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MÚSICA
Com ecos de new wave e pitadas de erudição, "Heaven & Hell" marca a estréia do tecladista na Sony Music
Joe Jackson lança disco com Suzanne Vega
EDSON FRANCO
da Reportagem Local
Muito tempo depois de ter entrado para a história do pop como o
terceiro mosqueteiro da trinca raivosa que emergiu da new wave
britânica -os outros são Elvis
Costello e Graham Parker-, o tecladista Joe Jackson, 42, volta às
prateleiras das lojas nacionais.
"Heaven & Hell", CD que marca
a estréia de Jackson na Sony Music, traz tudo o que arregimentou e
dispersou a legião de seguidores
que o tecladista vem colecionando
desde meados dos anos 70.
Pitadas de erudição, ecos da new
wave, pop redondo. Tudo isso é
usado para contar a história faustiana sugerida pelo título do CD.
Em relação à produção mais recente de Jackson, o trabalho atual
tem um time de convidados que
faz a diferença.
"Criei personagens e passei a
procurar músicos que pudessem
dar voz a eles. Algumas escolhas,
como Suzanne Vega, foram óbvias. O violino de Nadja Salerno-Sonnenberg também foi perfeito. Ela toca de uma maneira demoníaca. Representou o Diabo
muito bem", disse Jackson por telefone à Folha, de Portsmouth, cidade da Inglaterra onde foi criado.
Para os velhos fãs, algumas características de Jackson permanecem. Ele continua imprevisível,
inclassificável e surpreendente.
Sua biografia ajuda a explicar esses adjetivos. "O primeiro tipo de
música que me lembro de ter ouvido é o pop britânico, Beatles, Stones, Kinks. Mas, no começo da
minha adolescência, passei a estudar música erudita e me tornei um
fã de Beethoven."
Quase clássico
Aos 11 anos, um impasse atormentava Jackson. A única maneira
de evitar as atividades esportivas
da escola era entrar para as aulas
de música. Jackson escolheu o violino, mas convenceu a família a
comprar um piano.
Sua habilidade nas teclas rendeu-lhe uma bolsa de estudos na
Royal Academy of Music de Londres, onde estudou de 1971 a 1974.
"Não há muito a dizer sobre
meus anos na academia. Estudei
composição lá, mas o ambiente
era pomposo demais. Todo mundo só falava de Pierre Boulez e caras assim. Quando me formei, decidi que iria fazer pop."
O dinheiro pesou na decisão?
"Não pensei nisso na época (risos), mas acredito que ganho muito mais tocando pop."
Depois da formação acadêmica,
Jackson mostrou que, além de saber compor e fazer arranjos, é um
letrista inteligente, embora não se
orgulhe disso.
"Acho a música mais importante
que as letras. Mas, em um projeto
como "Heaven & Hell', há um tema que une as músicas. Nesse caso, as letras são necessárias", disse
Jackson.
Passado
Mas, antes de entrar nessa fase
que pode ser chamada de conceitual, Jackson fez de tudo.
"Look Sharp", disco de estréia
gravado em 1979, é uma coleção
de pérolas pop bem-acabadas. Como quem foge dos rótulos, o tecladista pegou seu primeiro desvio já
em "Beat Crazy" (1980), trabalho
em que explorou o reggae e o ska.
Guinadas mais radicais aconteceram em 1982 -ano do jazzístico
"Night and Day"- e 1987
-quando Jackson lançou o idiossincrático "Will Power".
Com um passado desses, fica difícil saber o que esperar de um futuro disco de Jackson e qual será
seu próximo passo.
"É difícil para mim também. Estou pensando no meu próximo
trabalho, mas é segredo. Não gosto de falar sobre coisas que ainda
não terminei. Dá azar."
Deixando os exercícios de futurologia de lado, Jackson hesitou ao
falar sobre a possibilidade de tocar
para as platéias brasileiras as composições de seu último CD.
"Eu estive no Brasil como turista
há cerca de cinco anos e visitei Rio
e Salvador. Adoraria tocar aí. Você
acha que eu devo?"
Essa é uma pergunta que só as
vendas de "Heaven & Hell" podem
responder.
Disco: Heaven & Hell
Artista: Joe Jackson
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média
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