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crítica
Repressão em Mianmar é tema de longa
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Sob ditadura e censura pesada, o jornalismo se torna
instrumento essencial de
resistência política. É o
que nos lembra cada cena
de "VJs de Mianmar - Notícias de um País Fechado", premiado documentário que estreia amanhã
no É Tudo Verdade.
O filme do dinamarquês
Anders Ostergaard acompanha as operações de um
grupo de jornalistas que
clandestinamente filma e
fotografa fatos políticos do
país asiático, que está sob
regime fechado de uma
junta militar desde 1962.
Com suas pequenas câmeras digitais escondidas
em mochilas e sacos plásticos, esses repórteres
contrabandeiam suas imagens para fora do país, até
que cheguem a redes de televisão e agências de notícias ocidentais. Unidos,
formam a DVB, sigla em
inglês para Voz Democrática da Birmânia (o antigo
nome de Mianmar).
O foco do longa está nas
atividades do DVB em setembro de 2007, quando
Mianmar foi palco de uma
série de protestos liderados por monges budistas e
estudantes. As manifestações, primeiro contra o aumento do preço dos combustíveis e depois contra
todo o regime, levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas e foram reprimidas com vigor.
O diretor Ostergaard remonta os passos do DVB
ao costurar o longo depoimento de um de seus articuladores às imagens registradas pelo grupo e sua
repercussão no exterior,
em canais como BBC e
CNN. Esse narrador é Jo-shua, repórter de 27 anos
que nunca mostra seu rosto e cujo dia a dia naquele
mês ainda mais tenso é
reencenado no filme.
Joshua surge sempre à
meia-luz, hora ao telefone,
hora ao computador, combinando coberturas de
protestos e estratégias para driblar a polícia. Tal reconstituição resvala na
pieguice em alguns momentos, especialmente
quando o filme abusa de
uma trilha sonora com
ecos da new age.
Mas é uma falha menor,
que não ofusca o que o filme tem de mais forte: as
imagens dos protestos e da
repressão captadas à época. Nas condições mais
precárias e arriscadas, os
repórteres clandestinos de
Mianmar filmaram marchas populares, espancamentos de monges, prisões de colegas e até uma
morte à queima-roupa.
É informação bruta,
sem filtros, pegando fogo.
(LC)
VJS DE MIANMAR
Direção: Anders Ostergaard
Quando: amanhã, às 15h, e sexta, às 13h, no CCBB; sábado, às
19h, no Cinesesc
Avaliação: bom
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