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POPLOAD
O pop vai nos dilacerar (de novo)
Reprodução
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Ian Curtis, líder do Joy Division |
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
O fantasma atormentado
de Ian Curtis volta a assombrar o pop. O líder-mártir do
abençoado Joy Division, banda de
Manchester do pós-punk, está entre nós, embora há muito não esteja entre nós.
Em maio próximo serão lembrados os 25 anos da trágica morte do cantor, considerado o Jekyll
e Hyde do rock. Curtis se enforcou aos 23 anos. Foi encontrado
morto no dia 18 de maio de 1980,
um dia antes de o Joy Division
partir para sua primeira turnê nos
Estados Unidos.
A efeméride funesta, a volta do
New Order (a continuação do Joy
Division sem Curtis), um filme
sobre sua vida e a influência de
sua banda sobre algumas das
principais bandas novas recolocam seu nome na ordem do dia.
Nos próximos dias devem ser
anunciados o elenco, o título e os
detalhes da produção de "Control", ou "Touching from a Distance", que vai levar às telas a curta e marcante história de Ian Curtis. O ator Jude Law pode interpretá-lo. Outro cotado a reviver a
vida do garoto tímido de família
que às vezes se transformava em
um sujeito violento (e, doente,
muitas vezes teve ataque epilético
em pleno palco) é Sean Harris,
que já foi Curtis no filme "A Festa
Nunca Termina" ("24 Hour Party
People", 2002).
"Touching from a Distance" é o
nome da famosa biografia de Ian
Curtis lançada em 2001, a vida do
cantor sob a perspectiva de sua
viúva, Deborah, que concordou
com o filme, desde que seja realizado pelas pessoas que conviveram com o ex-marido.
Tony Wilson, importante agitador da cena de Manchester do
punk até o Happy Mondays, vai
co-produzir o filme com Deborah. O notável fotógrafo do rock
Anton Corbijn assinará a direção.
O músico e produtor americano
Moby, fã declarado de Joy Division, terá seu nome envolvido
com o filme. Duas trilhas sonoras
chegarão às lojas junto do lançamento de "Control". Uma com
músicas do Joy Division. Outra
com outras bandas interpretando
Joy Division. Parece que Tony
Wilson já enviou músicas da banda de Ian Curtis para U2, Morrissey, Doves, Kraftwerk, Marilyn
Manson e o próprio Moby. E só o
grupo alemão negou o projeto,
alegando incapacidade de mexer
com uma música do Joy Division.
Enquanto isso, o novo rock reverbera Joy Division por vários
poros. A revista britânica "Q" mapeou a influência do grupo da nova música deste modo:
* a voz de barítono: o cantor do
Interpol, Paul Banks, incorpora
Curtis no tom de voz e na capacidade de cantar situações de desespero.
* a bateria seca e quebrada: o
ótimo Bloc Party reproduz hoje
nas batidas o que Stephen Morris
fez lá em 1978.
* o baixo marcante: a pulsação
de Peter Hook pode ser ouvida
nas boas músicas do grupo americano The Killers.
* a barba: o Peter Hook de 1980 e
Jimi Goodwin, do Doves, entram
em qualquer seção de "separados
no nascimento".
* a roupa "militar chic": a excêntrica banda British Sea Power,
tal qual Curtis e Hook lá atrás,
adoram se vestir como um capitão do Exército alemão.
Amor e morte
Em 17 de maio, por volta das
17h, depois de um ensaio que visava já a turnê americana, Peter
Hook deu carona para Curtis até a
casa dos pais do cantor. "A gente
voltou falando sobre a excitante
expectativa de tocar nos EUA."
O que se sabe é que, mais tarde,
Curtis teria ido para sua casa e viu
"Stroszek", filme do diretor alemão Werner Herzog (em que um
músico de rua da Alemanha vai
para os EUA viver o sonho americano e acaba se suicidando).
Naquela noite, Deborah chegava em casa, vindo da disco onde
trabalhava. O casamento dos dois
estava terminando em divórcio,
depois que Deborah descobriu
que Curtis tinha uma amante.
Curtis não deixou Deborah entrar
em casa. Pediu para ela ir dormir
nos pais. Cansada do trabalho e
das brigas, Deborah concordou.
Depois que a mulher se foi, Curtis
fez um café, botou "The Idiot"
(Iggy Pop) para tocar e se enforcou com os lençóis da cama.
Como bilhete de despedida para
Deborah, deixou a música "Love
Will Tears Us Apart" ("O Amor
Vai Nos Dilacerar"), que viria ser
a mais famosa música do Joy Division.
"Por que o quarto está tão frio?
E você deitada ao meu lado, virada para a parede."
@ - lucio@uol.com.br
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