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No MIS, vídeos se apropriam da pintura
Com abertura hoje, mostra "Repeat All" explora os limites do audiovisual
Mostra tem obras de Cao Guimarães e das duplas Gisela Motta/Leandro Lima, Muntean/Rosenblum, Pink Twins e Democracia
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma garota esfrega uma pista de dança nas primeiras horas
pós-balada. Seus olhos, em close, tingem a tela de azul profundo, tom que domina a cena seguinte: jovens
cansados da
noitada dormem na posição dos cadáveres que o romântico francês Théodore
Géricault pintou em seu trágico retrato "O
Bote da Medusa" (1819).
Sinal de que o
vídeo chegou ao
auge da elasticidade, a obra da
dupla Muntean/Rosenblum serve como peça central
da coletiva
aberta hoje pelo
Museu da Imagem e do Som,
um conjunto de
14 obras que
traduzem para
o suporte audiovisual a estética da pintura.
No caso dos artistas, o austríaco Markus Muntean e a israelense Adi Rosenblum, não
espanta que a pintura sirva de
ponto de partida para a obra em
vídeo, já que a dupla já se consolidou por revigorar o gênero
com tinta sobre tela mesmo.
Numa vertente tecnológica
dessa ideia, os brasileiros Gisela Motta e Leandro Lima revisitam, com potência eletrônica,
um dos motivos mais clássicos
da história da arte.
Em "Andamento", Motta e
Lima costuram três paisagens a
partir das ondas sonoras da trilha que serve de base ao vídeo.
"A gente queria que o desenho
da música, a amplitude de cada
onda, construísse as montanhas de uma paisagem", conta
Lima. "É a música que acaba
desenhando a montanha."
É também a paisagem que
ajuda a estruturar outra das
obras mais estetizantes da
mostra. Os irmãos finlandeses
Juha e Vesa Vehviläinen, juntos na dupla Pink Twins, partem de imagens de satélite da
Nasa e vistas aéreas de cidades
desconhecidas para montar sucessões de cores enlaçadas por
acordes de música eletrônica.
"Trocamos as linhas horizontais pelas verticais, num
processo de embaralhar a imagem", diz Vesa Vehviläinen à
Folha. "É um trabalho abstrato, mais estético."
Da mesma forma, Cao Guimarães parte das luzes de um parque
de diversão para
criar uma sucessão de brilhos no
escuro. "A forma
adquire uma qualidade de personagem, é quase
uma dança de luzes", define o artista. "A câmera
funciona como
pincel, uma caneta, de forma versátil, autônoma."
Mas apesar do
foco na estética,
não ficaram de fora política e realidade. Num vídeo
que lembra o tratamento que Gus
van Sant dá às angústias da juventude, o espanhol
Alejandro Vidal
mostra um rapaz
solitário que observa à distância um grupo de jovens. Sem
desgrudar dos fones de ouvido,
parece que sua balada autista
transborda para o mundo.
"A música sempre serviu de
veículo para a raiva, a impotência", afirma Vidal. "É um momento de euforia, aceleração. É
minha forma de mostrar a disposição política da juventude, a
capacidade ou a incapacidade
de armar ideias e se posicionar,
a resposta em vez do combate."
Ainda na linha política que
não despreza a estética, o coletivo espanhol Democracia faz
da demolição de uma favela em
Madri um grande espetáculo,
cheio de som, cores e fúria.
REPEAT ALL
Quando: abertura hoje, às 18h; de
ter. a sex., das 12h às 19h; sáb. e
dom., das 11h às 18h; até 29/3
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 0/
xx/11/2117-4777)
Quanto: entrada franca
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