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OSCAR
Barreto diz que perdeu para "filme de arte"
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Para Bruno Barreto, a preferência da Academia por um "filme de
arte" foi um dos fatores mais decisivos na derrota de "O Que É Isso,
Companheiro?" para o holandês
"Caráter" na disputa pelo Oscar de
melhor filme estrangeiro.
Ainda em Los Angeles -onde
ele fica até sexta-feira- o diretor
carioca disse, em entrevista por telefone, que a Sony Classics montou uma estratégia para limitar o
número de eleitores na categoria,
prejudicando seu filme.
Folha - Como você recebeu a vitória do filme holandês "Caráter"?
Bruno Barreto - Claro que fiquei decepcionado. A gente nunca
esteve tão perto, eu ouvia isso o
tempo todo. Pelo que soube, a votação estava muito dividida e podia até dar empate.
Folha - O que acha de "Caráter"?
Barreto - Não vi. Mas sei que
contava, a favor, o fato de ser um
filme de arte. É bonito, bem fotografado, tem reconstituição de
época, e eles adoram isso. O contra
é que se trata de um filme meio deprimente, até frio.
Folha - E quais eram os prós e
contras de "Companheiro?"
Barreto - O contra era ser um
filme "mainstream". Não comercial, mas acessível. É um filme de
gênero, e de um gênero muito
americano, o thriller, feito à brasileira. Por outro lado, o filme tem
um final emocionante e com esperança. Mas, neste ano, ficou claro
que o comitê que escolhe o vencedor preferiria um filme de arte.
Folha - Por que você acha que
havia essa opção?
Barreto - Eu vou te contar uma
coisa. O prêmio acaba sendo dado
pelas mesmas pessoas que fazem a
indicação, um comitê de uns 250
membros da Academia. Para votar
em filme estrangeiro, é preciso
provar que se assistiu aos cinco indicados. Então isso reduz o número de eleitores ao comitê. "Caráter" só teve umas duas projeções
fora. Foi estratégia da distribuidora, a Sony Classics, para limitar a
votação. A reação à exibição do
holandês para o comitê foi levemente melhor que a do "Companheiro". Mas meu filme agrada à
indústria cinematográfica.
Folha - Então a característica que
levou seu filme a entrar em grande
circuito nos EUA o prejudicou na
premiação?
Barreto - Isso mesmo. O Norman Jewison (diretor de "Feitiço
da Lua") foi o mediador do painel
com os diretores estrangeiros, sábado. Ele disse, claramente, que
tem raiva dos filmes de Hollywood
e como os estrangeiros traziam
novas idéias, novos olhares.
Folha - Esse fato muda algo na
sua maneira de fazer filmes?
Barreto - Não consigo operar
muito com a cabeça, tenho que fazer filmes com o coração. Tomara
que chegue o dia em que eu ache
uma história que tenha as duas
coisas, que agrade ao público e à
Academia. O "Kolya" (vencedor
da categoria em 97) é isso.
Folha - Você vai continuar fazendo filmes no Brasil? Como ficará
sua carreira?
Barreto - A indicação ao Oscar
já fez uma diferença enorme na
minha carreira, entrei para um
clube muito restrito. Hoje mesmo
(ontem), tenho três reuniões aqui
em Los Angeles. Agora, a melhor
estratégia para mim é fazer bons
filmes. O que determina onde eles
serão rodados é a história.
Folha - Você vai tentar novamente ganhar o Oscar?
Barreto - Uma vez que você é
indicado, é como um vírus. Eu estou infectado e só vou sarar dessa
doença quando ganhar o Oscar.
Tenho muita certeza e confiança
de que "Central do Brasil" será indicado com chance de vitória. O
filme do Walter Salles reúne várias
características imbatíveis nessa categoria: emoção acima de tudo,
grande narrativa cinematográfica
e grandes interpretações, sobretudo a de Fernanda Montenegro.
Acho, ainda, que ela será indicada
para o Oscar de melhor atriz.
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