São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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NA TV
Gafes não deixam de comparecer

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Com 70 anos para comemorar, o Oscar teve uma festa ainda mais longa e muito mais povoada. Bem no gênero fã de cinema, uma espécie que, para a alegria de Rubens Ewald Filho, está em extinção.
Quando o palco foi ocupado pelos atores e atrizes ganhadores de um Oscar, sentados em quatro filas de cadeiras, Ewald conseguiu identificar todos, dizendo o nome do filme que lhes deu o prêmio. Arnaldo Jabor, outro comentarista da festa, confessou-se impressionado. "Quem gosta de cinema...", disse Rubinho, o fã.
É verdade que, a essa altura, o cineasta Jabor estava ainda mais azedo em matéria de humor. O filme dos Barreto tinha perdido o tão sonhado Oscar para um filme holandês. "Careta", xingou Jabor, quando o feliz diretor dos Países Baixos festejava o prêmio que a Sharon Stone entregou.
Durante toda a festa, Arnaldo Jabor mostrou seu descontentamento com os prêmios dados aos recursos técnicos do cinema americano. Em ano que "Titanic", um filme de todos os recursos, ganha 11 prêmios, Jabor só podia se sentir desconfortável.
"Sou o rei do mundo", gritou o melhor diretor James Cameron. "Nunca vi coisa igual", disse o também apresentador Renato Machado, entrando no clima Jabor. Logo depois, numa provável ajuda do Ewald, ele se penitenciava: "Está imitando o ausente Leonardo DiCaprio". Renato Machado apresentava a festa do Oscar sem ter visto "Titanic", a maior bilheteria de todos os tempos.
Sempre preferindo "Kundun" (alguém viu?), Arnaldo Jabor não reclamou do prêmio de melhor ator dado a Jack Nicholson, da realeza de Hollywood. Foi, por exemplo, o único da platéia incluído no levantar de cortina do Billy Crystal, dessa vez cheio de invenções cênicas e canções famosas com novos versos de muito humor. Ainda dizem, no Brasil, que Billy Crystal é chato?
Os fãs de cinema da geração anterior aos home teathers adoraram a homenagem feita a Stanley Donen, o homem dos melhores musicais, inclusive aquele em que Audrey Hepburn ofuscava a Vitória de Samotrácia em pleno Louvre e aquele em que Gene Kelly cantava e dançava na chuva. Ainda em forma, Donen fez do seu agradecimento um pequeno show com música de Irving Berlin.
Só as inglesas reclamaram da melhor atriz Helen Hunt. Se não gostou do prêmio da Kim Basinger, Gloria Stuart não reclamou. Ficou até o fim. Não se sabe se a Fay Wray, a namorada do King Kong, também resistiu.
Só se sabe que Jabor não aprovou a premiação de Robin Williams como melhor coadjuvante. "É um falso grande ator", disse ele. Pior do que o Pedro Cardoso? Não interessa. Esse não ganhou nada.



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