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Fringe, em Curitiba, reúne quase 300 peças
Companhias se agrupam em "mostras dentro da mostra" para ter visibilidade
Para cocuradora, teatro é aventura arriscada: "É como se fosse uma chuva: você vai se molhar; quem gosta de teatro tem de se expor"
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
A ausência de curadoria e o
gigantismo (são 290 peças) do
Fringe, mostra paralela do Festival de Curitiba, dão a quem se
aventura por sua programação
a sensação de navegar por mares incertos. É certo que há zonas cuja navegabilidade restrita é explícita -algum incauto
topa encarar "A Gorda e o
Anão", "Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas" ou "Pequenas Caquinhas"?
Mas também há trabalhos
dos quais é possível pinçar qualidades e promessas que acabam escondidos nas profundezas desse oceano teatral. A
"boia" que algumas jovens
companhias de Curitiba encontraram para não submergir foi a
associação em "mostras dentro
da mostra".
O Coletivo de Pequenos Conteúdos reúne quatro delas, uma
a menos do que a mostra Novos
Repertórios.
Atores e diretores dos grupos
envolvidos apontam a busca de
visibilidade como a principal
razão da parceria. "É um diferencial que pode atrair quem
busca algum tipo de orientação
no Fringe. E, se a pessoa vê uma
peça e gosta, volta para as outras", diz o ator da Cia. Transitória Thiago Inácio, 24, também produtor do Pequenos
Conteúdos.
Para Diego Fortes, 26, ator e
diretor da Cia. A Armadilha
(que integra a Novos Repertórios com a peça "Jornal da
Guerra Contra os Taedos"), outra vantagem do agrupamento
é a divisão dos custos de iluminação dos espetáculos e o aumento do poder de decisão sobre os horários de apresentação -como o palco é comum,
há um revezamento entre as
sessões de 15h, 18h, 21h e 0h.
"Se você se organiza em um
coletivo, não é chutado para fora do teatro quando acaba seu
tempo", observa o ator Ricardo
Nolasco, 22, de "Formigas Glitter" (Pequenos Conteúdos).
O discurso das companhias é
menos objetivo quando se trata
das afinidades compartilhadas
por elas. "Não há um tema comum, mas sim a busca por processos de criação diferentes e
novas dramaturgias", afirma
Fortes. "O elo é a pesquisa continuada", sugere Inácio.
Triagem
A percepção de que o Fringe
deveria realizar alguma triagem prévia é quase unânime.
"As pessoas vêm com uma
expectativa e podem dar o azar
de assistir a cinco espetáculos
ruins. Poderia haver uma seleção de projetos", diz a atriz Clarisse Oliveira, 22 ("Formigas").
Curadores e ex-curadores da
mostra Contemporânea, carro-chefe do festival, discordam.
"Como limitar [selecionar]? A
ideia do Fringe é que a sorte está lançada", diz Lúcia Camargo,
65, da curadoria desta edição.
"Prefiro ter mais para chegar
ao melhor."
Tania Brandão, 56, outra cocuradora atual, também concorda. "É como se fosse uma
chuva de teatro: você vai se molhar. Teatro é uma aventura arriscada. Quem gosta dele tem
de se expor."
Já o crítico Kil Abreu, 40, ex-curador, acha que "seria válido
avaliar algum tipo de sinalização [para o espectador], pois há
muito espetáculo escolar, de
curso técnico".
O jornalista LUCAS NEVES está hospedado a convite do festival
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