São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"MILES ELECTRIC"

Miles Davis "da tomada" é eletrizante

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Miles Davis plugou sua música na tomada, no final dos anos 60, o mundo da música tomou um choque. Alguns comemoraram gritando heurecas, outros tantos clamaram que um dos maiores gigantes do jazz entrara em curto-circuito.
Mais de 30 anos se passaram, Davis morreu há uma década e tanto, mas essa história ainda continua envolta em faíscas.
Teria ele nesta guinada rumo ao pop se vendido ou o maior criador de revoluções jazzísticas de todos os tempos vivia apenas mais uma de suas iluminações?
Não existe instrumento melhor para responder a essa questão do que um DVD recém-lançado no mercado brasileiro.
"Miles Electric" é o documento por excelência da relação do trompetista americano (1926-91) com elétrons, prótons e nêutrons.
Produção de esmero raramente visto no mercado de DVDs jazzísticos, o filme tem dois pacotes de trunfos insuperáveis.
Por um lado, o passado. O documentário bebe em um arquivo farto e selecionado de imagens de Miles em ação, apresentando sua música já eletrificada em festivais mundo afora, com diversas formações musicais. As cenas de show no gigantesco festival pop da Ilha de Wight (Reino Unido), em 1970, são a jóia dessa coroa.
Por outro lado, o presente. "Miles Electric" reúne depoimentos de todos os músicos importantes vivos que interagiram com o instrumentista durante o período. É chance rara de ver, por exemplo, depoimentos dos maiores astros contemporâneos do piano jazzístico: Keith Jarrett, Herbie Hancock e Chick Corea.
Além dessas falas muito bem entremeadas no roteiro do filme, o DVD ainda tem como extra versões maiores das entrevistas.
E não só arremessadores de confetes têm vez. Se o DVD registra o guitarrista Santana testemunhando um "orgasmo espiritual" com o Miles elétrico, ele traz também um dos principais críticos de jazz vivo, Stanely Crouch, testemunhando em registro barítono: "Isto é tudo bobagem".
Miles Davis também tem voz no DVD. E defende que conseguia ouvir melhor o que fazia com instrumentos elétricos.
Quem quiser ver mais cenas disso tem como um "extra" um outro DVD que sai agora. "Miles Davis in Munich" registra show do músico em 1988, na Alemanha. O disco, duplo, traz "brindes" duvidosos: uma galeria dos desenhos feitos pelo músico (como desenhista, sem dúvida ótimo trompetista), uma entrevista, que apesar da imbecilidade das perguntas tem bons momentos, e mais duas atrações indecentes.
Sob a rubrica "Comentários de Adam Holzman, Tecladista de Miles Davis" não vemos o tal cidadão. É um texto o que aparece na tela. A mesma artimanha é usada no item "linha do tempo". Nestas horas sim é indiscutível. Vale tirar tudo da tomada.


Miles Electric
    
Lançamento: ST2 Vídeo
Quanto: R$ 57, em média
Miles Davis Live in Munich
  
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 69, em média



Texto Anterior: CDs: Daft Punk retorna com álbum que oscila entre disco e rock
Próximo Texto: Hipersônicas: Remix Converte Nine Inch Nails
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.