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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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FESTIVAL DE CURITIBA

Festival dá rara visibilidade a criações alternativas, como "A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo"

Grande vitrine de surpresas junta blefes e promessas

SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Um festival que oferece 180 espetáculos tem as vantagens e as desvantagens de uma grande vitrine: dá rara visibilidade a alternativos, mas acaba promovendo uma corrida a rótulos berrantes. Na ânsia de transgredir o esperado, atores se lambuzam de lodo e glacê de bolo, dançam com balões (como na peça "Pequena Epifania, Um Réquiem para Todos Nós") e simulam orgasmos, para o terror ou a piedade da platéia.
Lado a lado, como laranjas na feira, espetáculos-blefe acabam contaminando corretos trabalhos escolares, e é preciso serenidade para lembrar que "A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo", de Brecht, é só um exercício proposto por Marcelo Lazzarato a seus alunos da Unicamp.
Apesar de belas imagens, a peça não promove a discussão. A didática está na aplicação quase ao pé da letra de técnicas brechtianas.
Se escapar à pretensão, porém, forte tentação após a exposição no festival, o grupo tem condições para percorrer os mesmos caminhos da outra companhia de Lazzaratto, a Elevador Panorâmico, que, com semelhantes origens, firma o pé na Mostra Oficial.
Por contraste, peças que se propõem apenas a contar bem uma boa história acabam se destacando pela honestidade. O clássico de Charles Dickens, "Grandes Esperanças", é bem defendido por atores seguros e pelo diretor/adaptador curitibano Luciano Coelho que, embora vindo de uma premiada carreira no cinema, busca antes de tudo o despojamento teatral nessa sua estréia no palco. Falta correr o risco de sintetizar mais a longa história, diminuindo as narrações submissas demais às fontes literárias.
Evidentemente, o que o público garimpa na lista diária do festival é a soma de tudo isso: um espetáculo de linguagem inovadora, desenvolvida antes de tudo para servir a seu conteúdo, que una despojamento e profundidade. No Fringe, o exemplo até agora é "A Volta ao Dia..." , de Márcio Abreu. Na Mostra Oficial, o deslumbrante "Mire Veja", da Cia. do Feijão. Mas a eles se deve um espaço maior do que essas breves crônicas do front teatral curitibano.


O jornalista Valmir Santos, a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro e o crítico Sergio Salvia Coelho viajam a convite do FTC

A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo -   
Grandes Esperanças -    


ilustrada online
Confira a programação completa do festival em
www.folha.com.br/especial/2003/festivaldeteatrodecuritiba/


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