São Paulo, segunda, 24 de novembro de 1997.




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Orquestra do AM é a melhor, diz maestro

ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Manaus

O maestro Julio Medaglia, regente da Amazonas Filarmônica, considera a orquestra "uma realidade do tropicalismo".
A orquestra fez sua estréia oficial no dia 14, no teatro Amazonas, em Manaus. Seus 44 músicos foram contratados na Rússia, Belarus, República Tcheca, Bulgária, Uruguai, EUA e em vários Estados brasileiros, com salários superiores à média nacional.
A seguir, trechos da entrevista de Medaglia, à Agência Folha.

Agência Folha - O movimento tropicalista sonhou conduzir uma orquestra na Amazônia?
Julio Medaglia -
Isso agora é uma realidade do tropicalismo, que foi um movimento muito delirante. Mas poucas vezes a gente encontrou suporte para realizar. Pela primeira vez na vida, em música sinfônica, encontro um ambiente para fazer tudo aquilo que eu realmente imaginava, por meio do governador Amazonino Mendes, que está pessoalmente engajado nesse projeto.
Agência Folha - O sr. já declarou que atualmente essa é a melhor orquestra do país. É isso mesmo?
Medaglia -
O grupo de cordas que temos nenhuma orquestra do Brasil tem. Nunca se juntou no Brasil tantos músicos de primeira categoria como dessa vez. Sempre saí ferido das orquestras pertencentes a empresas públicas porque elas não têm sensibilidade. A máquina pública não foi feita para a festividade cultural.
Agência Folha - O sr. não teme que o delírio tropicalista seu e do governador Amazonino termine nas eleições do próximo ano?
Medaglia -
É um delírio sim, mas pode acreditar que vai durar muito tempo.
Agência Folha - O sr. nunca pensou em desistir por causa do envolvimento frequente do governador em escândalos, como o da compra de votos?
Medaglia -
Esse projeto não tem nada a ver com as acusações que foram feitas contra ele. O projeto caminha há dois anos e estávamos trocando idéias há mais tempo com ele e com a filha dele, que é uma produtora cultural muito importante. Isso não tem nada a ver com essas coisas momentâneas.
Agência Folha - O que o sr. planeja para a orquestra?
Medaglia -
Todo músico gosta de levar sua música para diversas platéias. No dia 27, por exemplo, estaremos no Rio. Depois, em Manaus, estaremos fazendo os concertos de Natal e de fim de ano. Depois, em Parintins, vamos tocar na festa do boi.
Agência Folha - São Paulo ou Rio podem tratar a Amazonas Filarmônica como uma empreitada delirante?
Medaglia -
Eles nunca ofereceram condições para que suas orquestras existissem bem. Os pobres dos músicos de São Paulo, por exemplo, vivem tocando em casamentos. Isso é uma pouca vergonha, um desrespeito aos músicos deslumbrantes que existem naquela cidade. Muitos desses músicos não puderam vir a Manaus porque são forçados a manter cincou ou seis empregos para garantir a sobrevivência. A realidade dos músicos que estão no Amazonas é bem diferente, pois os salários variam de R$ 2.500 até R$ 4.000. Aqui, inclusive, os músicos vão receber uma casa e terão condições de vida razoável.
Agência Folha - Como se comportam os músicos da Belarus, sob um calor de 40 graus?
Medaglia -
Deveriam estar resmungando, desesperados, por trocar um país com clima de 30 graus negativos por outro de 40 graus. Mas a realidade é que chegam 15 ou 20 minutos antes do ensaio. Essa qualidade de profissionalismo nunca existiu no Brasil.
Agência Folha - Tanto no Brasil como na Belarus os músicos parecem ganhar pouco.
Medaglia -
Os que vieram são músicos profissionais de alto nível. Não é que ganhem pouco, mas é que a situação financeira de lá está complicada.
Agência Folha - A madeira deles pode ser devorada pela umidade tropical?
Medaglia -
Sim, pode. Nós estamos contando com isso, mas os músicos estão com tanto entusiasmo que tocam sorrindo.



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