São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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CINEMA/ESTRÉIA

Novo 007 sai em busca de sua face humana



Em "O Mundo Não É o Bastante", 19º filme da série e terceiro de Pierce Brosnan no papel, o agente mais famoso do cinema luta contra um vilão incapaz de sentir dor
CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha
em Los Angeles

Ser lembrado por um só personagem é um dos maiores temores de um ator. Sean Connery sentiu essa ameaça na própria carne, tendo interpretado seis vezes o papel do agente secreto mais famoso da história do cinema. Para um ator sério como ele, foi difícil libertar-se da imagem de James Bond e fazer papéis não limitados a heróis de filmes de ação.
Connery seguiu adiante com sua carreira, deixando James Bond na história. Desde então, quatro outros atores encarnaram o carismático agente 007 dos famosos martinis, belos carros, estonteantes garotas e elegância britânica. O último deles, Pierce Brosnan, conseguiu fazer o filme de maior sucesso da série, ao estrear no papel de Bond em "007 contra GoldenEye", em 95. Em seguida, ele fez o segundo blockbuster, "Amanhã Nunca Morre". O mais recente deles, e terceiro filme de James Bond desse irlandês radicado nos Estados Unidos, é o lançamento cinematográfico mais esperado deste Natal: "O Mundo Não É o Bastante", o 19º da série iniciada em 1962.
Na estréia de hoje, Pierce Brosnan, ou melhor, James Bond, cumpre a tarefa de proteger Elektra King (Sophie Marceau), herdeira de considerável quantidade de petróleo, de Renard, um terrorista de fama internacional vivido por Robert Carlyle.
O filme traz a atriz americana Denise Richards pela primeira vez no papel de "Bond girl" e o diretor Michael Apted ("Nell") estreando na franquia mais lucrativa da história do cinema.
Pierce Brosnan, 46, recebeu a Folha em um hotel de Beverly Hills para falar sobre o que considera o mais humano dos três filmes de James Bond feitos por ele.
Apesar de ainda não confirmado para estrelar o próximo filme da série, tudo indica que, com o tremendo sucesso conseguido até agora, Brosnan deverá voltar em breve às telas interpretando seu personagem favorito, descoberto por ele quando menino nos livros de seu criador, o escritor inglês Ian Fleming. A seguir, os principais trechos da conversa.

Folha - O que seu terceiro filme como Bond traz de novo?
Pierce Brosnan -
Um James Bond enfrentando uma certa ambiguidade moral pouco discutida nos dois primeiros filmes. Preocupamo-nos em trabalhar bem o roteiro, para mostrar mais o lado humano do personagem, em vez de dar destaque às espionagens praticadas por ele.
Além disso, "O Mundo Não É o Bastante" traz imagens espetaculares. Uma sequência inicial impressionante que leva o público ao delírio, uma verdadeira viagem. É, sem dúvida, o James Bond mais completo que interpretei.

Folha - Interpretar James Bond parece ser uma tarefa fisicamente exigente. Qual foi a maior surpresa das filmagens?
Brosnan -
Um dia saí do set com meu ombro deslocado. O acidente ocorreu durante as gravações da sequência inicial, na qual fazíamos as cenas de perseguição em barco. É ótimo quando nos autorizam a fazer cenas como essa e mais maravilhoso ainda quando sobrevivemos a elas.

Folha - Você vem encarnando Bond com sucesso, e esse filme marca o fim de seu contrato no papel. Como andam as negociações para um quarto filme?
Brosnan -
Infelizmente, ainda não posso garantir minha participação. Meu contrato aponta somente a possibilidade de renovação. Mas essa não é uma decisão minha, e sim daqueles que possuem os direitos sobre James Bond. Os Broccolis gostam desse controle. Se depender de mim, eu faço o próximo filme da série.

Folha - Como o agente secreto mais famoso do cinema mudou sua vida?
Brosnan -
Completamente. Aprendi e me diverti muito fazendo esses três filmes. Eles também foram responsáveis por uma melhora considerável de meu padrão de vida. Desenvolveram minha carreira de tal forma que hoje eu posso planejar e criar meus trabalhos, com minha própria produtora, e escolher os personagens que quero interpretar.
Portanto eu não devo, não posso, não quero e jamais irei morder as mãos que me alimentam e que me fazem ser admirado por tantos fãs de diferentes gerações.

Folha - Tornar-se 007 implica, para um ator, aceitar ser Bond para o resto da vida. Como é possível fazer outros projetos sem ser lembrado por esse?
Brosnan -
É difícil. É um risco que eu sabia que ia correr. Mas esse não é um risco enfrentado apenas por mim. Todo ator sofre a ameaça de ser lembrado por um personagem forte interpretado por ele no passado. A saída é estar sempre atento à qualidade dos roteiros que você desenvolve -007 nunca me prejudicou. Ao contrário, ele sempre esteve ao meu lado. Ele representa um sonho que jamais pensei poder alcançar.

Folha - Você tem uma preferência por outro ator que tenha vivido Bond no passado?
Brosnan -
Sean Connery. Ele é o próprio James Bond. Mas agora eu sou Bond e não acredito que esteja fazendo feio (risos).

Folha - Como James Bond surgiu na sua vida?
Brosnan -
Recebi um convite em 1986, mas na época eu tinha um contrato com um seriado de televisão nos EUA e não fui liberado. Fiquei triste e frustrado por não poder fazer um dos meus personagens prediletos. Parece que meu destino, no entanto, era acabar encarnando Bond. Em 1994 eles me ofereceram o papel novamente, e James Bond passou a fazer parte de minha vida.

Folha - Enquanto o número 2000 leva imediatamente a pensar no próximo milênio, 007 entra essa nova era como o número mais popular da história do cinema. O que podemos esperar de James Bond no futuro?
Brosnan -
Diversão garantida. Um personagem que oferece compulsivamente a seus fãs histórias relevantes e atuais, sem pretensões políticas, e, como de costume, sempre envolvido com a fantasia proporcionada pelas "Bond girls".
Acredito que, daqui para frente, vamos ver muito drama e suspense na série. E não vejo por que não inovar, trazendo ao público Bond em diferentes estilos tais como terror, thrillers e ficção científica pura.
Considero esse filme um passo certo nesse sentido. Eu adoraria ver James Bond se dedicando a causas globais, como a defesa do meio ambiente.

Folha - Neste século vimos o nascimento do cinema, que hoje, salvo algumas exceções, está repleto de violência gratuita e filmes de qualidade questionável. O que você espera de Hollywood no novo milênio?
Brosnan -
Espero que Hollywood volte a contar histórias fascinantes sobre as relações entre homem e mulher. Histórias simples, mostrando o que nos leva a nos apaixonar.
São esses filmes, centrados nos relacionamentos, que gostaria de voltar a assistir no futuro -antes que chegue o dia em que os computadores tomem por completo o comando de nossas vidas.


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