|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Depeche Mode celebra sua "escuridão natural"
Com lançamento marcado para abril, "Sounds of the Universe" é o 12º CD da banda
Artistas quiseram fazer um lançamento tradicional, mas músicas já começam a surgir na internet; para cantor, "é um fato da vida"
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
"Tem muito humor em nosso
trabalho. E, se você analisar as
letras, verá que são bastante
positivas e espirituais."
Não, não se trata de gospel ou
de new age. O autor das frases
acima é Martin Gore, do trio
britânico Depeche Mode, para
provável surpresa de quem
cresceu ouvindo um grupo cujos fãs já foram descritos como
"gente que só sai à noite e de
óculos escuros".
Mas foi assim que o letrista,
tecladista e guitarrista descreveu, em entrevista à Folha, em
Nova York, "Sounds of the Universe", 12º disco da banda. Com
13 faixas inéditas mais cinco
faixas-bônus da caixa especial,
o álbum terá lançamento mundial em 20 de abril.
De jeans, camiseta e gorro de
lã escondendo a cabeleira loira,
um bem-humorado Gore recebeu a reportagem sem traços
de negativismo. "Há sempre
uma "escuridão" natural ou presumida sobre nosso som, mesmo quando, para mim, algumas
das faixas não são nem um
pouco "dark'", explica. Ele cita
como exemplo as novas músicas "Little Soul" e "Peace".
Na primeira, ri ao escutar um
trecho de órgão acrescentado
em meio às frases "minha pequena alma vai deixar uma pegada/ estou canalizando o universo". Na última, o vocalista
Dave Gahan canta "a paz virá
até mim/ estou deixando a
amargura para trás/ é hora de
clarear minha mente".
Mas isso não significa que os
saudosos do tecno-pop icônico
e por vezes obsessivo do Depeche Mode ficarão decepcionados. Gore, Gahan e Andrew
Fletcher (teclado) continuam
fiéis ao som um tanto quanto
misterioso e cheio de distorções que chegou ao auge com o
álbum "Violator" em 1990, cujo
single "Enjoy the Silence" ainda é provavelmente o mais reconhecido do grupo.
"Wrong", por exemplo, tem
letras menos otimistas e canta
um mundo de decisões erradas.
Será o primeiro single do disco,
com lançamento previsto para
6 de abril.
Já vazou
Para quem se lembra de
"Strangelove" (1987), boas notícias: o amor continua estranho. "As músicas mais interessantes para mim são as que
mostram algum tipo de relacionamento ruim -mas com um
ponto especial", diz Gore. "Veja
"Jezebel" [balada de "Sounds of
the Universe']: tem algo distorcido na relação e a música em si
tem um som estranho, meio retrô dos anos 1950 ou 1960, com
toques de pop "space age" dos
anos 60."
O DM preferiu um lançamento tradicional, mas não pôde evitar que uma música
("Fragile Tension") vazasse na
internet. E, segundo Gore, a
origem do vazamento está em
uma gravação entregue ao grupo MGMT (de quem ele é fã)
para mixagem. "Deve ter sido
alguém do estúdio deles", diz.
"É quase inevitável o vazamento. É um fato da vida, temos que
aceitar agora."
Quem ouvir a faixa já vai notar a semelhança com o som
original da banda, provocada
em parte pelo uso de sintetizadores analógicos e antigas
"drum machines" (percussões
eletrônicas), uma mania assumida de Gore.
A verdade é que a abordagem
do DM não mudou com a evolução tecnológica. "Começamos como um grupo eletrônico, e os sintetizadores que usávamos eram muito difíceis de
programar. Foi ficando cada
vez mais fácil, mas o processo
básico continua muito similar",
afirmou, dizendo que foram "as
bandinhas de guitarra" que se
aproximaram de seu estilo.
Indagado sobre os efeitos do
amadurecimento -o Depeche
Mode foi criado em 1981- Gore
diz que o trio está em uma fase
mais tranquila. Não foi fácil
chegar lá, depois de problemas
com drogas que quase mataram
Gahan por overdose de heroína
em 1996.
"Nos respeitamos muito
mais hoje em dia, e isso ajuda
no estúdio. Nos últimos dois
discos houve um clima muito
bom na gravação."
Turnê em SP
Ele nega, porém, a percepção
de ostracismo dos anos 90.
"Nossas vendas sempre foram
estáveis, descontando um pico
com "Violator". Mesmo "Ultra"
[1997], gravado num período
muito difícil para nós, ficou
bom, na minha opinião."
A turnê de "Sounds of the
Universe" deverá vir ao país no
segundo semestre. A última vez
que o grupo esteve em São Paulo foi em 1994: "Não foi uma
época boa na história da banda", diz Gore. "Tudo o que me
lembro é de ter ido a um bar".
Texto Anterior: Crítica: N.A.S.A. acerta quando não segue roteiro Próximo Texto: CDs Índice
|