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CRÍTICA ROCK
Forte emoção supera
deslizes do repertório
de Paul McCartney
Ameaçado pela chuva, segundo show do ex-Beatle em
São Paulo empolga mais 64 mil pessoas no Morumbi
THALES DE MENEZES
EDITOR-INTERINO DA SÃO PAULO
A lua cheia que iluminou a
primeira apresentação de
Paul McCartney em São Paulo ficou escondida na noite
seguinte. Mas pelo menos a
chuva que atrapalhou a ida
ao estádio do Morumbi anteontem deu trégua ao público pouco tempo depois da
entrada do astro no palco,
garantindo duas horas e
meia de festa quase seca.
Além da mudança climática e da troca da música de
abertura (a boa "Venus and
Mars" no domingo, a ótima
"Magical Mystery Tour" na
segunda-feira), os dois
shows foram idênticos.
Muita emoção nos gigantescos karaokês em que se
transformaram as canções
dos Beatles, e muito carinho
da plateia quando Paul tocou
as músicas mais fracas.
Por repertório mais fraco
entenda-se sua produção solo depois de 1977 e os deslizes
bregas dos Beatles, como
"Long and Winding Road" e
"Blackbird". Essas escolhas
fazem a primeira parte do
show empolgar menos.
Nesse início, o público pode se preocupar apenas em
olhar para o palco e ter certeza que um dos homens que
ajudaram a moldar suas vidas está realmente ali.
Nem compensa mais comentar a atitude de devoção
completa do público, a beleza de ver famílias inteiras
(pais, filhos e netos) compartilhando o show ou a simpatia do cantor (embora até o fã
xiita concorde que ele repete
demais textinhos como "tudo ótimo, paulistas?").
Não é show, é celebração.
Tanto o astro como seus fãs
estão reféns de quatro décadas ouvindo hinos sagrados
do pop. Paul, aos 68 anos,
não pode se atrever a fazer
shows sem os hits, e o público comparece porque sabe
que não terá surpresas.
O cantor abusa da máxima
"em time que está ganhando
não se mexe". As músicas recebem versões lindas, mas
conservadoras. Além do respeito absoluto aos arranjos
originais dos discos dos Beatles (é isso que o povo quer,
certo?), nem os bons momentos da fase Wings, como "Jet"
e "Live and Let Die", mostram qualquer arrojo.
A banda não ajuda. Guitarristas duros de munheca
quase estragam frases melódicas perfeitas. O baterista é
figuraça, mas só isso. Vale
lembrar que Paul está acostumado a trabalhar com músicos nada brilhantes. Afinal,
Linda tocava no Wings.
Nas homenagens ao colegas mortos, o resultado é um
empate. "Something", com
fotos de George Harrison no
telão, colou bem. Emociona.
Já os momentos de citação
a John Lennon não emplacam, tanto na adocicada
"Here Today" (ode ao parceira lançada em 1982) como
nos versos de "Give Piece a
Chance", uma escolha muito
"Yoko" que soa forçada.
Mas aí surge o tsunami
emocional que é a sequência
final: "Paperback Writer", "A
Day in the Life", "Let It Be",
"Hey Jude", "Day Tripper",
"Lady Madonna", "Get
Back", "Yesterday", "Helter
Skelter" e "Sgt. Pepper's".
Não há crítico ranzinza
que resista a cair no karaokê.
PAUL McCARTNEY
AVALIAÇÃO bom
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