DA SUCURSAL DO RIO

C onsta que, para o especial de 1989 que agora vira DVD, Tim Maia conseguiu da Globo -com quem vivia entre (muitos) tapas e (poucos) beijos- tudo com o que poderia sonhar: 27 músicos no palco, arranjos de cordas de Lincoln Olivetti, seis cantoras no coro, tempo para ensaiar e muita parafernália. Ainda assim, é impossível não vê-lo em cena, por várias vezes, reclamando do som, pedindo mais retorno. Mas quase tudo com gestos. Tim não poderia deixar de ser Tim, mesmo que com menos espalhafato.
E o especial vale pela junção das duas coisas: uma grande orquestra tornando o show num baile de alta temperatura; e Tim falando loucuras, como se estivesse cantando no Circo Voador, e não para convidados no hotel Nacional (zona sul do Rio). "Todo mundo batendo palma/ Todo mundo refrescando o cecê", diz em "Do Leme ao Pontal", que encerra um primeiro bloco arrasador, sucedendo a "Vale Tudo" e "Descobridor dos Sete Mares".
Em vários momentos, Tim paquera uma "princesa" que deve estar se acabando na platéia, mas que a Globo não mostra -vale a ressalva de que a Globo mostra outras coisas que, anos antes, dificilmente sobreviveriam à ilha de edição. Ao cantar "Sossego", diz que o título original era "Sossego e Um Quilo do Bom", mas, sabe-se lá por quê, a censura do regime militar cortou a onda. E brinca com os músicos clássicos que acompanham sua banda Vitória Régia: "O cara estuda violino 25 anos, toca Bach, Beethoven, e aí o Tim Maia o convida para tocar uma nota: dó. [...] Mas aí é que está o barato!" Há fragmentos de tentativas de entrevistas, nos quais conta que foi preso nos EUA e deportado "por besteira" (porte de drogas) e se empolga após criticar o Brasil: "Para presidente, Tim Maia". Musicalmente, destacam-se, entre as escassas 11 faixas, as mais dançantes, como "Você e Eu, Eu e Você". Nas românticas, a melhor é "Me Dê Motivo", em que põe chifre em si próprio enquanto improvisa um texto de locutor de rádio.
O especial é uma balbúrdia na qual Tim se diverte e diverte o público. Sua transformação em DVD nos ajuda a não esquecer esse gênio doido, que viveu a mil e morreu aos 55, em 1998. (LFV)