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Guinada editorial do caderno foi nos anos 80
Para Gonçalves, aos poucos o leitor-cidadão deu espaço ao leitor-consumidor
Hoje, as novas mídias e o aumento quantitativo
da produção cultural
estão transformando
o perfil do caderno
DA REPORTAGEM LOCAL
A grande virada do perfil editorial da Ilustrada aconteceu
nos anos 80 e estava relacionada ao novo momento político
do país. Foram os anos da democratização e do movimento
pelas Diretas-Já.
A Folha começou a informatizar-se, e o suplemento foi o
primeiro a trabalhar com as
novas máquinas -que hoje parecem dinossauros perto dos
equipamentos atuais.
A agilidade para a produção
diária foi acompanhada pela
chegada ao jornal de uma nova
geração de profissionais.
Contrários ao velho nacionalismo da esquerda cultural e
antenados no que acontecia no
pop internacional e no cinema
norte-americano, começaram
a dar mais atenção para a cultura de mercado, que aparecia no
caderno convivendo com temas "cult".
A Ilustrada entrou nos anos
90 incorporando as mudanças
da história do Brasil. "Encerrou-se o ciclo da redemocratizão. O país se normalizou e os
leitores foram ficando mais individualistas", avalia Gonçalves. O caderno passou a lidar
com um aumento quantitativo
crescente dos assuntos a serem
editados. E a concorrência com
a internet e seu próprio conteúdo passaram a fazer parte
do dia-a-dia.
Gonçalves identifica nesse
processo o declínio do que chama de "leitor-cidadão", cuja
principal preocupação era o futuro político do país, e a ascensão do "leitor-consumidor",
cuja agenda volta-se para o lazer e o bem-estar.
De certo modo, a Ilustrada
voltou então a ser um caderno
de "variedades". Só que hoje a
antiga "salada russa" ficou
mais sofisticada e criteriosa
-com noticiário e serviços voltados a áreas como moda, comida e a própria internet.
A interface política segue
existindo, mas acabaram os
"pacotes" ideológicos do passado, bem exemplificados pelo
jornalista Miguel de Almeida,
que foi repórter do caderno nos
anos 80: "Naquela época, você
não podia falar mal do Chico
Buarque porque você era a favor da ditadura. Não podia falar
bem do Roberto Carlos porque
você era de direita".
Mas será que ficou mais fácil
fazer a Ilustrada?
Gonçalves, que editou o caderno nos anos 80 e voltou ao
posto há dois anos, diz: "Hoje é
mais difícil identificar tendências majoritárias e escolher assuntos. Por outro lado, a cobrança ideológica arrefeceu, e
há mais liberdade -além de ter
ficado mais divertido".
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