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LIVROS
Memória
Meschonnic defendia entendimento da poesia
JERUSA PIRES FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Jornais franceses e do
mundo inteiro, amigos e
estudiosos do pensador
singular prestam homenagem
a Henri Meschonnic. Nascido
em Paris em setembro de 1932,
morreu no último dia 8 de abril,
após conviver com a leucemia,
o que não o impediu de exercitar sua criação, produzir trabalhos e oferecer o legado de seu
pensamento crítico e poético.
Teórico da linguagem, da literatura e da tradução, foi um
dos fundadores do Centro Experimental de Vincennes, professor em Paris 8 e fundou uma
linha de trabalho que veio a ser
a escola doutoral das "disciplinas do sentido".
Tradutor do Antigo Testamento, fez dos estudos bíblicos
um campo de experimentação
e descoberta poética. A partir
dessa experiência nos passou
sua lição magistral, apontando
a Europa como o continente da
tradução. Tendo participado da
aventura estrutural, passou a
combater os estruturalismos
em apogeu na França nos anos
70. Judeu, conduziu uma batalha contra o pensamento de
Heidegger e severos ataques
contra a poesia francesa contemporânea e a ideia de uma
clareza do espírito francês.
Tendo Wilhelm von Humboldt e depois Emile Benveniste como mestres e inspiradores, importava-lhe a complexidade dos textos poéticos. Contra uma ciência da tradução ou
da tradutologia instala, ao contrário, a ideia de um laboratório
de experiência e discussão de
linguagens, em que se posiciona contra a modéstia e o apagamento, a favor da audácia.
Ao traduzir com Suely Fenerich "La Poétique du Traduire"
("A Poética do Traduzir", a sair
pela Perspectiva), pude perceber todo um movimento de luta
interna, um discurso crítico e
combativo ativado, até para
discutir repercussões na imprensa, mal-entendidos e teorias que ele critica. Propõe uma
antropologia histórica da linguagem, incluída nas noções de
discurso e de poética, diante de
fenômenos como a descolonização e a globalização cultural.
Apoiando-se no tripé ética,
poética e política, vai conduzindo uma posição por sua extensa
obra (traduções, ensaios e poemas) dando o subtítulo "Antropologia Histórica da Linguagem" à série que chamou "Para
a Poética". Contido, polêmico,
preciso e extenso, ao mesmo
tempo, pensando nas práticas
do sagrado, nas questões do divino e nas contingências do
presente e da história, insistiu
sempre na noção de historicidade. Meschonnic é sensibilidade e agudeza. Poeta, deixa-nos a marca de um trabalho incansável pelo entendimento da
poesia, da história do pensamento e de seus impasses.
Entre seus livros, destacam-se "Spinoza: Poème de la Pensée" (Maisonneuve & Larose,
2002), "Rythme: Politique du
Sujet" (Verdier, 1995) e "La Rime et la Vie" (Verdier, 1989).
JERUSA PIRES FERREIRA é professora da ECA-USP e do programa de Estudos Pós-Graduados
em Comunicação e Semiótica da PUC-SP.
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