São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Guinada editorial do caderno foi nos anos 80

Para Gonçalves, aos poucos o leitor-cidadão deu espaço ao leitor-consumidor

Hoje, as novas mídias e o aumento quantitativo da produção cultural estão transformando o perfil do caderno

DA REPORTAGEM LOCAL

A grande virada do perfil editorial da Ilustrada aconteceu nos anos 80 e estava relacionada ao novo momento político do país. Foram os anos da democratização e do movimento pelas Diretas-Já.
A Folha começou a informatizar-se, e o suplemento foi o primeiro a trabalhar com as novas máquinas -que hoje parecem dinossauros perto dos equipamentos atuais.
A agilidade para a produção diária foi acompanhada pela chegada ao jornal de uma nova geração de profissionais.
Contrários ao velho nacionalismo da esquerda cultural e antenados no que acontecia no pop internacional e no cinema norte-americano, começaram a dar mais atenção para a cultura de mercado, que aparecia no caderno convivendo com temas "cult".
A Ilustrada entrou nos anos 90 incorporando as mudanças da história do Brasil. "Encerrou-se o ciclo da redemocratizão. O país se normalizou e os leitores foram ficando mais individualistas", avalia Gonçalves. O caderno passou a lidar com um aumento quantitativo crescente dos assuntos a serem editados. E a concorrência com a internet e seu próprio conteúdo passaram a fazer parte do dia-a-dia.
Gonçalves identifica nesse processo o declínio do que chama de "leitor-cidadão", cuja principal preocupação era o futuro político do país, e a ascensão do "leitor-consumidor", cuja agenda volta-se para o lazer e o bem-estar.
De certo modo, a Ilustrada voltou então a ser um caderno de "variedades". Só que hoje a antiga "salada russa" ficou mais sofisticada e criteriosa -com noticiário e serviços voltados a áreas como moda, comida e a própria internet.
A interface política segue existindo, mas acabaram os "pacotes" ideológicos do passado, bem exemplificados pelo jornalista Miguel de Almeida, que foi repórter do caderno nos anos 80: "Naquela época, você não podia falar mal do Chico Buarque porque você era a favor da ditadura. Não podia falar bem do Roberto Carlos porque você era de direita".
Mas será que ficou mais fácil fazer a Ilustrada?
Gonçalves, que editou o caderno nos anos 80 e voltou ao posto há dois anos, diz: "Hoje é mais difícil identificar tendências majoritárias e escolher assuntos. Por outro lado, a cobrança ideológica arrefeceu, e há mais liberdade -além de ter ficado mais divertido".


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