine Bombril, às 18h. O preço é promocional: R$ 8 (inteira) e R$ 6 para assinantes da Folha. Hoje, excepcionalmente, a entrada é franca, e a sessão começa às 19h30.
Farão parte da programação títulos estrangeiros e nacionais. No
caso dos brasileiros, Oliveira espera que o programa contribua
para aumentar a visibilidade "de
uma produção enorme, sem escoamento adequado nos cinemas
e na TV".
(SILVANA ARANTES)
Folha Documenta - "Notícias de uma Guerra Particular"
O quê: exibição do filme, seguida de
debate com o diretor João Moreira Salles
Quando: hoje, às 19h30
Onde: Cine Bombril (av. Paulista, 2.073,
Conjunto Nacional, tel. 0/xx/11/3285-3696)
Quanto: grátis (senhas distribuídas a
partir das 19h, no local)
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