São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BEBIDA

Vinhos

Com mais de 90 vinícolas, a região de La Rioja é berço de grandes tintos

JORGE CARRARA
ENVIADO ESPECIAL A LA RIOJA

Organizado pelo governo da Comunidade Autônoma de La Rioja, o encontro Grandes de La Rioja 2006 reuniu de 3 a 6 de maio, em Logroño, cerca de 30 jornalistas e especialistas de vários continentes num ciclo de degustações de seus (belos) vinhos e de visitas às adegas. Encravada no centro-norte da Espanha, Rioja tem sido historicamente berço de alguns dos grandes tintos da Europa. Suas origens no mundo de Baco remontam à época dos romanos, mas os seus vinhedos ganharam impulso decisivo com a chegada, no século 19, dos vinhateiros bordaleses, que, com seus parreirais destruídos por pragas como o oidio (um fungo) e a filoxera (um pulgão que ataca as raízes das videiras acabando por matá-las), buscavam um novo reduto para se estabelecer, até recuperar os seus campos. Em sua passagem, os franceses introduziram várias técnicas de elaboração, como o envelhecimento dos caldos em barricas de carvalho, ajudando a definir o perfil dos vinhos de Rioja: elegantes, complexos e longevos. Os vinhos tintos da região, elaborados principalmente com a uva nativa tempranillo, autêntico tesouro ibérico, combinada com outras cepas típicas, como graciano, garnacha ou mazuelo, são o destaque. Nas degustações, desfilaram cerca de 120 tintos e brancos de mais de 90 vinícolas da região (as adegas que já estão no Brasil têm o importador indicado, assim como o preço do vinho, caso esteja no mercado). Foram servidos brancos interessantes, mas os tintos roubaram a cena, mostrando diferentes tendências na sua elaboração. Por um lado, aparecem firmas jovens que assinam goles mais concentrados e robustos, com um estilo que lembra os vinhos do Novo Mundo. Do outro, estão as adegas antigas -algumas fundadas na época dos gauleses- que continuam modelando vinhos do perfil que tem dado fama à região: mais envelhecidos na cantina e de peculiar riqueza. Houve grandes amostras nos dois times. Entre os (vários) que brilharam na primeira ala, a da modernidade, impressionou muito bem o Reserva 1998 da Miguel Merino, corte de uvas tempranillo (96%) e graciano, mesclando frutas secas com framboesa no aroma e sabor, de paladar longo e concentrado (91/ 100, www.miguelmerino. com). Menção também para o Liturgia 2001 -da Vinicola Real (www.vinicola real.com), casa fundada em 1989-, mescla de cepas tempranillo, graciano, mazuelo e garnacha, rico no nariz e na boca, com bela textura, marcado por fruta concentrada e pinceladas de torrefação (92/100). Mas os louros entre as novas adegas ficaram com a Roda (Expand, tel. 0/xx/ 11/4613-3333) e o seu tremendo Cirsion 2004, um tempranillo (100%) potente e cativante, marcado por intensas frutas vermelhas, tabaco, leve café, denso e sedoso em boca (94/ 100). No departamento das casas tradicionais, um dos pontos altos foi o Muga Reserva 2001, outro corte de uvas tempranillo (70%), com graciano, garnacha e mazuelo, e envelhecido por cerca de três anos em carvalho, se mostrou rico em fruta, bem estruturado e persistente no paladar (91/100, www.bodegasmuga.com). Outro foi o excelente Dalmau 2001, das bodegas Marqués de Murrieta. Elaborado com, claro, tempranillo (85%) cortada com cabernet sauvignon e graciano, agradou pelo aroma intenso e o sabor que combina fruta, cedro e chocolate e perdura muito tempo na boca (92/100, Expand). O topo ficou com o Reserva 904 1995 de La Rioja Alta, corte de tempranillo (90%) e graciano, delicioso, maduro, no ponto, com paladar persistente, pleno de fruta (groselhas, framboesas) e um verniz de couro e baunilha deixado, talvez, pelos quatro anos de amadurecimento em carvalho americano, um clássico exemplo dos vinhos que colocaram Rioja no mapa dos vinhos finos do planeta (94/100, R$ 245, Grand Vin, tel. 0/xx/11/3672-7133).


JORGE CARRARA viajou a Logroño a convite do Departamento de Agricultura e Desenvolvimento Econômico do Governo de La Rioja

Texto Anterior: Nina Horta: Uma história de cozinha tagarela
Próximo Texto: Por que beber
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.