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ERUDITO
"Condor", condensada ópera de tenor, não era apresentada no Teatro Municipal paulistano desde a década de 20
Ressurge ópera esquecida de Carlos Gomes
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Condor", a última ópera escrita por Carlos Gomes (1836-1896),
estréia amanhã no Teatro Municipal, onde não é montada desde a
década de 20. É uma produção do
Festival Amazonas de Ópera, que
a encenou em 2002.
As cinco récitas serão regidas
por Luiz Fernando Malheiro, diretor artístico do festival. A direção cênica é de Caetano Vilela. No
elenco, estão Marcelo Vannucci
(Condor), Eiko Senda (Odalea),
Solange Siquerolli (Adin), José
Gallisa (Almazor), Sílvia Tessuto
(Zuleida) e Carlos Eduardo Marcos (Mufti). A história se passa em
Samarcanda, no Uzbequistão, e
traz os ingredientes exóticos que
os italianos atribuíam ao islamismo oriental no final do século 19.
Condor não é o pássaro dos Andes. É um aventureiro -em verdade, o filho de um sultão-, que
se apaixona pela rainha Odalea e,
por ela, sacrifica sua vida no final
do terceiro ato. O enredo é relativamente simples, com a clássica
mistura de política com história
de amor de desfecho infeliz.
A ópera estreou no Scala de Milão em fevereiro de 1991. Carlos
Gomes já era um dos grandes da
produção lírica italiana, desde "Il
Guarany", 21 anos antes. Mas
"Condor" foi um relativo fracasso. Não pela falta de qualidades
cênicas ou musicais. Mas porque
se discutia a sucessão de Giuseppe
Verdi (que morreria dez anos depois) e um poderoso lobby nacionalista não queria que o eleito fosse um mulato brasileiro.
Eis trechos da entrevista do
maestro Malheiro à Folha.
Folha - Como última ópera, "Condor" teria a dimensão de síntese?
Luiz Fernando Malheiro - Carlos
Gomes passou a vida procurando
novos caminhos. Dele se escreveu
certa vez que sua vida não acabou;
foi interrompida. "Condor" caminha a todo galope para o verismo [escola naturalista italiana].
Ela aponta na direção do caminho
que seria trilhado por Mascagni,
por Puccini.
Folha - Carlos Gomes lança mão
do orientalismo, que Puccini usaria
na "Butterfly" e em "Turdandot".
Malheiro - Era uma questão de
moda, na época. Os libretos não
tinham muita preocupação histórica, desde que se prestassem para
escrever boa música.
Folha - E "Condor", como é musicalmente?
Malheiro - É uma ópera muito
concisa, muito estruturada. Os temas são muito mais desenvolvidos. É de uma beleza impressionante. Aquela criatividade melódica que Carlos Gomes sempre teve é explorada de maneira mais
enxuta. É uma ópera curta, com
menos de duas horas de música.
Folha - Não há também o acerto
da melodia com o registro de voz,
ou com o tipo de voz dentro do registro?
Malheiro - Carlos Gomes era
muito interessado em voz. Gostava também de cantar. Contam
que ele fazia torneios de agudos
com os amigos. "Condor" é uma
ópera de tenor, sem dúvida.
Folha - Carlos Gomes também
adota a música contínua, com apenas duas árias. Já não é como em
"Falstaff", de Verdi?
Malheiro - Ele já havia adotado
essa forma de escrita em "Maria
Tudor". Há o monólogo que viria
com Ponchielli. Carlos Gomes já
procurava havia tempos fugir dos
padrões da ária. "Condor" é um
poema vocal e sinfônico.
Folha - Pode-se dizer que em
"Condor" o enredo seja pequeno
em relação à grandeza da música?
Malheiro - Quando regi a ópera
em Manaus, discutiam-se muito
as diferenças culturais, o que é
próprio à mulher muçulmana, toda vestida, toda presa e excluída
do universo masculino. Por questões políticas, as discussões sobre
as diferenças estão ainda em voga.
Folha - O sr. regeu neste ano as
quatro óperas do "Ring", de Richard Wagner. Depois dele, tudo
não parece mais fácil?
Malheiro - Pensei nisso esses
dias. Depois do "Ring", eu regi a
"Traviata", do Verdi, na Espanha,
que me pareceu circunstancialmente menos interessante. Com o
"Condor" já não tenho essa sensação. Há o desafio de não ter parâmetros de interpretação. A gente mexe com alguma coisa que
não tem uma concepção definitiva, que estou trazendo à luz.
Condor
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/n, tel. 0/xx/11/3222-8698)
Quando: amanhã e terça, 1º e 3 de
dezembro, às 20h30; dom., às 17h
Quanto: de R$ 40 a R$ 80, de R$ 10 a R$
30 (no dia 1º)
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