EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os campeões dos pesados Rocky Marciano, Jack Dempsey e Mike Tyson teriam torcido o nariz para a idéia de um estilista desenvolver coleção baseada em elementos do boxe. Afinal, os dois primeiros subiam ao ringue com indumentárias simples, um robe branco, com no máximo uma lista preta. Tyson até o robe dispensava: substituía-o por toalhas.
Para Alexandre Herchcovitch, porém, sua aprovação é o que menos importa. Foi a atmosfera do mundo do boxe que inspirou sua coleção. Os lutadores e a funcionalidade das peças nos treinos não passam de detalhes. "Pensei no glamour que cercava as lutas durante as décadas de 40 e 50, nos boxeadores, mas também nas pessoas que iam assistir", justifica Herchcovitch, cuja primeira incursão no mundo do esporte foi desenhar o uniforme da delegação brasileira que disputou o Pan-03 e a Olimpíada-04. "O equipamento dos lutadores tem o quê? Calção e luvas? Não daria para fazer uma coleção", argumenta.
Assim, no lugar de tênis e sapatilhas, coadjuvantes, predominaram sapatos, lenços e ternos. Algumas das roupas poderiam passar por aquelas do lendário empresário Tex Rickard, do início do século passado. "Não assisti a tantas lutas. Mas, para desenhar a coleção, vi muitas fotos e, em busca de referências, visitei o museu da Everlast [mais tradicional marca do boxe, fundada em 1910]."
O momento em que a Everlast -com quem Herchcovitch firmou parceria- decide investir no público jovem e na força de sua marca, ao diversificar produtos, coincide com o surgimento de mais fabricantes de equipamentos como luvas e sapatilhas. Mas os atletas não foram totalmente ignorados. Detalhes como cinturões, shorts e cangurus estavam presentes. Mas a palavra final do estilista mostrou para quem foi feita sua coleção: "Se dá para treinar com as roupas da coleção? Não sei, não foi nisso que pensei".


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