São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Diretor abre programa Folha Documenta com filme sobre tráfico no Rio e fala de sua desavença com o prefeito Cesar Maia

João Salles debate suas guerras particulares

DA REPORTAGEM LOCAL

O Rio de Janeiro do final dos anos 90 que os cineastas João Moreira Salles e Katia Lund documentaram em "Notícias de uma Guerra Particular" (1999) não é outro hoje.
A atualidade da obra -que inaugura nesta noite o programa regular de exibição de documentários Folha Documenta, no Cine Bombril- "não é uma virtude do filme, mas um defeito da realidade", diz Moreira Salles.
O diretor virá a São Paulo, para debate com a platéia, após a sessão. "Notícias de uma Guerra Particular" aborda o beco sem saída no qual se enfileiram o tráfico de drogas, a repressão policial e a juventude das favelas -seduzida pelo crime, à falta de alternativa melhor para lhes garantir uma perspectiva de futuro.
Se os espectadores quiserem, no entanto, discutir a guerra particular que Moreira Salles trava atualmente, pelas páginas da Folha, com o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), em torno de seu mais recente documentário, "Entreatos" (2004), o cineasta não tentará escapar do assunto.
Maia acusou Moreira Salles de agir como censor de si mesmo ao negar o relançamento nos cinemas de "Entreatos" (2004), documentário que registra a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
Moreira Salles identificou na atitude do prefeito "propósitos eleitoreiros", conforme explicitou em sua resposta ("Cesar Maia (não) vai ao cinema", "Tendências e Debates", 22/11).
Para o público do Folha Documenta, o diretor acredita ser outro o ângulo de interesse nessa questão: "Esse projeto existe para discutir documentário. Discutir documentário é também, e talvez até sobretudo, discutir a natureza da relação do documentarista com a pessoa que ele filma", diz.
Moreira Salles afirma que "independentemente de filmar o adversário ou o herói, a natureza da relação é a mesma e pressupõe que você não seja desleal".
Na opinião do documentarista, esse pressuposto é a raiz da distinção entre o cinema de ficção e o documental. "O que define nossa profissão é o fato de fazermos um filme no qual há um compromisso de natureza ética que liga o documentarista ao documentado."
Ainda que o compromisso eventualmente não seja respeitado, isso não elimina sua existência, como lembra o diretor: "Você pode infringi-lo, tocaiar o seu documentado, fazer um filme contra ele, ser desleal, mas o que está no centro da questão do documentário é esse problema essencialmente ético. Cada um vai resolvê-lo à sua maneira. Eu resolvo desta".
Promover o encontro de documentaristas com seu público é um dos vetores do programa Folha Documenta, idealizado pelo exibidor Adhemar Oliveira.
Cada título, inédito ou em reestréia, ficará duas semanas em cartaz, com uma sessão diária no Cine Bombril, às 18h. O preço é promocional: R$ 8 (inteira) e R$ 6 para assinantes da Folha. Hoje, excepcionalmente, a entrada é franca, e a sessão começa às 19h30.
Farão parte da programação títulos estrangeiros e nacionais. No caso dos brasileiros, Oliveira espera que o programa contribua para aumentar a visibilidade "de uma produção enorme, sem escoamento adequado nos cinemas e na TV". (SILVANA ARANTES)

Folha Documenta - "Notícias de uma Guerra Particular"
O quê:
exibição do filme, seguida de debate com o diretor João Moreira Salles
Quando: hoje, às 19h30
Onde: Cine Bombril (av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, tel. 0/xx/11/3285-3696)
Quanto: grátis (senhas distribuídas a partir das 19h, no local)


Texto Anterior: Evento: Folha realiza sabatina com Paulo Autran
Próximo Texto: Erudito: Ressurge ópera esquecida de Carlos Gomes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.