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Show cerca Rei de suas "caras-metades"
Cantoras que interpretam canções de Roberto Carlos amanhã, no Municipal de SP, lembram "casos de amor com ele'
Zizi Possi ajoelhava-se diante de foto da avó para que ela a ajudasse a se casar com o cantor; Fernanda Abreu tinha boneco do Rei
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
São 20 cantoras. De samba,
de pop, de axé, de ópera, de
rock, de bolero, de teatro musical, de auditório. Diferenças à
parte, todas vão estar juntas
amanhã à noite no palco do
Teatro Municipal para o show
"Elas Cantam Roberto", que
comemora os 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Ele deve participar dos momentos finais da apresentação.
Dirigido por Monique Gardenberg, este é o primeiro dos
cinco espetáculos que o projeto
Itaúbrasil dedica ao cantor. Deve virar um DVD e um programa na TV Globo, dia 31.
Última voz a ser recrutada
para o elenco, Rosemary, 61,
chamou atenção para o detalhe:
há algo de ambíguo no nome do
show. "Tão bom quanto cantar
para Roberto é poder cantá-lo.
Esse duplo sentido tem tudo a
ver com o que ele representa
para nós", ela diz. "Confesso
que sempre o vi com esse olhar
de mulher, mas sabia que, no
fundo, ele seria de muitas. De
todas as mulheres do Brasil."
Parece que é verdade. Procuradas pela Folha, quase todas
as cantoras envolvidas no projeto sentiram-se um pouco cortejadas pelo Rei depois do convite para o show no Municipal.
"Para qualquer coisa que ele
me chame, digo sim", diz Fafá
de Belém, 52, às gargalhadas.
"Lembro do primeiro dia em
que o vi no palco. No meio do
show, eu não sabia mais nem
quem eu era. É como se os
olhos dele estivessem olhando
só os meus, sabe? Mesmo com
mais 5 mil pessoas na plateia."
Zizi Possi, 53, tem histórias
envolvendo os mesmos olhos.
Aos seis anos de idade, já acompanhava Roberto pela TV. Depois do programa, ajoelhava-se
diante de uma foto de sua avó
falecida e fazia promessas, como se visse nela um Santo Antônio: "Vó, juro que se a senhora me casar com o Roberto Carlos, vou fazer aqueles olhos
tristes dele ficarem contentes".
As lembranças de Fernanda
Abreu, 47, também vêm da infância. No início dos anos 70,
ela ganhou o boneco de Roberto Carlos, um dos primeiros
produtos licenciados da história da música brasileira. Certo
dia, chegando da escola, deparou-se com a cabeleira de náilon depenada. "Para implicar
comigo, meu irmão havia cortado o cabelo do boneco", diz.
"Chorei uma noite inteira."
Outro souvenir tradicional
relacionado a Roberto Carlos
são as rosas que ele joga à plateia no fim dos shows. A apresentadora Hebe Camargo, 80,
gaba-se por recolher as suas
desde os anos 70. "Das cantoras todas, sou a que mais tem
dessas flores. Consegui pegar
em todos os shows a que fui.
Tenho uma caixa só para guardar as pétalas secas."
Febre
Luiza Possi, 24, estava na
barriga de sua mãe quando dividiu um palco com Roberto
pela primeira vez. Grávida, Zizi
era uma das convidadas do especial de fim de ano do Rei em
1983. A menina só veria Roberto ao vivo mais de duas décadas
depois. "Tive todas as emoções,
uma seguida da outra: eu cantava, ria, batia palma, chorava",
conta. "E fui ficando com febre.
Quando acabou o show, eu estava encantada, mas fervendo e
completamente sem voz."
Esse nervosismo incontrolável é quase uma constante entre as cantoras que chegam perto de Roberto. "É que nem ver o
Silvio Santos", compara
Mart'nália, 43. "Quando você
se depara com uma pessoa dessas, o filme de sua vida inteira
passa na cabeça."
Em seu primeiro encontro
com Roberto, ela ficou tão nervosa que, sem saber direito o
que fazer, tascou um selinho na
mãe do cantor, Lady Laura.
Sandy, 26, também se descontrolou por causa de Roberto. Tinha 10 anos quando participou de um especial do cantor.
A certa altura da coreografia,
estava previsto que Junior lhe
daria um beijo na bochecha e
ela retribuiria com um tapinha
no rosto. "As pessoas começaram a valorizar tanto essa participação que fui ficando nervosa", conta. "Na hora, a tensão
fez com que eu desse o tapa
com uma força absurda. Meu
irmão quase voou."
Gentileza
De todas as 20 cantoras,
Wanderléa, 62, é, de longe, a
que mais conhece Roberto.
Tanto que não consegue se
lembrar de nenhum momento
que represente com precisão a
relação deles. "É o mesmo que
pincelar uma história de um irmão que viveu contigo uma vida inteira", compara. "Só posso
dizer que ele é uma das pessoas
mais gentis que conheço."
Paula Toller, 46, descreve um
episódio que, acredita, dá bem a
dimensão dessa gentileza. "Íamos cantar juntos, e o tom era
inadequado para a região vocal
dele -isso acontece muito
quando mulheres fazem dueto
com homens", lembra. "Mas ele
fez questão de manter o meu
tom, mesmo tendo ficado menos confortável para ele. Um
verdadeiro anfitrião, bem-humorado e muito carinhoso."
Claudia Leitte, 28, concorda.
Surpreendeu-se com o carinho
com que foi recebida por Roberto. "Conversamos sobre
carros, música, e, como se não
bastasse, ele ainda demonstrou
que conhecia o meu trabalho",
diz. "Pediu que eu cantasse a
música "Safado, Cachorro, Sem
Vergonha". Foi marcante."
Segundo Marina Lima, 53,
Roberto sabe fazer uma mulher
sentir-se importante e esta é
uma das características mais
atraentes de sua personalidade.
"Ele realmente presta atenção
no que você está dizendo, se
mostra interessado", diz.
"Soube que ele me imitou
cantando "Como Dois e Dois".
Quase morri. A sensação que eu
tive foi de "eu existo, o Roberto
me notou". Agora, tudo o que eu
quero é cantar para ele."
Ao que parece, ela não está
sozinha.
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