São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2006

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CRÍTICA/ABRIL PRO ROCK

Aposta no alternativo gerou redução de público

BRUNO YUTAKA SAITO
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE

No ano em que buscou retornar às suas origens, o festival Abril pro Rock, encerrado anteontem no pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco, foi dominado por um clima de cover. Ao menos uma atração em cada um dos três dias da maratona de shows, que contou com 27 nomes, focou as reinterpretações.
Natural, portanto, que esta 14ª edição tenha acontecido sob um clima de "vamos começar tudo de novo". Ficaram de fora as atrações mais conhecidas -chamarizes de público certo em anos anteriores- e renovou-se a aposta nos alternativos -o que juntou um público reduzido de 9.000 pessoas, segundo a organização.
O estranhamento foi mais evidente na sexta, primeira noite de shows, quando se tentou criar a noite de música eletrônica. Com um dos menores públicos do APR -mil pessoas-, a edição foi aberta com a comentada apresentação do trio cearense Montage. Apesar de empolgar a platéia, as atrações seguintes, como a dupla alemã Stereo Total, foram prejudicadas pelo amplo espaço, incompatível para a criação de um clima de casa noturna. "Não tem gente suficiente para uma noite eletrônica no Recife", disse o estudante Mateus Souza, 23.
Quem foi, no entanto, presenciou o Bloco Mega Hits (RE), nova empreitada de DJ Dolores, agora tocando ao lado dos instrumentos de sopro da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério.
No sábado, um público de 4.000 pessoas foi à tradicional noite punk/rock pesado/heavy metal do festival, que teve como atração principal o Angra (SP). Fizeram boas apresentações o Forgotten Boys e os veteranos do Cólera, enquanto a banda alemã Atrocity encerrou seu show com o improvável cover de "Shout".
Foi apenas no último dia que o "espírito" original do APR enfim surgiu, com bandas mais voltadas para o pop rock e nomes pouco conhecidos no país, como a cantora Camille. Seu show conceitual -um fio branco "separava" a francesa do público- ora lembrava o grupo paulistano Barbatuques e seu uso do corpo como percussão, ora lembrava o islandês Mugison e a gravação de bases durante a apresentação.
Camille agradou ao público, cantou descalça e falou mal de um ex-namorado, quando avisou que precisava de cinco homens da platéia -duas moças se empolgaram e foram também- para fazer dancinhas constrangedoras no palco. No final do show, cortou o fio.
Dois projetos de reinterpretações conseguiram resultados mais efetivos no público. O excelente Lafayette e os Tremendões injetou peso às canções de Roberto Carlos dos anos 60; a Orquestra Imperial, com clássicos do samba e hits pop, conhecida pelos seus shows sem hora para acabar, teve de se contentar com apenas duas horas de apresentação, que teve a presença de Jorge Mautner -outro momento para se lembrar de Chico Science, os tempos em que cantava "Maracatu Atômico" e o auge do Abril pro Rock.


O jornalista Bruno Yutaka Saito viajou a convite da organização do festival


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