São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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CD reúne sambistas de estirpe

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

"Casa da Mãe Joana" é a tentativa de transposição para disco do ambiente que cerca a casa homônima, um reduto carioca -em São Cristóvão- que fica marcado, nos anos 90, como nicho de resistência do samba "da antiga".
Lá se reúnem sambistas de estirpe, os mesmos que voltam aos estúdios de gravação -tarefa não muito simples para a maioria deles, que não anda nas paradas de sucesso- sob a batuta do produtor artístico Adelzon Alves, que no início dos 70 ajudou a erigir a classe sambista de Clara Nunes.
É chance, de novo, de ouvir Monarco, Nelson Sargento, Zé Keti, Casquinha, Guilherme de Brito, Wilson Moreira...
A confraternização agora nem é tão intensa, ao menos no disco. São os velhos sobreviventes que predominam e dão graça ao disco -o que era efervescência hoje cabe mais como nostalgia salpicada de resistência.
Bem, aí "Casa da Mãe Joana", o disco, torna-se motivo de comemoração. Os sambistas históricos desfiam clássicos, a lembrar os esquecidos que estão vivos e a fazer lembrar seus pares já idos, como Nelson Cavaquinho, Cartola, Jacob do Bandolim, Pixinguinha e Clementina de Jesus.
Assim, ora Monarco e Helô (cantora da casa) evocam Cartola num medley fulminante de "As Rosas Não Falam", "O Mundo É um Moinho" e "Sim", ora Monarco evoca a si mesmo (e ao parceiro Walter Rosa) na magnífica "Tudo Menos Amor" ("neste romance existem lances sensacionais/ mas te dar meu amor/ jamais", interpreta, solenemente), ora comovidos Zé Keti e Nadinho da Ilha homenageiam Clementina de Jesus.
Gerações intermediárias também têm sua vez -casos da impagável "Acreditar" (da dupla Ivone Lara-Délcio Carvalho), e "Morrendo de Saudade", Nei Lopes e Wilson Moreira.
No mais, predominam autores como Monarco, Casquinha, Argemiro, Baianinho e outros interpretando os próprios sambas -o que até pode colaborar para que "Casa da Mãe Joana" passe em branco, em certa medida.
É que eles são, sim, exímios compositores; como cantores, no entanto, não logram os prodígios já cometidos -com as mesmas obras, ou equivalentes- por Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Clara Nunes...
Não é um desacato. Trata-se da história viva desfilando aos ouvidos. E, no meio da inconstância, ainda há a chance de encontrar um Nelson Sargento em estado de graça, cantando sua "A Cara do Brasil" sem milongas e ainda citando, de passagem, seu clássico "Agoniza, mas Não Morre". É mais ou menos isso.

Disco: Casa da Mãe Joana Lançamento: Natasha Quanto: R$ 18, em média


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