São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

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MÚSICA

Depeche Mode celebra sua "escuridão natural"

Com lançamento marcado para abril, "Sounds of the Universe" é o 12º CD da banda

Artistas quiseram fazer um lançamento tradicional, mas músicas já começam a surgir na internet; para cantor, "é um fato da vida"

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

"Tem muito humor em nosso trabalho. E, se você analisar as letras, verá que são bastante positivas e espirituais."
Não, não se trata de gospel ou de new age. O autor das frases acima é Martin Gore, do trio britânico Depeche Mode, para provável surpresa de quem cresceu ouvindo um grupo cujos fãs já foram descritos como "gente que só sai à noite e de óculos escuros".
Mas foi assim que o letrista, tecladista e guitarrista descreveu, em entrevista à Folha, em Nova York, "Sounds of the Universe", 12º disco da banda. Com 13 faixas inéditas mais cinco faixas-bônus da caixa especial, o álbum terá lançamento mundial em 20 de abril.
De jeans, camiseta e gorro de lã escondendo a cabeleira loira, um bem-humorado Gore recebeu a reportagem sem traços de negativismo. "Há sempre uma "escuridão" natural ou presumida sobre nosso som, mesmo quando, para mim, algumas das faixas não são nem um pouco "dark'", explica. Ele cita como exemplo as novas músicas "Little Soul" e "Peace".
Na primeira, ri ao escutar um trecho de órgão acrescentado em meio às frases "minha pequena alma vai deixar uma pegada/ estou canalizando o universo". Na última, o vocalista Dave Gahan canta "a paz virá até mim/ estou deixando a amargura para trás/ é hora de clarear minha mente".
Mas isso não significa que os saudosos do tecno-pop icônico e por vezes obsessivo do Depeche Mode ficarão decepcionados. Gore, Gahan e Andrew Fletcher (teclado) continuam fiéis ao som um tanto quanto misterioso e cheio de distorções que chegou ao auge com o álbum "Violator" em 1990, cujo single "Enjoy the Silence" ainda é provavelmente o mais reconhecido do grupo.
"Wrong", por exemplo, tem letras menos otimistas e canta um mundo de decisões erradas. Será o primeiro single do disco, com lançamento previsto para 6 de abril.

Já vazou
Para quem se lembra de "Strangelove" (1987), boas notícias: o amor continua estranho. "As músicas mais interessantes para mim são as que mostram algum tipo de relacionamento ruim -mas com um ponto especial", diz Gore. "Veja "Jezebel" [balada de "Sounds of the Universe']: tem algo distorcido na relação e a música em si tem um som estranho, meio retrô dos anos 1950 ou 1960, com toques de pop "space age" dos anos 60."
O DM preferiu um lançamento tradicional, mas não pôde evitar que uma música ("Fragile Tension") vazasse na internet. E, segundo Gore, a origem do vazamento está em uma gravação entregue ao grupo MGMT (de quem ele é fã) para mixagem. "Deve ter sido alguém do estúdio deles", diz. "É quase inevitável o vazamento. É um fato da vida, temos que aceitar agora."
Quem ouvir a faixa já vai notar a semelhança com o som original da banda, provocada em parte pelo uso de sintetizadores analógicos e antigas "drum machines" (percussões eletrônicas), uma mania assumida de Gore.
A verdade é que a abordagem do DM não mudou com a evolução tecnológica. "Começamos como um grupo eletrônico, e os sintetizadores que usávamos eram muito difíceis de programar. Foi ficando cada vez mais fácil, mas o processo básico continua muito similar", afirmou, dizendo que foram "as bandinhas de guitarra" que se aproximaram de seu estilo.
Indagado sobre os efeitos do amadurecimento -o Depeche Mode foi criado em 1981- Gore diz que o trio está em uma fase mais tranquila. Não foi fácil chegar lá, depois de problemas com drogas que quase mataram Gahan por overdose de heroína em 1996.
"Nos respeitamos muito mais hoje em dia, e isso ajuda no estúdio. Nos últimos dois discos houve um clima muito bom na gravação."

Turnê em SP
Ele nega, porém, a percepção de ostracismo dos anos 90. "Nossas vendas sempre foram estáveis, descontando um pico com "Violator". Mesmo "Ultra" [1997], gravado num período muito difícil para nós, ficou bom, na minha opinião."
A turnê de "Sounds of the Universe" deverá vir ao país no segundo semestre. A última vez que o grupo esteve em São Paulo foi em 1994: "Não foi uma época boa na história da banda", diz Gore. "Tudo o que me lembro é de ter ido a um bar".


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