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Bar preserva clima borgeano em Buenos Aires
DA ENVIADA A BUENOS AIRES
Os subúrbios da capital argentina sempre tiveram a preferência de Borges. De forma
visionária, ele parece ter previsto, em versos como os de
"Fervor de Buenos Aires"
(1923), que os bairros afastados
sobreviveriam melhor à passagem dos anos do que o centro.
Em "Las Calles", dizia: "As
ruas de Buenos Aires/ já são
minhas entranhas/ Não as ávidas ruas,/ incômodas de gente e
de bulício,/ mas as ruas indolentes do bairro,/ quase invisíveis de tão usuais,/ enternecidas de penumbra e de ocaso".
O escritor certamente se assustaria com a transformação
do bairro em que passou anos
de sua infância, Palermo. Naquela época, um típico arrabalde, hoje abriga lojas de grife e
caros restaurantes.
Para encontrar as ruas de casinhas simples que Borges gostava de percorrer, a reportagem
da Folha visitou Barracas,
bairro de trabalhadores ao sul
da cidade. Ali, o bar El Progreso, fundado em 1942, que o escritor costumava freqüentar,
resiste ainda à moda antiga,
com poucos e silenciosos clientes, que passam horas lendo
jornais ou fumando. Com um
pouco de esforço, a paisagem
ajuda a visualizar impressões
do autor como: "O arrabalde é o
reflexo de nosso tédio".
Mas Barracas tampouco será
poupada da expansão de Buenos Aires. O mesmo processo
urbanístico por que passou Palermo repete-se agora ali. Novas casas a partir das antigas
estruturas, restaurantes e lojas
descolados já começam a pipocar por sua paisagem gris.
Já no centro, os locais borgeanos guardam pouco mais do
que uma placa lembrando os
tempos do escritor, como acontece no edifício em que viveu
na rua Maipú.
Já a antiga Biblioteca Nacional, em Santelmo, da qual Borges foi diretor, já não guarda livros e acolhe eventos de escolas públicas. Na última quarta,
o escritório do autor estava
atolado de instrumentos musicais de crianças. "Não temos
onde colocar, mas é temporário", disse uma funcionária.
Um lugar que vale a pena ser
visitado é o museu Xul Solar
(1887-1963), antiga residência
do artista plástico de quem
Borges foi muito amigo. Ali está preservada, como na época, a
sala de jantar onde ambos costumavam se encontrar para
conversar seus devaneios.
(SC)
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