São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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MÚSICA

Crítica/"Heitor Villa-Lobos - Choros nº 2, 3, 10 e 12"

Osesp unifica "Choros" para lembrar 50 anos da morte de Villa-Lobos

Com excelência musical, terceiro álbum traz obras do compositor, que pretendia unir brasilidade e modernismo

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para lembrar meio século da morte do maior compositor brasileiro, nada melhor do que o registro integral da parte mais expressiva de sua obra. Chega ao mercado brasileiro, finalmente, o terceiro e último disco dos "Choros", de Villa-Lobos, com a Osesp.
Os "Choros" são 14 peças para as mais diversas formações -de solo de piano a grande orquestra, passando por grupos de câmara- que o compositor carioca escreveu na década de 20. Seu nome homenageia a música popular que Villa-Lobos não só ouvia como também tocava, dedilhando o violão.
Não se deve esperar, contudo, que haja melodismo ou gestual explicitamente "chorão" em todas as obras. O que trazem, sim, é a vontade de Villa-Lobos de ser a um só tempo "moderno" e "brasileiro". Não devemos nos esquecer de que os "Choros" datam do período em que o compositor visitou Paris, conhecendo celebridades como Fernand Léger e frequentando as feijoadas no apartamento de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
A autora do "Abaporu" escreveu à família que a cidade estava farta de arte parisiense e que ela se sentia "cada vez mais brasileira". Villa-Lobos, na França, também queria ser o pintor de sua terra.
Um pintor dos mais exuberantes, de cores berrantes, influenciado pela linguagem agressiva que ouvira na "Sagração da Primavera", de Stravinski. Como afirma o musicólogo Eero Tarasti, "apenas nos "Choros" o temperamento fauvista e primitivista de Villa-Lobos floresce ao lado de outras nuances da sensibilidade brasileira".
Os "Choros" tinham boas gravações dispersas em vários catálogos; faltava um projeto que os unificasse, como esse, da Osesp, no qual a excelente engenharia de som se alia a uma robusta realização musical.
O terceiro disco da série traz Fabio Zanon com uma leitura informada e idiomática da "Introdução aos Choros", curioso pot-pourri com temas das principais obras do ciclo. A peça mais ambiciosa é "Choros nº 12", da qual já existia um registro inteligente (e difícil de encontrar) de Pierre Bartholomée com a Filarmônica de Liège. Mas, se tem algo que levanta o ouvinte da cadeira, são os "Choros nº 10", com coro, citando "Iara" de Anacleto de Medeiros com uma retórica exaltada que parece antecipar o universo das "Bachianas Brasileiras".
Nas décadas em que esteve à frente da Osesp, Eleazar de Carvalho transformou a obra em um dos pontos altos do repertório da orquestra; John Neschling, que programou a peça para o concerto de Réveillon transmitido internacionalmente pela TV, não deixou a peteca cair, produzindo a mais convincente e entusiasmada leitura dos "Choros nº 10" disponível em disco.


HEITOR VILLA-LOBOS - CHOROS Nº 2, 3, 10 E 12

Artista: Osesp, com regência de John Neschling
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 28,90
Avaliação: ótimo



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