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LIVROS
MANUAL
"A Miscelânea Original de Schott" nasceu como cartões de Natal nos quais o autor, Ben Schott, transcrevia curiosidades
Trivial vira best-seller em almanaque
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele ocupa o segundo lugar na
lista de mais vendidos da editora
inglesa Bloomsbury, atrás somente de ninguém menos que Harry
Potter. O nome: Ben Schott. O feito: "A Miscelânea Original de
Schott", que já vendeu 2 milhões
de exemplares só no Reino Unido
e que acaba de chegar às prateleiras brasileiras pela Intrínseca, oferecendo ao leitor informações tão
imprescindíveis -ao menos hoje- como os nomes das renas de
Papai Noel: Dasher, Dancer,
Prancer, Vixen, Comet, Cupid,
Donner, Blitzen e Rudolph.
Com 160 páginas na versão brasileira, o livro começou como cartões de Natal que Schott, 31, fotógrafo, mandava para seus clientes,
e onde ele transcrevia curiosidades, pinçadas de bibliotecas britânicas. Depois de lançá-lo lá fora
em 2002, Schott já foi convidado
para fazer outros três títulos na
mesma linha: um almanaque e
duas miscelâneas específicas, sobre esportes e gastronomia, que a
Intrínseca também vai lançar.
"Nem tudo no livro é somente
trivial", defende Schott em entrevista à Folha. "Algumas curiosidades podem ser pequenas, discretas, sem serem meras trivialidades. Além disso, citando Virginia Woolf, "não vamos partir da
suposição de que a vida se manifesta de maneira mais plena nas
coisas que costumamos considerar grandes do que naquelas que
costumamos considerar pequenas'", completa o autor, pinçando
uma frase que usa no livro.
Schott explica o sucesso da
"Miscelânea": todos gostamos de
informações em pedaços, de
"adentrar mundos secretos", e
seu livro complementa títulos
mais alentados e detalhados, sendo que alguns assuntos precisam
apenas de um parágrafo.
A leitura, sugere Schott, deve ser
aleatória. Ele prefere ler no banheiro. "Eu me surpreendo como
"A Miscelânea" tem sido usada como livro de referência de verdade,
em especial para coisas que não
podem ser achadas facilmente."
Um dos verbetes preferidos do
autor, e um dos mais trabalhosos,
segundo ele, é a escala de Scolville,
que classifica a ardência de diferentes chilis: a jalapeño, por
exemplo, tem ardência mediana,
entre 2.500 e 5.000 unidades scoville (US). A mais ardida é a pure
capsaicin, com 16 milhões de US.
"Deu muito trabalho para encontrar a fonte original com esses
dados", conta. "Mas, muitas vezes, uma informação que as pessoas consideram fácil, é, na verdade, difícil de ser rastreada com
precisão. Foi surpreendente o
tempo que gastei para juntar todos os símbolos de lavagem de
roupa no mundo."
"A Miscelânea" já foi traduzida
para 14 países. Orgulhoso da precisão das informações de seu manual, Schott faz questão de acompanhar de perto todas as versões,
para que também sigam o mesmo
projeto gráfico, que ele também
assina. No Brasil, a tradução ficou
nas mãos de Cláudio Figueiredo,
um trabalho que durou um ano e
meio. Segundo ele, o cuidado do
autor é extremo e obsessivo.
"Dizer que ele se preocupa com
os milímetros que separam os
pontos de uma linha pontilhada
não é exagero. É literalmente o
que acontece", atesta o tradutor.
Como o português é um idioma
mais prolixo que o inglês, diz Figueiredo, e Schott fazia questão
de que a distribuição do texto ficasse o mais parecida possível
com a edição original, o esforço
foi para tornar o texto em português o mais enxuto possível.
A versão, no entanto, foi flexível
quanto à inclusão de verbetes específicos para o Brasil, entre eles
frases irônicas do escritor Machado de Assis, os afluentes do rio
Amazonas, gírias de malandros,
nomes do demônio segundo a
tradição popular brasileira etc.
"Eles serviram para dar uma cor
local, mas, por determinação contratual, o material exclusivamente
brasileiro não poderia passar de
certo limite. Alguns verbetes caíram por serem de difícil tradução
ou por não terem muita graça para o público brasileiro. Optamos
por incluir alguns itens da versão
americana e recorremos a um
material extra: o conteúdo da coluna semanal que o Schott publica
no "Daily Telegraph"."
A Miscelânea Original de Schott
Autor: Ben Schott
Tradução: Cláudio Figueiredo
Editora: Intrínseca
Quanto: R$ 32,90 (160 págs.)
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