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Orquestra do AM é a
melhor, diz maestro
ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Manaus
O maestro Julio Medaglia, regente da Amazonas Filarmônica, considera a orquestra "uma realidade
do tropicalismo".
A orquestra fez sua estréia oficial
no dia 14, no teatro Amazonas, em
Manaus. Seus 44 músicos foram
contratados na Rússia, Belarus,
República Tcheca, Bulgária, Uruguai, EUA e em vários Estados brasileiros, com salários superiores à
média nacional.
A seguir, trechos da entrevista de
Medaglia, à Agência Folha.
Agência Folha - O movimento
tropicalista sonhou conduzir uma
orquestra na Amazônia?
Julio Medaglia - Isso agora é
uma realidade do tropicalismo,
que foi um movimento muito delirante. Mas poucas vezes a gente
encontrou suporte para realizar.
Pela primeira vez na vida, em música sinfônica, encontro um ambiente para fazer tudo aquilo que
eu realmente imaginava, por meio
do governador Amazonino Mendes, que está pessoalmente engajado nesse projeto.
Agência Folha - O sr. já declarou
que atualmente essa é a melhor
orquestra do país. É isso mesmo?
Medaglia - O grupo de cordas
que temos nenhuma orquestra do
Brasil tem. Nunca se juntou no
Brasil tantos músicos de primeira
categoria como dessa vez. Sempre
saí ferido das orquestras pertencentes a empresas públicas porque
elas não têm sensibilidade. A máquina pública não foi feita para a
festividade cultural.
Agência Folha - O sr. não teme
que o delírio tropicalista seu e do
governador Amazonino termine
nas eleições do próximo ano?
Medaglia - É um delírio sim,
mas pode acreditar que vai durar
muito tempo.
Agência Folha - O sr. nunca pensou em desistir por causa do envolvimento frequente do governador em escândalos, como o da
compra de votos?
Medaglia - Esse projeto não
tem nada a ver com as acusações
que foram feitas contra ele. O projeto caminha há dois anos e estávamos trocando idéias há mais tempo com ele e com a filha dele, que é
uma produtora cultural muito importante. Isso não tem nada a ver
com essas coisas momentâneas.
Agência Folha - O que o sr. planeja para a orquestra?
Medaglia - Todo músico gosta
de levar sua música para diversas
platéias. No dia 27, por exemplo,
estaremos no Rio. Depois, em Manaus, estaremos fazendo os concertos de Natal e de fim de ano. Depois, em Parintins, vamos tocar na
festa do boi.
Agência Folha - São Paulo ou Rio
podem tratar a Amazonas Filarmônica como uma empreitada delirante?
Medaglia - Eles nunca ofereceram condições para que suas orquestras existissem bem. Os pobres dos músicos de São Paulo, por
exemplo, vivem tocando em casamentos. Isso é uma pouca vergonha, um desrespeito aos músicos
deslumbrantes que existem naquela cidade. Muitos desses músicos não puderam vir a Manaus
porque são forçados a manter cincou ou seis empregos para garantir
a sobrevivência. A realidade dos
músicos que estão no Amazonas é
bem diferente, pois os salários variam de R$ 2.500 até R$ 4.000.
Aqui, inclusive, os músicos vão receber uma casa e terão condições
de vida razoável.
Agência Folha - Como se comportam os músicos da Belarus, sob
um calor de 40 graus?
Medaglia - Deveriam estar resmungando, desesperados, por
trocar um país com clima de 30
graus negativos por outro de 40
graus. Mas a realidade é que chegam 15 ou 20 minutos antes do ensaio. Essa qualidade de profissionalismo nunca existiu no Brasil.
Agência Folha - Tanto no Brasil
como na Belarus os músicos parecem ganhar pouco.
Medaglia - Os que vieram são
músicos profissionais de alto nível. Não é que ganhem pouco, mas
é que a situação financeira de lá está complicada.
Agência Folha - A madeira deles
pode ser devorada pela umidade
tropical?
Medaglia - Sim, pode. Nós estamos contando com isso, mas os
músicos estão com tanto entusiasmo que tocam sorrindo.
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