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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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Academia fica em cima do muro

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Toda a cerimônia foi estranha. Ao clima tenso que a precedeu, seguiu-se a entrada de um Steve Martin inspirado, e era como se não houvesse guerra.
Mas ela estava lá, na surdina, até que Michael Moore, Oscar de documentário, a trouxe para o centro, chamando Bush, entre outras, de presidente fictício.
A música da orquestra apenas deixou entreouvir a divisão da platéia entre vaias e aplausos. A idéia era abafar qualquer polêmica sobre a guerra no Iraque. Mas estava claro: assim como a nação americana, a classe cinematográfica -ou pelo menos os presentes à cerimônia- não tem posição muito definida sobre o assunto.
Da mesma forma, a divisão dos prêmios mais evidentes deixou clara essa indefinição. O prêmio de melhor filme foi para "Chicago", musical agradável, mas que em não poucos momentos denota sua origem teatral. Foi um prêmio para a tradição do entretenimento, quase uma declaração de retraimento político.
"O Pianista" ficou com três grandes prêmios, os de roteiro adaptado, diretor e ator: prêmios indiretos ao espetáculo do Holocausto, setor Gueto de Varsóvia. Pedro Almodóvar levou o Oscar de melhor roteiro original, confirmando a admiração de Hollywood pelo realizador espanhol. Mas trata-se de um trabalho indiscutivelmente belo.
O Oscar de melhor atriz a Nicole Kidman por "As Horas" parece retomar a tendência da academia de premiar atrizes que representam bilheteria segura (já havia acontecido com Julia Roberts).
"Gangues de Nova York" e Martin Scorsese foram os esquecidos do ano. Sinal de que, num momento de crise, Hollywood preferiu, decididamente, ficar em cima do muro.


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