São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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TEATRO
Antunes Filho apresenta seu Método

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Foram anos de vaivém, de adiamentos, mas o diretor Antunes Filho "fechou", finalmente, o seu método de teatro.
Referência na formação de atores no Brasil, tendo iniciado de Luís Melo a Bete Coelho, de Giulia Gam a Cacá Carvalho, ele aos poucos foi desenvolvendo e organizando exercícios e capítulos -ou "fascículos", como chama.
Tem o do Corpo, com os pontos de apoio físicos do ator, o do Entendimento e, recém-finalizado e fechando agora o Método, a Voz.
O Método Antunes está recebendo um último tratamento, no papel, do crítico Sebastião Milaré, um estudioso do trabalho do encenador.
O livro, ainda sem data de publicação, seria uma base para abrir novos fascículos, "infinitamente", diz o diretor.
Para acompanhar o lançamento do Método, Antunes Filho planejou dois espetáculos ou performances, como prefere.
A primeira estréia amanhã em Campinas, interior de São Paulo. O título é "Prêt-à-Porter" e reúne três cenas criadas pelo próprio elenco do CPT, o Centro de Pesquisas Teatrais do Sesc São Paulo, formado pelo diretor.
Ele agora se qualifica como um coordenador, dando mais e mais liberdade de criação para o ator -o que entende como resultante de seu próprio Método, que é concentrado inteiramente na interpretação, e da necessidade de afirmar o que chama de uma "Nova Teatralidade".
Em entrevista (leia trechos abaixo), ele critica severamente a interpretação no país e declara o teatro brasileiro "falido". Num texto-manifesto que divulgou para os jornais, com o título "Ser ou Não Ser, Eis a Solução", o CPT ataca a "máscara estereotipada" e propõe o "ator liberto"
Propõe um "afastamento" nada brechtiano, segundo o diretor: "O ator-artista é dois. Só distanciado da realidade do espectador, do cotidiano, mas dentro de uma outra realidade superior e distinta, ele pode criar jogos infinitos. Como o deus Shiva, dançando, cria novos ilusórios universos."
Outro texto ainda, mais curto, levado ao Sesc de Campinas, proclama: "Prêt-à-Porter' é uma introdução a um novo conhecimento, que seguramente revoluciona a arte do ator e solicita a revisão de conceitos sobre a dramaturgia e a própria encenação."
No segundo espetáculo sem o protagonista Luís Melo e no primeiro sem o cenógrafo J.C. Serroni, Antunes concentrou-se inteiramente em seus novos e jovens atores -ou, na maior parte, atrizes. A sala tem apenas 30 lugares e o "design" é mínimo.
Sílvia Lourenço, 22, que ajudou a criar e atua em "Prêt-à-Porter", descreve -indicada pelo próprio diretor para falar- os muitos exercícios desenvolvidos no Método, como Funâmbulo, Bolha, Caminhada, e busca resumir em que eles se fundamentam:
"A base é a integração do ator com o fluxo da natureza. A humanidade é quando você consegue trazer o holograma, a biografia em detalhes -sensível, emotiva- do personagem. Aí você está dando humanidade, o que você só consegue com o afastamento."


Peça: Prêt-à-Porter
Diretor: Antunes Filho
Elenco: Grupo Macunaíma
Quando: Amanhã, sexta e sábado, às 20h
Onde: Emcea, Teatro Castro Mendes (pça. Corrêa de Lemos, s/n, Vila Industrial, Campinas, tel. 019/234-1359)
Quanto: R$ 30



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