|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA/ABRIL PRO ROCK
Aposta no alternativo gerou redução de público
BRUNO YUTAKA SAITO
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE
No ano em que buscou retornar às suas origens, o festival
Abril pro Rock, encerrado anteontem no pavilhão do Centro
de Convenções de Pernambuco,
foi dominado por um clima de cover. Ao menos uma atração em
cada um dos três dias da maratona de shows, que contou com 27
nomes, focou as reinterpretações.
Natural, portanto, que esta 14ª
edição tenha acontecido sob um
clima de "vamos começar tudo de
novo". Ficaram de fora as atrações mais conhecidas -chamarizes de público certo em anos anteriores- e renovou-se a aposta
nos alternativos -o que juntou
um público reduzido de 9.000
pessoas, segundo a organização.
O estranhamento foi mais evidente na sexta, primeira noite de
shows, quando se tentou criar a
noite de música eletrônica. Com
um dos menores públicos do APR
-mil pessoas-, a edição foi
aberta com a comentada apresentação do trio cearense Montage.
Apesar de empolgar a platéia, as
atrações seguintes, como a dupla
alemã Stereo Total, foram prejudicadas pelo amplo espaço, incompatível para a criação de um
clima de casa noturna. "Não tem
gente suficiente para uma noite
eletrônica no Recife", disse o estudante Mateus Souza, 23.
Quem foi, no entanto, presenciou o Bloco Mega Hits (RE), nova empreitada de DJ Dolores, agora tocando ao lado dos instrumentos de sopro da Orquestra
Popular da Bomba do Hemetério.
No sábado, um público de 4.000
pessoas foi à tradicional noite
punk/rock pesado/heavy metal
do festival, que teve como atração
principal o Angra (SP). Fizeram
boas apresentações o Forgotten
Boys e os veteranos do Cólera, enquanto a banda alemã Atrocity
encerrou seu show com o improvável cover de "Shout".
Foi apenas no último dia que o
"espírito" original do APR enfim
surgiu, com bandas mais voltadas
para o pop rock e nomes pouco
conhecidos no país, como a cantora Camille. Seu show conceitual
-um fio branco "separava" a
francesa do público- ora lembrava o grupo paulistano Barbatuques e seu uso do corpo como
percussão, ora lembrava o islandês Mugison e a gravação de bases
durante a apresentação.
Camille agradou ao público,
cantou descalça e falou mal de um
ex-namorado, quando avisou que
precisava de cinco homens da
platéia -duas moças se empolgaram e foram também- para
fazer dancinhas constrangedoras
no palco. No final do show, cortou
o fio.
Dois projetos de reinterpretações conseguiram resultados
mais efetivos no público. O excelente Lafayette e os Tremendões
injetou peso às canções de Roberto Carlos dos anos 60; a Orquestra
Imperial, com clássicos do samba
e hits pop, conhecida pelos seus
shows sem hora para acabar, teve
de se contentar com apenas duas
horas de apresentação, que teve a
presença de Jorge Mautner -outro momento para se lembrar de
Chico Science, os tempos em que
cantava "Maracatu Atômico" e o
auge do Abril pro Rock.
O jornalista Bruno Yutaka Saito viajou
a convite da organização do festival
Texto Anterior: Música: Camille mostra seu projeto solo no Brasil Próximo Texto: Show: Em nova fase, banda de hardcore Hateen se prepara para "hypar" Índice
|