|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Crítica/"Heitor Villa-Lobos - Choros nº 2, 3, 10 e 12"
Osesp unifica "Choros" para lembrar 50 anos da morte de Villa-Lobos
Com excelência musical, terceiro álbum traz obras do compositor, que pretendia unir brasilidade e modernismo
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para lembrar meio século
da morte do maior compositor brasileiro, nada
melhor do que o registro integral da parte mais expressiva de
sua obra. Chega ao mercado
brasileiro, finalmente, o terceiro e último disco dos "Choros",
de Villa-Lobos, com a Osesp.
Os "Choros" são 14 peças para as mais diversas formações
-de solo de piano a grande orquestra, passando por grupos
de câmara- que o compositor
carioca escreveu na década de
20. Seu nome homenageia a
música popular que Villa-Lobos não só ouvia como também
tocava, dedilhando o violão.
Não se deve esperar, contudo, que haja melodismo ou gestual explicitamente "chorão"
em todas as obras. O que trazem, sim, é a vontade de Villa-Lobos de ser a um só tempo
"moderno" e "brasileiro". Não
devemos nos esquecer de que
os "Choros" datam do período
em que o compositor visitou
Paris, conhecendo celebridades como Fernand Léger e frequentando as feijoadas no
apartamento de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
A autora do "Abaporu" escreveu à família que a cidade estava farta de arte parisiense e que
ela se sentia "cada vez mais brasileira". Villa-Lobos, na França,
também queria ser o pintor de
sua terra.
Um pintor dos mais exuberantes, de cores berrantes, influenciado pela linguagem
agressiva que ouvira na "Sagração da Primavera", de Stravinski. Como afirma o musicólogo
Eero Tarasti, "apenas nos "Choros" o temperamento fauvista e
primitivista de Villa-Lobos floresce ao lado de outras nuances
da sensibilidade brasileira".
Os "Choros" tinham boas
gravações dispersas em vários
catálogos; faltava um projeto
que os unificasse, como esse, da
Osesp, no qual a excelente engenharia de som se alia a uma
robusta realização musical.
O terceiro disco da série traz
Fabio Zanon com uma leitura
informada e idiomática da "Introdução aos Choros", curioso
pot-pourri com temas das principais obras do ciclo.
A peça mais ambiciosa é
"Choros nº 12", da qual já existia um registro inteligente (e
difícil de encontrar) de Pierre
Bartholomée com a Filarmônica de Liège. Mas, se tem algo
que levanta o ouvinte da cadeira, são os "Choros nº 10", com
coro, citando "Iara" de Anacleto de Medeiros com uma retórica exaltada que parece antecipar o universo das "Bachianas
Brasileiras".
Nas décadas em que esteve à
frente da Osesp, Eleazar de
Carvalho transformou a obra
em um dos pontos altos do repertório da orquestra; John
Neschling, que programou a
peça para o concerto de Réveillon transmitido internacionalmente pela TV, não deixou a
peteca cair, produzindo a mais
convincente e entusiasmada
leitura dos "Choros nº 10" disponível em disco.
HEITOR VILLA-LOBOS - CHOROS
Nº 2, 3, 10 E 12
Artista: Osesp, com regência de John
Neschling
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 28,90
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Crítica/"Tias Duronas": Filme mostra cruzada contra abuso sexual Próximo Texto: Nopomuceno terá obras registradas Índice
|