São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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MÚSICA
Com ecos de new wave e pitadas de erudição, "Heaven & Hell" marca a estréia do tecladista na Sony Music
Joe Jackson lança disco com Suzanne Vega

EDSON FRANCO
da Reportagem Local

Muito tempo depois de ter entrado para a história do pop como o terceiro mosqueteiro da trinca raivosa que emergiu da new wave britânica -os outros são Elvis Costello e Graham Parker-, o tecladista Joe Jackson, 42, volta às prateleiras das lojas nacionais.
"Heaven & Hell", CD que marca a estréia de Jackson na Sony Music, traz tudo o que arregimentou e dispersou a legião de seguidores que o tecladista vem colecionando desde meados dos anos 70.
Pitadas de erudição, ecos da new wave, pop redondo. Tudo isso é usado para contar a história faustiana sugerida pelo título do CD.
Em relação à produção mais recente de Jackson, o trabalho atual tem um time de convidados que faz a diferença.
"Criei personagens e passei a procurar músicos que pudessem dar voz a eles. Algumas escolhas, como Suzanne Vega, foram óbvias. O violino de Nadja Salerno-Sonnenberg também foi perfeito. Ela toca de uma maneira demoníaca. Representou o Diabo muito bem", disse Jackson por telefone à Folha, de Portsmouth, cidade da Inglaterra onde foi criado.
Para os velhos fãs, algumas características de Jackson permanecem. Ele continua imprevisível, inclassificável e surpreendente.
Sua biografia ajuda a explicar esses adjetivos. "O primeiro tipo de música que me lembro de ter ouvido é o pop britânico, Beatles, Stones, Kinks. Mas, no começo da minha adolescência, passei a estudar música erudita e me tornei um fã de Beethoven."

Quase clássico
Aos 11 anos, um impasse atormentava Jackson. A única maneira de evitar as atividades esportivas da escola era entrar para as aulas de música. Jackson escolheu o violino, mas convenceu a família a comprar um piano.
Sua habilidade nas teclas rendeu-lhe uma bolsa de estudos na Royal Academy of Music de Londres, onde estudou de 1971 a 1974.
"Não há muito a dizer sobre meus anos na academia. Estudei composição lá, mas o ambiente era pomposo demais. Todo mundo só falava de Pierre Boulez e caras assim. Quando me formei, decidi que iria fazer pop."
O dinheiro pesou na decisão? "Não pensei nisso na época (risos), mas acredito que ganho muito mais tocando pop."
Depois da formação acadêmica, Jackson mostrou que, além de saber compor e fazer arranjos, é um letrista inteligente, embora não se orgulhe disso.
"Acho a música mais importante que as letras. Mas, em um projeto como "Heaven & Hell', há um tema que une as músicas. Nesse caso, as letras são necessárias", disse Jackson.
Passado
Mas, antes de entrar nessa fase que pode ser chamada de conceitual, Jackson fez de tudo.
"Look Sharp", disco de estréia gravado em 1979, é uma coleção de pérolas pop bem-acabadas. Como quem foge dos rótulos, o tecladista pegou seu primeiro desvio já em "Beat Crazy" (1980), trabalho em que explorou o reggae e o ska.
Guinadas mais radicais aconteceram em 1982 -ano do jazzístico "Night and Day"- e 1987 -quando Jackson lançou o idiossincrático "Will Power".
Com um passado desses, fica difícil saber o que esperar de um futuro disco de Jackson e qual será seu próximo passo.
"É difícil para mim também. Estou pensando no meu próximo trabalho, mas é segredo. Não gosto de falar sobre coisas que ainda não terminei. Dá azar."
Deixando os exercícios de futurologia de lado, Jackson hesitou ao falar sobre a possibilidade de tocar para as platéias brasileiras as composições de seu último CD.
"Eu estive no Brasil como turista há cerca de cinco anos e visitei Rio e Salvador. Adoraria tocar aí. Você acha que eu devo?"
Essa é uma pergunta que só as vendas de "Heaven & Hell" podem responder.

Disco: Heaven & Hell
Artista: Joe Jackson
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média



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