Com 26 anos de atraso, quadrinho dos italianos Milo Manara e Hugo Pratt chega ao Brasil

Reprodução

Detalhes da HQ "Verão Índio", que tem arte de Milo Manara e roteiro de Hugo Pratt, dois dos maiores cartunistas italianos; obra é um épico histórico norte- americano com drama, tiroteios e erotismo

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Milo Manara (da série erótica "Clic") e Hugo Pratt (de "Corto Maltese") são dois dos maiores nomes das HQs italianas. Ambos ilustravam e desenhavam suas histórias, mas, em duas ocasiões, uniram-se para criar quadrinhos em conjunto.
Uma, "El Gaucho", foi lançada no Brasil em 2006. A outra, "Verão Índio", está sendo publicada agora e traz a bela arte de Manara, conhecido por desenhar lindas mulheres, dando vida a um roteiro de Pratt (1927-1995) que recria um pequeno trecho da história norte-americana.
"Tentei respeitar, tanto quanto possível, a realidade histórica da arquitetura, do figurino etc., documentando as impressões e pintura do período", diz Manara, relembrando sua primeira história em conjunto com Pratt ("Verão Índio", embora esteja sendo publicada pela primeira vez no Brasil, é de 1983, e "El Gaucho", de 1991).
Em "Verão Índio", Pratt e Manara narram a saga de uma família que, nos EUA do século 17, se envolve em um conflito entre índios, representantes da Igreja e os colonizadores da cidade de Salem. Trata-se de um épico histórico, com direito a drama, tiroteios e erotismo.
"O período histórico e as circunstâncias do trágico julgamento das bruxas de Salem foi narrado por Nathaniel Hawthorne em sua obra ["A Letra Escarlate'], onde descreve coisas terríveis que realmente aconteceram", conta Manara.
"Em "Verão Índio", Hugo Pratt aborda o mesmo período e faz algo semelhante, mas mais inspirado na história norte-americana, da qual foi um profundo conhecedor."
Manara diz que "Verão Índio" é um "misto de drama e aventura, mas também tem uma dose de erotismo maior do que em outras histórias de Pratt". Afinal, diz, "foi escrita especialmente para mim e, dada a minha má reputação, não quis desapontar meus leitores". Por má reputação, entenda-se a capacidade de Manara de criar belas cenas de sexo.

Fellini
Os roteiros ilustrados por Manara são, em sua maioria, de sua própria autoria, mas ele também já deu vida a uma HQ escrita pelo cineasta Federico Fellini, "Viagem a Tulum".
"Posso dizer que foi uma verdadeira festa desenhar os roteiros do Pratt. Tive total liberdade, enquanto trabalhar com Fellini foi muito mais difícil, porque ele era um perfeccionista verdadeiramente difícil de contentar", afirma. "Resumindo: com Pratt, o diretor era eu; e com Fellini, entretanto, o diretor era ele, sem dúvida." Quando fala sobre a parceria com Pratt, Manara revela uma ligação maior do que apenas profissional: "Hugo era como meu irmão mais velho -ele tinha quase 20 anos a mais. Uma das coisas de que me orgulho é de ser o único desenhista para quem o grande Hugo Pratt escreveu dois roteiros. Sublinho o "dois", porque é a prova de que Hugo ficou satisfeito com o resultado do primeiro".
Há décadas nos quadrinhos, Manara diz não conhecer bem a produção brasileira, mas realça Mauricio de Sousa e o crítico Álvaro de Moya. "Infelizmente, conheço pouco a produção brasileira, porque não é muito publicada na Itália, com exceção de um gênero que, confesso, não me entusiasma: horror."
"Mas conheço bem o importante e excelente trabalho de crítica e divulgação de Álvaro de Moya", diz. "E, assim como muitos desenhistas de todo o mundo, eu participei de uma homenagem a Mauricio de Sousa e sua Mônica. E conheço também desenhistas brasileiros que trabalham para editoras estrangeiras, como Octavio Cariello, Kipper, Marcelo Campos, Deodato Filho..."