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Cinema/estréias
Filme não glorifica a máfia, diz Scott
Diretor afirma que seu novo longa mostra crime com mais violência e menos pompa que "O Poderoso Chefão", de Coppola
Ex-traficante em que se baseia "O Gângster", conta cineasta, "ama o filme e ama falar sobre os dias de glória" e "tem saudade do poder"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Leia, a seguir, a continuação da entrevista com o diretor Ridley Scott.
(TETÉ RIBEIRO)
FOLHA - Algum dos envolvidos
nessa outra "máfia" foi processado?
SCOTT - Não, ninguém do Exército foi julgado. O processo do
Frank foi centrado na polícia de
Nova York e nos traficantes
que operavam na cidade, pelo
mesmo motivo por que não entrei nessa história no filme: se
envolvesse a CIA e o Exército,
não ia durar dois meses, e sim
décadas. E o que o Richie Roberts queria era limpar a polícia
e prender mais traficantes.
FOLHA - Como está Frank Lucas hoje em dia?
SCOTT - Não muito bem, precisa de uma cadeira de rodas para
se movimentar, tem uma forma
muito severa de artrite. Mas
ama o filme e ama falar sobre os
dias de glória, tem muita saudade do dinheiro e do poder.
FOLHA - Ele se arrepende de algo?
SCOTT - Não, de nada. Fiz a
mesma pergunta, e ele me
olhou assustado e perguntou:
"Do que me arrependeria?".
FOLHA - O filme tem quase três horas, dois protagonistas e dezenas de
coadjuvantes, mas não é complicado de entender. É mérito do roteiro?
SCOTT - Não, peraí, também tenho mérito nisso. Foi um pesadelo dirigir esse filme, tem mais
de 300 cenas, mais de cem locações, uma edição toda picotada.
Trabalhei muito na pré e na
pós-produção para não parecer
uma colagem de videoclipes, o
que acho insuportável, e para o
espectador não perder interesse numa história quando estivesse vendo outra. E para não
ficar a história de dois homens
fortes e um bando de gente sem
características em volta, que
ocorre em filmes assim.
FOLHA - Francis Ford Coppola foi
muito questionado no lançamento
de "O Poderoso Chefão" por glorificar a imagem do mafioso. Você teme uma reação parecida?
SCOTT - Acho que o que foi glorificado no caso do Don Corleone foi seu respeito às tradições.
Parecia um filme sobre uma família real, não uma família de
criminosos. "O Poderoso Chefão" é grandioso, quase uma
ópera. Não estou criticando, só
apontando um estilo, que não é
o meu. Para o meu filme, as inspirações vieram mais de "Operação França" [de William
Friedkin]. A violência do protagonista aparece mais, imagino
que isso tire a aura pomposa
dos criminosos do Coppola.
FOLHA - É a versão final do filme?
Ou em 25 anos haverá a do diretor?
SCOTT - [Risos] O filme é esse, é
a minha versão. Isso não acontece mais comigo. "Blade Runner" [1982] foi relançado agora
com a versão que eu queria desde o início, mas não tive força
para impor. Foi um dos meus
primeiros filmes, não tive como
não ceder às pressões do estúdio. Por isso decidi celebrar os
25 anos com a versão definitiva.
FOLHA - Mas e a "versão definitiva" de cinco anos atrás?
SCOTT - Aquela edição foi feita
às pressas. Todos sabiam que o
final do filme tinha sido alterado, mas ninguém tinha visto a
versão original. Quando o estúdio resolveu lançar a versão do
diretor, eu estava com outros
projetos e não pude procurar
todos os takes que queria incluir, então só alteramos o final. Mas não fiquei satisfeito,
aquele é um filme importante
para mim, talvez o que mais me
marcou, por tudo o que deu certo e por tudo o que deu errado,
então quis refazer, dessa vez
com tempo e com dedicação.
Leia a íntegra no blog Ilustrada no Cinema
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