São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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CDS

HUMAN AFTER ALL

CD da dupla chega às lojas brasileiras na semana que vem

Daft Punk retorna com álbum que oscila entre disco e rock

DA REPORTAGEM LOCAL

No ano passado, o escritório britânico da gravadora Domino Records recebeu um envelope carregando um CD. Na capa do disco, um papel: "Take Me Out -(Daft Punk Mix)". A princípio, não acreditaram que a reclusa dupla francesa, que não gravava desde 2001, tivesse perdido tempo remixando um hit de Franz Ferdinand. Foram confirmar. Sim, o remix era do Daft Punk. Resultado: a Domino lançou a versão em single e a música estourou.
O público gostou, mas a dupla foi alvo de críticas fortes. É que a versão é um remix econômico e heterodoxo: eles não mexeram muito na canção, apenas alteraram o tempo de uma batida aqui, colocaram barulhos sujos no meio de uma guitarra ali e pronto. Bem, este "Human After All", terceiro disco do Daft Punk, parte do mesmo princípio que pariu o remix. Deve levar pedradas.
"Human After All", segundo a dupla, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, demorou apenas um mês e meio para ser feito. No rock isso é coisa mais banal -o White Stripes fez seu "Elephant" em dez dias-, já a eletrônica é território em que o adjetivo "cru" não costuma ser utilizado com freqüência.
Se ao realizar o remix de "Take Me Out" eles respeitaram até demais a canção, apenas dando algumas pinceladas de verniz, como se a música fosse quase irretocável, em "Human After All" é o próprio catálogo do Daft Punk -e a disco dos anos 70- que recebe tratamento reverencioso.
Praticamente tudo o que está no álbum, que chega às lojas do país na semana que vem, já esteve presente nos dois discos anteriores da dupla: "Homework" (1997) e "Discovery" (2001).
Além de olhar para si próprio, o duo, mais do que buscar referências, presta homenagem ao rock e à disco de 30 anos atrás. Quando "Human After All" pende para a disco, ele cresce; quando se inclina para o rock, soa cansativo.
A viagem ao passado tem início logo na faixa-título. "Human After All" abusa do vocoder, tem uma bateria provocativa, é funkeada, como se James Brown fosse robotizado -ou como se o Daft Punk fosse humano.
De James Brown para Kraftwerk. Os alemães são o espelho em "Prime Time of Your Life" e em "Technologic".
Se "Make Love" é um Daft Punk mais calmo, como se estivesse guiando um chill out, "The Brainwasher" é a dupla mirando as pistas, jogando uma acid house dançante, que lembra Chemical Brothers no início dos 90.
"Emotion" encerra o álbum também abusando do vocoder, com um vocal repetindo o título da canção; é como um cover do Aphex Twin por Brian Eno.
O lado rock de "Human After All" é sintetizado por "Robot Rock", que é também o single. Inicia com riff de guitarra que não ficaria fora de ordem num disco do Van Halen o problema é que não é um Van Halen da época de "Diver Down" ou "1984", é um Van Halen dos anos 90, enfadonho e repetitivo. "Steam Machine" é irrelevante; "Television Rules the Nation", com mais guitarra hard rock e mais vocoder, irrita.
"Human After All" não tem o ineditismo de "Homework" ou "Discovery", mas estão ali os ingredientes que fizeram do Daft Punk ser o que é. (THIAGO NEY)


Human After All
   
Artista: Daft Punk
Lançamento: EMI (semana que vem)
Quanto: R$ 35, em média



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