São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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crítica

Repressão em Mianmar é tema de longa

EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Sob ditadura e censura pesada, o jornalismo se torna instrumento essencial de resistência política. É o que nos lembra cada cena de "VJs de Mianmar - Notícias de um País Fechado", premiado documentário que estreia amanhã no É Tudo Verdade.
O filme do dinamarquês Anders Ostergaard acompanha as operações de um grupo de jornalistas que clandestinamente filma e fotografa fatos políticos do país asiático, que está sob regime fechado de uma junta militar desde 1962.
Com suas pequenas câmeras digitais escondidas em mochilas e sacos plásticos, esses repórteres contrabandeiam suas imagens para fora do país, até que cheguem a redes de televisão e agências de notícias ocidentais. Unidos, formam a DVB, sigla em inglês para Voz Democrática da Birmânia (o antigo nome de Mianmar).
O foco do longa está nas atividades do DVB em setembro de 2007, quando Mianmar foi palco de uma série de protestos liderados por monges budistas e estudantes. As manifestações, primeiro contra o aumento do preço dos combustíveis e depois contra todo o regime, levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas e foram reprimidas com vigor.
O diretor Ostergaard remonta os passos do DVB ao costurar o longo depoimento de um de seus articuladores às imagens registradas pelo grupo e sua repercussão no exterior, em canais como BBC e CNN. Esse narrador é Jo-shua, repórter de 27 anos que nunca mostra seu rosto e cujo dia a dia naquele mês ainda mais tenso é reencenado no filme.
Joshua surge sempre à meia-luz, hora ao telefone, hora ao computador, combinando coberturas de protestos e estratégias para driblar a polícia. Tal reconstituição resvala na pieguice em alguns momentos, especialmente quando o filme abusa de uma trilha sonora com ecos da new age.
Mas é uma falha menor, que não ofusca o que o filme tem de mais forte: as imagens dos protestos e da repressão captadas à época. Nas condições mais precárias e arriscadas, os repórteres clandestinos de Mianmar filmaram marchas populares, espancamentos de monges, prisões de colegas e até uma morte à queima-roupa.
É informação bruta, sem filtros, pegando fogo. (LC)


VJS DE MIANMAR

Direção: Anders Ostergaard
Quando: amanhã, às 15h, e sexta, às 13h, no CCBB; sábado, às 19h, no Cinesesc
Avaliação: bom



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