São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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Cinema/estréias

Filme não glorifica a máfia, diz Scott

Diretor afirma que seu novo longa mostra crime com mais violência e menos pompa que "O Poderoso Chefão", de Coppola

Ex-traficante em que se baseia "O Gângster", conta cineasta, "ama o filme e ama falar sobre os dias de glória" e "tem saudade do poder"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Leia, a seguir, a continuação da entrevista com o diretor Ridley Scott. (TETÉ RIBEIRO)

 

FOLHA - Algum dos envolvidos nessa outra "máfia" foi processado?
SCOTT -
Não, ninguém do Exército foi julgado. O processo do Frank foi centrado na polícia de Nova York e nos traficantes que operavam na cidade, pelo mesmo motivo por que não entrei nessa história no filme: se envolvesse a CIA e o Exército, não ia durar dois meses, e sim décadas. E o que o Richie Roberts queria era limpar a polícia e prender mais traficantes.

FOLHA - Como está Frank Lucas hoje em dia?
SCOTT -
Não muito bem, precisa de uma cadeira de rodas para se movimentar, tem uma forma muito severa de artrite. Mas ama o filme e ama falar sobre os dias de glória, tem muita saudade do dinheiro e do poder.

FOLHA - Ele se arrepende de algo?
SCOTT -
Não, de nada. Fiz a mesma pergunta, e ele me olhou assustado e perguntou: "Do que me arrependeria?".

FOLHA - O filme tem quase três horas, dois protagonistas e dezenas de coadjuvantes, mas não é complicado de entender. É mérito do roteiro?
SCOTT -
Não, peraí, também tenho mérito nisso. Foi um pesadelo dirigir esse filme, tem mais de 300 cenas, mais de cem locações, uma edição toda picotada. Trabalhei muito na pré e na pós-produção para não parecer uma colagem de videoclipes, o que acho insuportável, e para o espectador não perder interesse numa história quando estivesse vendo outra. E para não ficar a história de dois homens fortes e um bando de gente sem características em volta, que ocorre em filmes assim.

FOLHA - Francis Ford Coppola foi muito questionado no lançamento de "O Poderoso Chefão" por glorificar a imagem do mafioso. Você teme uma reação parecida?
SCOTT -
Acho que o que foi glorificado no caso do Don Corleone foi seu respeito às tradições. Parecia um filme sobre uma família real, não uma família de criminosos. "O Poderoso Chefão" é grandioso, quase uma ópera. Não estou criticando, só apontando um estilo, que não é o meu. Para o meu filme, as inspirações vieram mais de "Operação França" [de William Friedkin]. A violência do protagonista aparece mais, imagino que isso tire a aura pomposa dos criminosos do Coppola.

FOLHA - É a versão final do filme? Ou em 25 anos haverá a do diretor?
SCOTT -
[Risos] O filme é esse, é a minha versão. Isso não acontece mais comigo. "Blade Runner" [1982] foi relançado agora com a versão que eu queria desde o início, mas não tive força para impor. Foi um dos meus primeiros filmes, não tive como não ceder às pressões do estúdio. Por isso decidi celebrar os 25 anos com a versão definitiva.

FOLHA - Mas e a "versão definitiva" de cinco anos atrás?
SCOTT -
Aquela edição foi feita às pressas. Todos sabiam que o final do filme tinha sido alterado, mas ninguém tinha visto a versão original. Quando o estúdio resolveu lançar a versão do diretor, eu estava com outros projetos e não pude procurar todos os takes que queria incluir, então só alteramos o final. Mas não fiquei satisfeito, aquele é um filme importante para mim, talvez o que mais me marcou, por tudo o que deu certo e por tudo o que deu errado, então quis refazer, dessa vez com tempo e com dedicação.


Leia a íntegra no blog Ilustrada no Cinema

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