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CINEMA/ESTRÉIA
Novo 007 sai em busca de sua face humana
Em "O Mundo Não É o Bastante", 19º filme da série e terceiro de Pierce Brosnan no papel, o agente mais famoso do cinema luta contra um vilão incapaz de sentir dor
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CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha
em Los Angeles
Ser lembrado por um só personagem é um dos maiores temores
de um ator. Sean Connery sentiu
essa ameaça na própria carne,
tendo interpretado seis vezes o
papel do agente secreto mais famoso da história do cinema. Para
um ator sério como ele, foi difícil
libertar-se da imagem de James
Bond e fazer papéis não limitados
a heróis de filmes de ação.
Connery seguiu adiante com
sua carreira, deixando James
Bond na história. Desde então,
quatro outros atores encarnaram
o carismático agente 007 dos famosos martinis, belos carros, estonteantes garotas e elegância
britânica. O último deles, Pierce
Brosnan, conseguiu fazer o filme
de maior sucesso da série, ao estrear no papel de Bond em "007
contra GoldenEye", em 95. Em
seguida, ele fez o segundo blockbuster, "Amanhã Nunca Morre".
O mais recente deles, e terceiro
filme de James Bond desse irlandês radicado nos Estados Unidos,
é o lançamento cinematográfico
mais esperado deste Natal: "O
Mundo Não É o Bastante", o 19º
da série iniciada em 1962.
Na estréia de hoje, Pierce Brosnan, ou melhor, James Bond,
cumpre a tarefa de proteger Elektra King (Sophie Marceau), herdeira de considerável quantidade
de petróleo, de Renard, um terrorista de fama internacional vivido
por Robert Carlyle.
O filme traz a atriz americana
Denise Richards pela primeira
vez no papel de "Bond girl" e o diretor Michael Apted ("Nell") estreando na franquia mais lucrativa da história do cinema.
Pierce Brosnan, 46, recebeu a
Folha em um hotel de Beverly
Hills para falar sobre o que considera o mais humano dos três filmes de James Bond feitos por ele.
Apesar de ainda não confirmado para estrelar o próximo filme
da série, tudo indica que, com o
tremendo sucesso conseguido até
agora, Brosnan deverá voltar em
breve às telas interpretando seu
personagem favorito, descoberto
por ele quando menino nos livros
de seu criador, o escritor inglês
Ian Fleming. A seguir, os principais trechos da conversa.
Folha - O que seu terceiro filme como Bond traz de novo?
Pierce Brosnan - Um James
Bond enfrentando uma certa ambiguidade moral pouco discutida
nos dois primeiros filmes. Preocupamo-nos em trabalhar bem o
roteiro, para mostrar mais o lado
humano do personagem, em vez
de dar destaque às espionagens
praticadas por ele.
Além disso, "O Mundo Não É o
Bastante" traz imagens espetaculares. Uma sequência inicial impressionante que leva o público
ao delírio, uma verdadeira viagem. É, sem dúvida, o James
Bond mais completo que interpretei.
Folha - Interpretar James
Bond parece ser uma tarefa fisicamente exigente. Qual foi a
maior surpresa das filmagens?
Brosnan - Um dia saí do set com
meu ombro deslocado. O acidente ocorreu durante as gravações
da sequência inicial, na qual fazíamos as cenas de perseguição em
barco. É ótimo quando nos autorizam a fazer cenas como essa e
mais maravilhoso ainda quando
sobrevivemos a elas.
Folha - Você vem encarnando
Bond com sucesso, e esse filme
marca o fim de seu contrato no
papel. Como andam as negociações para um quarto filme?
Brosnan - Infelizmente, ainda
não posso garantir minha participação. Meu contrato aponta somente a possibilidade de renovação. Mas essa não é uma decisão
minha, e sim daqueles que possuem os direitos sobre James
Bond. Os Broccolis gostam desse
controle. Se depender de mim, eu
faço o próximo filme da série.
Folha - Como o agente secreto
mais famoso do cinema mudou
sua vida?
Brosnan - Completamente.
Aprendi e me diverti muito fazendo esses três filmes. Eles também
foram responsáveis por uma melhora considerável de meu padrão
de vida. Desenvolveram minha
carreira de tal forma que hoje eu
posso planejar e criar meus trabalhos, com minha própria produtora, e escolher os personagens
que quero interpretar.
Portanto eu não devo, não posso, não quero e jamais irei morder
as mãos que me alimentam e que
me fazem ser admirado por tantos fãs de diferentes gerações.
Folha - Tornar-se 007 implica,
para um ator, aceitar ser Bond
para o resto da vida. Como é
possível fazer outros projetos
sem ser lembrado por esse?
Brosnan - É difícil. É um risco
que eu sabia que ia correr. Mas esse não é um risco enfrentado apenas por mim. Todo ator sofre a
ameaça de ser lembrado por um
personagem forte interpretado
por ele no passado. A saída é estar
sempre atento à qualidade dos roteiros que você desenvolve -007
nunca me prejudicou. Ao contrário, ele sempre esteve ao meu lado. Ele representa um sonho que
jamais pensei poder alcançar.
Folha - Você tem uma preferência por outro ator que tenha
vivido Bond no passado?
Brosnan - Sean Connery. Ele é o
próprio James Bond. Mas agora
eu sou Bond e não acredito que
esteja fazendo feio (risos).
Folha - Como James Bond surgiu na sua vida?
Brosnan - Recebi um convite
em 1986, mas na época eu tinha
um contrato com um seriado de
televisão nos EUA e não fui liberado. Fiquei triste e frustrado por
não poder fazer um dos meus
personagens prediletos. Parece
que meu destino, no entanto, era
acabar encarnando Bond. Em
1994 eles me ofereceram o papel
novamente, e James Bond passou
a fazer parte de minha vida.
Folha - Enquanto o número
2000 leva imediatamente a pensar no próximo milênio, 007 entra essa nova era como o número mais popular da história do
cinema. O que podemos esperar
de James Bond no futuro?
Brosnan - Diversão garantida.
Um personagem que oferece
compulsivamente a seus fãs histórias relevantes e atuais, sem pretensões políticas, e, como de costume, sempre envolvido com a
fantasia proporcionada pelas
"Bond girls".
Acredito que, daqui para frente,
vamos ver muito drama e suspense na série. E não vejo por que não
inovar, trazendo ao público Bond
em diferentes estilos tais como
terror, thrillers e ficção científica
pura.
Considero esse filme um passo
certo nesse sentido. Eu adoraria
ver James Bond se dedicando a
causas globais, como a defesa do
meio ambiente.
Folha - Neste século vimos o
nascimento do cinema, que hoje, salvo algumas exceções, está
repleto de violência gratuita e
filmes de qualidade questionável. O que você espera de Hollywood no novo milênio?
Brosnan - Espero que Hollywood volte a contar histórias fascinantes sobre as relações entre
homem e mulher. Histórias simples, mostrando o que nos leva a
nos apaixonar.
São esses filmes, centrados nos
relacionamentos, que gostaria de
voltar a assistir no futuro -antes
que chegue o dia em que os computadores tomem por completo o
comando de nossas vidas.
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