São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bar preserva clima borgeano em Buenos Aires

DA ENVIADA A BUENOS AIRES

Os subúrbios da capital argentina sempre tiveram a preferência de Borges. De forma visionária, ele parece ter previsto, em versos como os de "Fervor de Buenos Aires" (1923), que os bairros afastados sobreviveriam melhor à passagem dos anos do que o centro.
Em "Las Calles", dizia: "As ruas de Buenos Aires/ já são minhas entranhas/ Não as ávidas ruas,/ incômodas de gente e de bulício,/ mas as ruas indolentes do bairro,/ quase invisíveis de tão usuais,/ enternecidas de penumbra e de ocaso".
O escritor certamente se assustaria com a transformação do bairro em que passou anos de sua infância, Palermo. Naquela época, um típico arrabalde, hoje abriga lojas de grife e caros restaurantes.
Para encontrar as ruas de casinhas simples que Borges gostava de percorrer, a reportagem da Folha visitou Barracas, bairro de trabalhadores ao sul da cidade. Ali, o bar El Progreso, fundado em 1942, que o escritor costumava freqüentar, resiste ainda à moda antiga, com poucos e silenciosos clientes, que passam horas lendo jornais ou fumando. Com um pouco de esforço, a paisagem ajuda a visualizar impressões do autor como: "O arrabalde é o reflexo de nosso tédio".
Mas Barracas tampouco será poupada da expansão de Buenos Aires. O mesmo processo urbanístico por que passou Palermo repete-se agora ali. Novas casas a partir das antigas estruturas, restaurantes e lojas descolados já começam a pipocar por sua paisagem gris.
Já no centro, os locais borgeanos guardam pouco mais do que uma placa lembrando os tempos do escritor, como acontece no edifício em que viveu na rua Maipú.
Já a antiga Biblioteca Nacional, em Santelmo, da qual Borges foi diretor, já não guarda livros e acolhe eventos de escolas públicas. Na última quarta, o escritório do autor estava atolado de instrumentos musicais de crianças. "Não temos onde colocar, mas é temporário", disse uma funcionária.
Um lugar que vale a pena ser visitado é o museu Xul Solar (1887-1963), antiga residência do artista plástico de quem Borges foi muito amigo. Ali está preservada, como na época, a sala de jantar onde ambos costumavam se encontrar para conversar seus devaneios. (SC)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Exposição e leituras lembram argentino
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.