São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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CRÍTICA ROCK

Forte emoção supera deslizes do repertório de Paul McCartney

Ameaçado pela chuva, segundo show do ex-Beatle em São Paulo empolga mais 64 mil pessoas no Morumbi

THALES DE MENEZES
EDITOR-INTERINO DA SÃO PAULO

A lua cheia que iluminou a primeira apresentação de Paul McCartney em São Paulo ficou escondida na noite seguinte. Mas pelo menos a chuva que atrapalhou a ida ao estádio do Morumbi anteontem deu trégua ao público pouco tempo depois da entrada do astro no palco, garantindo duas horas e meia de festa quase seca.
Além da mudança climática e da troca da música de abertura (a boa "Venus and Mars" no domingo, a ótima "Magical Mystery Tour" na segunda-feira), os dois shows foram idênticos.
Muita emoção nos gigantescos karaokês em que se transformaram as canções dos Beatles, e muito carinho da plateia quando Paul tocou as músicas mais fracas.
Por repertório mais fraco entenda-se sua produção solo depois de 1977 e os deslizes bregas dos Beatles, como "Long and Winding Road" e "Blackbird". Essas escolhas fazem a primeira parte do show empolgar menos.
Nesse início, o público pode se preocupar apenas em olhar para o palco e ter certeza que um dos homens que ajudaram a moldar suas vidas está realmente ali.
Nem compensa mais comentar a atitude de devoção completa do público, a beleza de ver famílias inteiras (pais, filhos e netos) compartilhando o show ou a simpatia do cantor (embora até o fã xiita concorde que ele repete demais textinhos como "tudo ótimo, paulistas?"). Não é show, é celebração.
Tanto o astro como seus fãs estão reféns de quatro décadas ouvindo hinos sagrados do pop. Paul, aos 68 anos, não pode se atrever a fazer shows sem os hits, e o público comparece porque sabe que não terá surpresas.
O cantor abusa da máxima "em time que está ganhando não se mexe". As músicas recebem versões lindas, mas conservadoras. Além do respeito absoluto aos arranjos originais dos discos dos Beatles (é isso que o povo quer, certo?), nem os bons momentos da fase Wings, como "Jet" e "Live and Let Die", mostram qualquer arrojo.
A banda não ajuda. Guitarristas duros de munheca quase estragam frases melódicas perfeitas. O baterista é figuraça, mas só isso. Vale lembrar que Paul está acostumado a trabalhar com músicos nada brilhantes. Afinal, Linda tocava no Wings.
Nas homenagens ao colegas mortos, o resultado é um empate. "Something", com fotos de George Harrison no telão, colou bem. Emociona.
Já os momentos de citação a John Lennon não emplacam, tanto na adocicada "Here Today" (ode ao parceira lançada em 1982) como nos versos de "Give Piece a Chance", uma escolha muito "Yoko" que soa forçada.
Mas aí surge o tsunami emocional que é a sequência final: "Paperback Writer", "A Day in the Life", "Let It Be", "Hey Jude", "Day Tripper", "Lady Madonna", "Get Back", "Yesterday", "Helter Skelter" e "Sgt. Pepper's".
Não há crítico ranzinza que resista a cair no karaokê.

PAUL McCARTNEY
AVALIAÇÃO bom


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