São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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Música - Crítica/"Jukebox"

Cat Power retorna aos seus estranhos covers

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Chan Marshall é daquelas moças esquisitas essenciais no mundo pop. Mesmo aos 36 anos, com uma música mais trabalhada e jurando ter deixado as drogas no passado, a cantora que atende pelo nome Cat Power mostra que a normalidade não está em seu horizonte. "Jukebox", seu mais recente trabalho (que por enquanto tem edição apenas internacional), é um disco de covers que não são covers. São ainda mais que "versões": são reconstruções.
Não é nada estranho para alguém que, em 2000, lançou outro disco ainda mais radical, "The Covers Record". O disco abria com "(I Can't Get No) Satisfaction", o clássico dos Rolling Stones em releitura onde saíam os conhecidíssimos riffs de guitarra e o refrão.
Era uma balada minimalista, de fossa, perfeito reflexo da cantora na época: uma garota indie, largada, que se vestia como menino e praticamente murmurava as letras das canções, dona de péssimos shows (quando comparecia).
A Chan Marshall de "Jukebox" é uma artista que leva a música a sério, mas que ao mesmo tempo não se tornou uma burocrata do showbiz. É como se, de tempos em tempos, ela precisasse deixar de lado seu trabalho mais autoral para mergulhar nas suas influências em busca de auto-afirmação.
Os shows que fez no Brasil no ano passado explicam quem é essa nova Cat Power, uma cantora que se reinventou ao abraçar o soul e o blues "clássicos".
O repertório daqueles shows é basicamente o mesmo do disco, com uma típica sonoridade de boteco de filmes que se passam no Mississippi. Ao mesmo tempo, Marshall parece ter perdido o medo de soltar sua voz rouca.
Acompanhada pela banda Dirty Delta Blues, encontrou sua real vocação. As canções refletem bem o atual momento. Entre as 12 faixas, estão presentes releituras, sempre na chave do blues, r&b e country, de nomes como James Brown ("Lost Someone"), Billie Holiday ("Don't Explain"), Janis Joplin ("Woman Left Lonely"), Joni Mitchell ("Blue"), além de uma nova versão de "Metal Heart", composição dela própria. "New York, New York" deixa a grandiloquência algo kitsch de Frank Sinatra para adentrar no universo soul de Cat Power.
Mas, desta vez, ela não tirou o refrão, apenas o canta de forma mais sensual. Mesmo que interessada em outros sons, Marshall mantém Bob Dylan como seu ídolo supremo. Há a versão para "I Believe in You", da fase religiosa do cantor, que soa um tanto redundante no conjunto.
Dylan reaparece na única faixa inédita composta por Marshall do disco, a ótima "Song to Bobby". Ela relembra um encontro que teve com Dylan, no ano passado (na tradução): "Com a credencial do backstage na minha mão/dar a você meu coração era meu plano/.../posso finalmente falar para você ser meu homem?".


JUKEBOX
Artista:
Cat Power
Lançamento: Matador Records
Quanto: US$ 12 (cerca de R$ 22 mais taxas, em www.matadorrecords.com)
Avaliação: bom


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