São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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POPLOAD

O pop vai nos dilacerar (de novo)

Reprodução
Ian Curtis, líder do Joy Division


LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

O fantasma atormentado de Ian Curtis volta a assombrar o pop. O líder-mártir do abençoado Joy Division, banda de Manchester do pós-punk, está entre nós, embora há muito não esteja entre nós.
Em maio próximo serão lembrados os 25 anos da trágica morte do cantor, considerado o Jekyll e Hyde do rock. Curtis se enforcou aos 23 anos. Foi encontrado morto no dia 18 de maio de 1980, um dia antes de o Joy Division partir para sua primeira turnê nos Estados Unidos.
A efeméride funesta, a volta do New Order (a continuação do Joy Division sem Curtis), um filme sobre sua vida e a influência de sua banda sobre algumas das principais bandas novas recolocam seu nome na ordem do dia.
Nos próximos dias devem ser anunciados o elenco, o título e os detalhes da produção de "Control", ou "Touching from a Distance", que vai levar às telas a curta e marcante história de Ian Curtis. O ator Jude Law pode interpretá-lo. Outro cotado a reviver a vida do garoto tímido de família que às vezes se transformava em um sujeito violento (e, doente, muitas vezes teve ataque epilético em pleno palco) é Sean Harris, que já foi Curtis no filme "A Festa Nunca Termina" ("24 Hour Party People", 2002).
"Touching from a Distance" é o nome da famosa biografia de Ian Curtis lançada em 2001, a vida do cantor sob a perspectiva de sua viúva, Deborah, que concordou com o filme, desde que seja realizado pelas pessoas que conviveram com o ex-marido.
Tony Wilson, importante agitador da cena de Manchester do punk até o Happy Mondays, vai co-produzir o filme com Deborah. O notável fotógrafo do rock Anton Corbijn assinará a direção.
O músico e produtor americano Moby, fã declarado de Joy Division, terá seu nome envolvido com o filme. Duas trilhas sonoras chegarão às lojas junto do lançamento de "Control". Uma com músicas do Joy Division. Outra com outras bandas interpretando Joy Division. Parece que Tony Wilson já enviou músicas da banda de Ian Curtis para U2, Morrissey, Doves, Kraftwerk, Marilyn Manson e o próprio Moby. E só o grupo alemão negou o projeto, alegando incapacidade de mexer com uma música do Joy Division.
Enquanto isso, o novo rock reverbera Joy Division por vários poros. A revista britânica "Q" mapeou a influência do grupo da nova música deste modo:
* a voz de barítono: o cantor do Interpol, Paul Banks, incorpora Curtis no tom de voz e na capacidade de cantar situações de desespero.
* a bateria seca e quebrada: o ótimo Bloc Party reproduz hoje nas batidas o que Stephen Morris fez lá em 1978.
* o baixo marcante: a pulsação de Peter Hook pode ser ouvida nas boas músicas do grupo americano The Killers.
* a barba: o Peter Hook de 1980 e Jimi Goodwin, do Doves, entram em qualquer seção de "separados no nascimento".
* a roupa "militar chic": a excêntrica banda British Sea Power, tal qual Curtis e Hook lá atrás, adoram se vestir como um capitão do Exército alemão.

Amor e morte
Em 17 de maio, por volta das 17h, depois de um ensaio que visava já a turnê americana, Peter Hook deu carona para Curtis até a casa dos pais do cantor. "A gente voltou falando sobre a excitante expectativa de tocar nos EUA."
O que se sabe é que, mais tarde, Curtis teria ido para sua casa e viu "Stroszek", filme do diretor alemão Werner Herzog (em que um músico de rua da Alemanha vai para os EUA viver o sonho americano e acaba se suicidando).
Naquela noite, Deborah chegava em casa, vindo da disco onde trabalhava. O casamento dos dois estava terminando em divórcio, depois que Deborah descobriu que Curtis tinha uma amante. Curtis não deixou Deborah entrar em casa. Pediu para ela ir dormir nos pais. Cansada do trabalho e das brigas, Deborah concordou. Depois que a mulher se foi, Curtis fez um café, botou "The Idiot" (Iggy Pop) para tocar e se enforcou com os lençóis da cama.
Como bilhete de despedida para Deborah, deixou a música "Love Will Tears Us Apart" ("O Amor Vai Nos Dilacerar"), que viria ser a mais famosa música do Joy Division.
"Por que o quarto está tão frio? E você deitada ao meu lado, virada para a parede."

@ - lucio@uol.com.br


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