São Paulo, segunda, 24 de novembro de 1997.




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MÚSICA ERUDITA
Única cópia manuscrita da ópera, composta por Manuel Joaquim de Macedo, foi encontrada em BH
'Tiradentes' vai estrear cem anos depois

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

A ópera "Tiradentes", composta na virada do século, poderá ser encenada pela primeira vez no ano que vem, no encerramento das comemorações do centenário de Belo Horizonte.
A Universidade Federal de Minas Gerais e a produtora Viking firmaram convênio para a montagem da ópera, a gravação de um CD e a edição das partituras em livro.
"Tiradentes" foi composta por Manuel Joaquim de Macedo (1847-1925), mestre da Capela Imperial no reinado de dom Pedro 2º. O libreto original é de autoria de Augusto de Lima (1859-1934), que presidiu a Academia Brasileira de Letras.
Em 1890, a abertura da ópera chegou a ser executada na Bélgica, mas até 1897, quando o libreto foi publicado, as partituras não haviam sido concluídas.
Cogitou-se ainda sua encenação durante o centenário da Independência do Brasil, mas o compositor não concordou e acabou morrendo sem ver sua maior obra.
Durante décadas, as partituras ficaram perdidas. A única cópia conhecida, com mais de 2.000 páginas manuscritas, foi encontrada há oito anos em um velho baú na biblioteca da Escola de Música da UFMG.
Para o diretor da escola, Maurício Freire, a importância de "Tiradentes" não é apenas histórica, mas também musical.
"É uma das raras óperas do romantismo escritas em português e, a partir de sua estréia, esperamos que seja incorporada ao repertório operístico, que é restrito a cerca de 200 obras", disse Freire.
Escrita sob influência das óperas do alemão Richard Wagner, "Tiradentes" é uma superprodução que demandará uma orquestra de 90 músicos, dois corais e cerca de 200 participantes em cena.
Os produtores calculam que será necessário R$ 1,1 milhão para tornar viável sua estréia, prevista para acontecer ao ar livre em meados do ano que vem.
A duração original, de seis horas, no entanto, terá de ser encurtada pela metade, pois, segundo o produtor Alfonso Rezende, nenhum espectador contemporâneo suportaria assistir a uma ópera durante tanto tempo.
"Tiradentes" é dividida em uma abertura e quatro atos. No primeiro ato, os contribuintes reclamam do alto imposto que era cobrado por Portugal, que exigia 20% do ouro extraído em Minas Gerais.
Nos atos seguintes, acontecem a conspiração, a traição e o julgamento e a execução de Tiradentes.
Os personagens principais são papéis masculinos, inspirados nos protagonistas reais da Inconfidência Mineira: Tiradentes (barítono), o traidor Joaquim Silvério dos Reis (barítono), Tomaz Antônio Gonzaga (tenor) e o governador Visconde de Barbacena (baixo).



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