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Academia fica em cima do muro
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Toda a cerimônia foi estranha. Ao clima tenso que a
precedeu, seguiu-se a entrada de
um Steve Martin inspirado, e era
como se não houvesse guerra.
Mas ela estava lá, na surdina, até
que Michael Moore, Oscar de documentário, a trouxe para o centro, chamando Bush, entre outras,
de presidente fictício.
A música da orquestra apenas
deixou entreouvir a divisão da
platéia entre vaias e aplausos. A
idéia era abafar qualquer polêmica sobre a guerra no Iraque. Mas
estava claro: assim como a nação
americana, a classe cinematográfica -ou pelo menos os presentes
à cerimônia- não tem posição
muito definida sobre o assunto.
Da mesma forma, a divisão dos
prêmios mais evidentes deixou
clara essa indefinição. O prêmio
de melhor filme foi para "Chicago", musical agradável, mas que
em não poucos momentos denota sua origem teatral. Foi um prêmio para a tradição do entretenimento, quase uma declaração de
retraimento político.
"O Pianista" ficou com três
grandes prêmios, os de roteiro
adaptado, diretor e ator: prêmios
indiretos ao espetáculo do Holocausto, setor Gueto de Varsóvia.
Pedro Almodóvar levou o Oscar
de melhor roteiro original, confirmando a admiração de Hollywood pelo realizador espanhol.
Mas trata-se de um trabalho indiscutivelmente belo.
O Oscar de melhor atriz a Nicole
Kidman por "As Horas" parece
retomar a tendência da academia
de premiar atrizes que representam bilheteria segura (já havia
acontecido com Julia Roberts).
"Gangues de Nova York" e
Martin Scorsese foram os esquecidos do ano. Sinal de que, num
momento de crise, Hollywood
preferiu, decididamente, ficar em
cima do muro.
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