São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra quer reverter inferioridade do suporte no mercado

Obra de Serpa tenta dar valor ao papel

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo a prática nas leis de mercado das artes plásticas, obras em papel costumam ter um valor bem inferior à pintura ou à escultura. Visando reverter tal tendência, o galerista André Millan inicia, hoje, uma série de mostras tendo o papel como principal suporte e o artista plástico Ivan Serpa (1923-1973) como pioneiro para tal empreitada.
"Desde os anos 20, artistas brasileiros têm uma grande produção em papel que não é corretamente valorizada. Eu acredito que não deva ser o suporte que assegure o valor de uma obra, mas, sim, sua qualidade", diz Millan. Essa operação já anda em curso em sua galeria. Obras em papel do artista Tunga, representado pelo galerista, por exemplo, já são oferecidas pelo mesmo que suas esculturas: US$ 25 mil em média.
"Escolhi o Ivan Serpa para inaugurar essa série pois vejo que há uma tendência em se apresentar apenas a arte brasileira dos anos 90 e dos 50, especialmente Hélio Oiticica e Lygia Clark. Tudo que foi produzido entre essas duas décadas tem sido descartado. Por isso é preciso rever certos valores, e o Serpa, que está praticamente ausente das coleções privadas de São Paulo, é um bom começo", conta Millan, que pretende ainda expor obras em papel de Maria Leontina e Roberto Magalhães, durante este ano.
Junto com Hélio Oiticica, Franz Weissman e Mário Pedrosa, entre outros, Serpa foi fundador do grupo Frente, a versão carioca do concretismo brasileiro, nos anos 50, bem menos formalista que a versão paulista, com o grupo Ruptura, e que depois seria a origem do movimento neoconcreto. A produção de Serpa, que em sua carreira teve um importante papel como professor, dos anos 50 alcançou grande visibilidade. Ele participou da exposição "Concretos Brasileiros", organizada por Max Bill (1908-1994), em Zurique (Suíça), em 1960, onde chegou a ser premiado. Na mostra da galeria Millan, esse período está presente em dez trabalhos, todos em pequeno formato.

Pequenas dimensões
Aliás, todos os 60 trabalhos apresentados na galeria paulistana são de pequenas dimensões, ocupando apenas a primeira sala do espaço, tornando a mostra uma espécie de exposição de câmara. Mas o conjunto é representativo da diversidade da produção de Serpa, que transitou entre o abstrato e o figurativo, como a maioria de sua geração.
A série negra, um de seus mais significativos trabalhos, produzidos nos anos 60, que de certa forma antecipa o neo-expressionismo da década de 80, está presente em cinco obras, expostas numa parede pintada de preto.
"Estou me atrevendo a dar uma de cenógrafo", brinca Millan, que recentemente encerrou sua sociedade com Jones Bergamin, da Bolsa de Artes, e até o fim do ano muda o nome da galeria, graças à nova sócia, Florence Antonio.
Apesar da diversidade da produção de Serpa exibida na mostra, o conjunto acaba por não revelar o vigor da produção do artista, o que, segundo Millan, deve-se à preocupação em problematizar o suporte. "Concordo que existem trabalhos mais fortes, mas a questão aqui é apresentar obras em papel. Essa mostra é apenas uma nota de uma frase musical", diz o galerista.


IVAN SERPA. Mostra com 60 trabalhos do artista carioca, produzidos nos anos 50, 60 e 70. Onde: galeria André Millan (r. Rio Preto, 63, SP, tel. 0/xx/11/3062-5722. Quando: abertura hoje, às 19h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h. Até 16/4. Quanto: entrada franca; obras de R$ 15 mil a R$ 45 mil.


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