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Oscar seria bom, mas não bastaria
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Enxugadas as lágrimas da derrota, podemos nos consolar pensando na vergonha que neste momento cobre a Holanda, por conta do
discurso do diretor que levou para
casa o "nosso" Oscar.
Podemos, com um frio na espinha, fantasiar que podia dar a louca em Bruno Barreto e ele ter uma
performance semelhante.
Podemos, ainda, constatar que
há dois anos fomos vencidos por
"A Excêntrica Família de Antônia"
e nem por isso houve um boom
mundial do cinema holandês.
E podemos reconhecer que toda
nossa torcida em torno do Oscar é
um pouco constrangedora.
Em resumidas contas, perder o
Oscar, tanto quanto ganhar o Urso de Ouro em Berlim são fatos
que acabam um pouco inflados
pelas circunstâncias.
O sentido objetivo de tais participações é atestar, de alguma forma, a lenta reinserção do cinema
brasileiro no circuito internacional. Acontecimento significativo,
sem dúvida, já que o Brasil perdera o espaço conquistado nos 60.
Mas essa presença torna-se dramaticamente importante no âmbito interno para uma cinematografia que ainda busca se afirmar
diante de seu próprio público.
O prêmio em Berlim ou a presença no Oscar funcionam, assim,
como uma "prova" de que filmes
brasileiros hoje podem ser vistos
sem medo pelos espectadores.
Por extensão, funcionam como
marketing do cinema brasileiro
em geral, uma espécie de aval concedido pelo mundo.
O destaque em âmbito internacional pode até determinar um
crescimento do interesse do público brasileiro por seus filmes. Isso
aconteceu nos anos 50, com "O
Cangaceiro", e nos 60, com a Palma de Ouro de "O Pagador de Promessas" em Cannes.
À margem dos resultados, outras coisas podem ser observadas.
A principal é que a bilheteria dos
filmes feitos aqui tende a crescer
junto com a auto-estima nacional.
Isso aconteceu em 1986 (durante
o Plano Cruzado). Desde o Plano
Real, tem havido uma tendência
de crescimento do público, que se
manifestou com mais clareza em
"fenômenos" tipo "Carlota Joaquina" ou "O Quatrilho".
A impressão é que a resistência
do espectador quanto às imagens
produzidas no Brasil cai na proporção em que cresce a confiança
no destino do país.
A presença internacional do filme brasileiro tem hoje um sentido
adicional. No passado, o cinema
podia ser produzido para uso exclusivo em território nacional.
Hoje, não existem espectadores
em número suficiente para custear
a produção. Prêmios, indicações,
boas críticas no exterior representam a possibilidade de vendas para
inúmeros países.
Resta que o fundamental, nessa
matéria, joga-se aqui mesmo.
Aceitar filmes premiados (ou quase) é um ato reflexo. Menos uma
admissão de nosso complexo de
inferioridade nessa matéria do que
da incapacidade de olhar com
nossos próprios olhos nossas paisagens, atores e histórias, de buscar seu sentido, antes de reconhecer sua "competência".
Ganhar o Oscar teria sido bom
nesse momento incipiente. Mas
para criar uma cinematografia estável é preciso que as imagens que
se criam aqui sejam reconhecidas
como necessárias aqui. Sem isso,
nada feito. E isso não depende só
dos prêmios ou dos filmes.
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