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Vila da rua Berta teme novas obras
Novo templo da Igreja Universal, que não quis se manifestar, deve aumentar movimento nas ruas no entorno das casas
Defesa do patrimônio histórico municipal liberou construções, mas diz que pode intervir caso haja dano para o conjunto tombado
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada vez que passa um caminhão pela rua Berta, tremem os
copos e cristais na casa do designer Rogério Alves de Lima.
Ele mora num dos sobrados da
Vila Mariana feito nos anos 20
por Gregori Warchavchik, o
ucraniano radicado no Brasil
que fez as primeiras construções modernas no país.
"É um patrimônio delicado",
diz Lima. "Se começar a ter
muita circulação, daqui a pouco
isso vai começar a desmontar."
Mesmo protegidas pelo Conpresp, órgão do patrimônio histórico municipal, desde 1991, as
casas da rua Berta não escaparam do crescimento da cidade.
Moradores dali agora temem
que a construção de um templo
da Igreja Universal do Reino de
Deus na quadra em frente às
casas e planos de erguer um
prédio no terreno de trás vão
saturar o fluxo da pequena via
de paralelepípedos e ameaçar a
estrutura das casas dos anos 20.
Procurada pela Folha, a
Igreja Universal não quis comentar o caso, mas confirmou
que o templo com capacidade
para 1.200 fiéis e vagas para
140 carros no estacionamento
será inaugurado em abril.
Mesmo com o tombamento
na esfera municipal, foi autorizada a construção da igreja na
quadra ao lado. "Se esse fluxo
causar danos aos bens tombados, pode haver uma intervenção do patrimônio histórico",
disse à Folha o vice-presidente
do Conpresp, Walter Pires.
"Mas foi julgado que não havia
um impacto direto na vila."
A prefeitura liberou a construção da igreja um mês antes
de ser arquivado um estudo de
tombamento da rua que estava
há 20 anos parado no Condephaat, órgão estadual de defesa
do patrimônio. Moradores tentaram estender, sem sucesso, a
proteção à esfera estadual, para
evitar uma disputa entre as casas da rua e empreiteiras.
Quando decidiu arquivar o
processo, o Condephaat alegou
que as casas em questão já haviam sofrido um excesso de alterações em relação ao projeto
original e que estavam sob proteção em nível municipal.
Desde 2003, processos de
tombamento não precisam
mais declarar protegido o entorno da obra em questão, o
que dá margem para construções adjacentes que possam
descaracterizar esse tipo de
conjunto arquitetônico. Agora,
essa proteção da área envoltória é estudada caso a caso.
"Qualquer construção deveria reverenciar essa obra de arte e não ofuscar", diz Ana Beatriz Galvão, superintendente
de São Paulo do Iphan, órgão
federal de defesa do patrimônio. "Se a igreja extrapola a escala das edificações tombadas,
é um projeto equivocado."
Embora o conjunto de casas
não esteja tombado na esfera
federal, a Casa Modernista, nos
arredores, está sob proteção do
Iphan. Segundo Galvão, será
feita uma vistoria no local para
averiguar se as novas construções não ameaçam a casa protegida, a duas quadras dali.
Em julho do ano passado, reportagem da Folha revelou um
quadro de deterioração avançada de um projeto semelhante
de Warchavchik no Rio, uma
vila operária construída na zona do porto, única obra do arquiteto ainda de pé na cidade.
Novo restauro
Em situação oposta à das vilas, a casa da rua Itápolis, considerada um marco modernista,
foi restaurada como era há 80
anos pela família do arquiteto.
Foram desfeitas alterações de
vários inquilinos, que, ao longo
de 80 anos, fecharam o terraço
da entrada e mudaram alguns
aspectos da fachada. Agora, a
casa volta a ter a laje de concreto armado em balanço e seu jardim original, traços definidores
do projeto.
(SILAS MARTÍ)
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