São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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OSCAR
Barreto diz que perdeu para "filme de arte"

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Para Bruno Barreto, a preferência da Academia por um "filme de arte" foi um dos fatores mais decisivos na derrota de "O Que É Isso, Companheiro?" para o holandês "Caráter" na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro.
Ainda em Los Angeles -onde ele fica até sexta-feira- o diretor carioca disse, em entrevista por telefone, que a Sony Classics montou uma estratégia para limitar o número de eleitores na categoria, prejudicando seu filme.

Folha - Como você recebeu a vitória do filme holandês "Caráter"?
Bruno Barreto -
Claro que fiquei decepcionado. A gente nunca esteve tão perto, eu ouvia isso o tempo todo. Pelo que soube, a votação estava muito dividida e podia até dar empate.
Folha - O que acha de "Caráter"?
Barreto -
Não vi. Mas sei que contava, a favor, o fato de ser um filme de arte. É bonito, bem fotografado, tem reconstituição de época, e eles adoram isso. O contra é que se trata de um filme meio deprimente, até frio.
Folha - E quais eram os prós e contras de "Companheiro?"
Barreto -
O contra era ser um filme "mainstream". Não comercial, mas acessível. É um filme de gênero, e de um gênero muito americano, o thriller, feito à brasileira. Por outro lado, o filme tem um final emocionante e com esperança. Mas, neste ano, ficou claro que o comitê que escolhe o vencedor preferiria um filme de arte.
Folha - Por que você acha que havia essa opção?
Barreto -
Eu vou te contar uma coisa. O prêmio acaba sendo dado pelas mesmas pessoas que fazem a indicação, um comitê de uns 250 membros da Academia. Para votar em filme estrangeiro, é preciso provar que se assistiu aos cinco indicados. Então isso reduz o número de eleitores ao comitê. "Caráter" só teve umas duas projeções fora. Foi estratégia da distribuidora, a Sony Classics, para limitar a votação. A reação à exibição do holandês para o comitê foi levemente melhor que a do "Companheiro". Mas meu filme agrada à indústria cinematográfica.
Folha - Então a característica que levou seu filme a entrar em grande circuito nos EUA o prejudicou na premiação?
Barreto -
Isso mesmo. O Norman Jewison (diretor de "Feitiço da Lua") foi o mediador do painel com os diretores estrangeiros, sábado. Ele disse, claramente, que tem raiva dos filmes de Hollywood e como os estrangeiros traziam novas idéias, novos olhares.
Folha - Esse fato muda algo na sua maneira de fazer filmes?
Barreto -
Não consigo operar muito com a cabeça, tenho que fazer filmes com o coração. Tomara que chegue o dia em que eu ache uma história que tenha as duas coisas, que agrade ao público e à Academia. O "Kolya" (vencedor da categoria em 97) é isso.
Folha - Você vai continuar fazendo filmes no Brasil? Como ficará sua carreira?
Barreto -
A indicação ao Oscar já fez uma diferença enorme na minha carreira, entrei para um clube muito restrito. Hoje mesmo (ontem), tenho três reuniões aqui em Los Angeles. Agora, a melhor estratégia para mim é fazer bons filmes. O que determina onde eles serão rodados é a história.
Folha - Você vai tentar novamente ganhar o Oscar?
Barreto -
Uma vez que você é indicado, é como um vírus. Eu estou infectado e só vou sarar dessa doença quando ganhar o Oscar. Tenho muita certeza e confiança de que "Central do Brasil" será indicado com chance de vitória. O filme do Walter Salles reúne várias características imbatíveis nessa categoria: emoção acima de tudo, grande narrativa cinematográfica e grandes interpretações, sobretudo a de Fernanda Montenegro. Acho, ainda, que ela será indicada para o Oscar de melhor atriz.



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