São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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No MIS, vídeos se apropriam da pintura

Com abertura hoje, mostra "Repeat All" explora os limites do audiovisual

Mostra tem obras de Cao Guimarães e das duplas Gisela Motta/Leandro Lima, Muntean/Rosenblum, Pink Twins e Democracia

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma garota esfrega uma pista de dança nas primeiras horas pós-balada. Seus olhos, em close, tingem a tela de azul profundo, tom que domina a cena seguinte: jovens cansados da noitada dormem na posição dos cadáveres que o romântico francês Théodore Géricault pintou em seu trágico retrato "O Bote da Medusa" (1819).
Sinal de que o vídeo chegou ao auge da elasticidade, a obra da dupla Muntean/Rosenblum serve como peça central da coletiva aberta hoje pelo Museu da Imagem e do Som, um conjunto de 14 obras que traduzem para o suporte audiovisual a estética da pintura. No caso dos artistas, o austríaco Markus Muntean e a israelense Adi Rosenblum, não espanta que a pintura sirva de ponto de partida para a obra em vídeo, já que a dupla já se consolidou por revigorar o gênero com tinta sobre tela mesmo. Numa vertente tecnológica dessa ideia, os brasileiros Gisela Motta e Leandro Lima revisitam, com potência eletrônica, um dos motivos mais clássicos da história da arte. Em "Andamento", Motta e Lima costuram três paisagens a partir das ondas sonoras da trilha que serve de base ao vídeo. "A gente queria que o desenho da música, a amplitude de cada onda, construísse as montanhas de uma paisagem", conta Lima. "É a música que acaba desenhando a montanha."
É também a paisagem que ajuda a estruturar outra das obras mais estetizantes da mostra. Os irmãos finlandeses Juha e Vesa Vehviläinen, juntos na dupla Pink Twins, partem de imagens de satélite da Nasa e vistas aéreas de cidades desconhecidas para montar sucessões de cores enlaçadas por acordes de música eletrônica. "Trocamos as linhas horizontais pelas verticais, num processo de embaralhar a imagem", diz Vesa Vehviläinen à Folha. "É um trabalho abstrato, mais estético." Da mesma forma, Cao Guimarães parte das luzes de um parque de diversão para criar uma sucessão de brilhos no escuro. "A forma adquire uma qualidade de personagem, é quase uma dança de luzes", define o artista. "A câmera funciona como pincel, uma caneta, de forma versátil, autônoma." Mas apesar do foco na estética, não ficaram de fora política e realidade. Num vídeo que lembra o tratamento que Gus van Sant dá às angústias da juventude, o espanhol Alejandro Vidal mostra um rapaz solitário que observa à distância um grupo de jovens. Sem desgrudar dos fones de ouvido, parece que sua balada autista transborda para o mundo.
"A música sempre serviu de veículo para a raiva, a impotência", afirma Vidal. "É um momento de euforia, aceleração. É minha forma de mostrar a disposição política da juventude, a capacidade ou a incapacidade de armar ideias e se posicionar, a resposta em vez do combate."
Ainda na linha política que não despreza a estética, o coletivo espanhol Democracia faz da demolição de uma favela em Madri um grande espetáculo, cheio de som, cores e fúria.



REPEAT ALL
Quando: abertura hoje, às 18h; de ter. a sex., das 12h às 19h; sáb. e dom., das 11h às 18h; até 29/3
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 0/ xx/11/2117-4777)
Quanto: entrada franca




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