São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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Fringe, em Curitiba, reúne quase 300 peças

Companhias se agrupam em "mostras dentro da mostra" para ter visibilidade

Para cocuradora, teatro é aventura arriscada: "É como se fosse uma chuva: você vai se molhar; quem gosta de teatro tem de se expor"


LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

A ausência de curadoria e o gigantismo (são 290 peças) do Fringe, mostra paralela do Festival de Curitiba, dão a quem se aventura por sua programação a sensação de navegar por mares incertos. É certo que há zonas cuja navegabilidade restrita é explícita -algum incauto topa encarar "A Gorda e o Anão", "Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas" ou "Pequenas Caquinhas"?
Mas também há trabalhos dos quais é possível pinçar qualidades e promessas que acabam escondidos nas profundezas desse oceano teatral. A "boia" que algumas jovens companhias de Curitiba encontraram para não submergir foi a associação em "mostras dentro da mostra". O Coletivo de Pequenos Conteúdos reúne quatro delas, uma a menos do que a mostra Novos Repertórios.
Atores e diretores dos grupos envolvidos apontam a busca de visibilidade como a principal razão da parceria. "É um diferencial que pode atrair quem busca algum tipo de orientação no Fringe. E, se a pessoa vê uma peça e gosta, volta para as outras", diz o ator da Cia. Transitória Thiago Inácio, 24, também produtor do Pequenos Conteúdos.
Para Diego Fortes, 26, ator e diretor da Cia. A Armadilha (que integra a Novos Repertórios com a peça "Jornal da Guerra Contra os Taedos"), outra vantagem do agrupamento é a divisão dos custos de iluminação dos espetáculos e o aumento do poder de decisão sobre os horários de apresentação -como o palco é comum, há um revezamento entre as sessões de 15h, 18h, 21h e 0h.
"Se você se organiza em um coletivo, não é chutado para fora do teatro quando acaba seu tempo", observa o ator Ricardo Nolasco, 22, de "Formigas Glitter" (Pequenos Conteúdos). O discurso das companhias é menos objetivo quando se trata das afinidades compartilhadas por elas. "Não há um tema comum, mas sim a busca por processos de criação diferentes e novas dramaturgias", afirma Fortes. "O elo é a pesquisa continuada", sugere Inácio.

Triagem
A percepção de que o Fringe deveria realizar alguma triagem prévia é quase unânime. "As pessoas vêm com uma expectativa e podem dar o azar de assistir a cinco espetáculos ruins. Poderia haver uma seleção de projetos", diz a atriz Clarisse Oliveira, 22 ("Formigas"). Curadores e ex-curadores da mostra Contemporânea, carro-chefe do festival, discordam.
"Como limitar [selecionar]? A ideia do Fringe é que a sorte está lançada", diz Lúcia Camargo, 65, da curadoria desta edição. "Prefiro ter mais para chegar ao melhor."
Tania Brandão, 56, outra cocuradora atual, também concorda. "É como se fosse uma chuva de teatro: você vai se molhar. Teatro é uma aventura arriscada. Quem gosta dele tem de se expor." Já o crítico Kil Abreu, 40, ex-curador, acha que "seria válido avaliar algum tipo de sinalização [para o espectador], pois há muito espetáculo escolar, de curso técnico".

O jornalista LUCAS NEVES está hospedado a convite do festival


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