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ARTES PLÁSTICAS
Mostra quer reverter inferioridade do suporte no mercado
Obra de Serpa tenta dar valor ao papel
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Segundo a prática nas leis de
mercado das artes plásticas, obras
em papel costumam ter um valor
bem inferior à pintura ou à escultura. Visando reverter tal tendência, o galerista André Millan inicia, hoje, uma série de mostras
tendo o papel como principal suporte e o artista plástico Ivan Serpa (1923-1973) como pioneiro para tal empreitada.
"Desde os anos 20, artistas brasileiros têm uma grande produção em papel que não é corretamente valorizada. Eu acredito que
não deva ser o suporte que assegure o valor de uma obra, mas,
sim, sua qualidade", diz Millan.
Essa operação já anda em curso
em sua galeria. Obras em papel do
artista Tunga, representado pelo
galerista, por exemplo, já são oferecidas pelo mesmo que suas esculturas: US$ 25 mil em média.
"Escolhi o Ivan Serpa para inaugurar essa série pois vejo que há
uma tendência em se apresentar
apenas a arte brasileira dos anos
90 e dos 50, especialmente Hélio
Oiticica e Lygia Clark. Tudo que
foi produzido entre essas duas décadas tem sido descartado. Por isso é preciso rever certos valores, e
o Serpa, que está praticamente
ausente das coleções privadas de
São Paulo, é um bom começo",
conta Millan, que pretende ainda
expor obras em papel de Maria
Leontina e Roberto Magalhães,
durante este ano.
Junto com Hélio Oiticica, Franz
Weissman e Mário Pedrosa, entre
outros, Serpa foi fundador do
grupo Frente, a versão carioca do
concretismo brasileiro, nos anos
50, bem menos formalista que a
versão paulista, com o grupo
Ruptura, e que depois seria a origem do movimento neoconcreto.
A produção de Serpa, que em sua
carreira teve um importante papel como professor, dos anos 50
alcançou grande visibilidade. Ele
participou da exposição "Concretos Brasileiros", organizada por
Max Bill (1908-1994), em Zurique
(Suíça), em 1960, onde chegou a
ser premiado. Na mostra da galeria Millan, esse período está presente em dez trabalhos, todos em
pequeno formato.
Pequenas dimensões
Aliás, todos os 60 trabalhos
apresentados na galeria paulistana são de pequenas dimensões,
ocupando apenas a primeira sala
do espaço, tornando a mostra
uma espécie de exposição de câmara. Mas o conjunto é representativo da diversidade da produção
de Serpa, que transitou entre o
abstrato e o figurativo, como a
maioria de sua geração.
A série negra, um de seus mais
significativos trabalhos, produzidos nos anos 60, que de certa forma antecipa o neo-expressionismo da década de 80, está presente
em cinco obras, expostas numa
parede pintada de preto.
"Estou me atrevendo a dar uma
de cenógrafo", brinca Millan, que
recentemente encerrou sua sociedade com Jones Bergamin, da
Bolsa de Artes, e até o fim do ano
muda o nome da galeria, graças à
nova sócia, Florence Antonio.
Apesar da diversidade da produção de Serpa exibida na mostra, o conjunto acaba por não revelar o vigor da produção do artista, o que, segundo Millan, deve-se à preocupação em problematizar o suporte. "Concordo que existem trabalhos mais fortes,
mas a questão aqui é apresentar
obras em papel. Essa mostra é
apenas uma nota de uma frase
musical", diz o galerista.
IVAN SERPA. Mostra com 60 trabalhos
do artista carioca, produzidos nos anos
50, 60 e 70. Onde: galeria André Millan (r.
Rio Preto, 63, SP, tel. 0/xx/11/3062-5722.
Quando: abertura hoje, às 19h; de seg. a
sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h.
Até 16/4. Quanto: entrada franca; obras
de R$ 15 mil a R$ 45 mil.
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