São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Show cerca Rei de suas "caras-metades"

Cantoras que interpretam canções de Roberto Carlos amanhã, no Municipal de SP, lembram "casos de amor com ele'

Zizi Possi ajoelhava-se diante de foto da avó para que ela a ajudasse a se casar com o cantor; Fernanda Abreu tinha boneco do Rei

MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

São 20 cantoras. De samba, de pop, de axé, de ópera, de rock, de bolero, de teatro musical, de auditório. Diferenças à parte, todas vão estar juntas amanhã à noite no palco do Teatro Municipal para o show "Elas Cantam Roberto", que comemora os 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Ele deve participar dos momentos finais da apresentação.
Dirigido por Monique Gardenberg, este é o primeiro dos cinco espetáculos que o projeto Itaúbrasil dedica ao cantor. Deve virar um DVD e um programa na TV Globo, dia 31.
Última voz a ser recrutada para o elenco, Rosemary, 61, chamou atenção para o detalhe: há algo de ambíguo no nome do show. "Tão bom quanto cantar para Roberto é poder cantá-lo. Esse duplo sentido tem tudo a ver com o que ele representa para nós", ela diz. "Confesso que sempre o vi com esse olhar de mulher, mas sabia que, no fundo, ele seria de muitas. De todas as mulheres do Brasil."
Parece que é verdade. Procuradas pela Folha, quase todas as cantoras envolvidas no projeto sentiram-se um pouco cortejadas pelo Rei depois do convite para o show no Municipal.
"Para qualquer coisa que ele me chame, digo sim", diz Fafá de Belém, 52, às gargalhadas. "Lembro do primeiro dia em que o vi no palco. No meio do show, eu não sabia mais nem quem eu era. É como se os olhos dele estivessem olhando só os meus, sabe? Mesmo com mais 5 mil pessoas na plateia."
Zizi Possi, 53, tem histórias envolvendo os mesmos olhos. Aos seis anos de idade, já acompanhava Roberto pela TV. Depois do programa, ajoelhava-se diante de uma foto de sua avó falecida e fazia promessas, como se visse nela um Santo Antônio: "Vó, juro que se a senhora me casar com o Roberto Carlos, vou fazer aqueles olhos tristes dele ficarem contentes".
As lembranças de Fernanda Abreu, 47, também vêm da infância. No início dos anos 70, ela ganhou o boneco de Roberto Carlos, um dos primeiros produtos licenciados da história da música brasileira. Certo dia, chegando da escola, deparou-se com a cabeleira de náilon depenada. "Para implicar comigo, meu irmão havia cortado o cabelo do boneco", diz. "Chorei uma noite inteira."
Outro souvenir tradicional relacionado a Roberto Carlos são as rosas que ele joga à plateia no fim dos shows. A apresentadora Hebe Camargo, 80, gaba-se por recolher as suas desde os anos 70. "Das cantoras todas, sou a que mais tem dessas flores. Consegui pegar em todos os shows a que fui. Tenho uma caixa só para guardar as pétalas secas."

Febre
Luiza Possi, 24, estava na barriga de sua mãe quando dividiu um palco com Roberto pela primeira vez. Grávida, Zizi era uma das convidadas do especial de fim de ano do Rei em 1983. A menina só veria Roberto ao vivo mais de duas décadas depois. "Tive todas as emoções, uma seguida da outra: eu cantava, ria, batia palma, chorava", conta. "E fui ficando com febre. Quando acabou o show, eu estava encantada, mas fervendo e completamente sem voz."
Esse nervosismo incontrolável é quase uma constante entre as cantoras que chegam perto de Roberto. "É que nem ver o Silvio Santos", compara Mart'nália, 43. "Quando você se depara com uma pessoa dessas, o filme de sua vida inteira passa na cabeça."
Em seu primeiro encontro com Roberto, ela ficou tão nervosa que, sem saber direito o que fazer, tascou um selinho na mãe do cantor, Lady Laura.
Sandy, 26, também se descontrolou por causa de Roberto. Tinha 10 anos quando participou de um especial do cantor. A certa altura da coreografia, estava previsto que Junior lhe daria um beijo na bochecha e ela retribuiria com um tapinha no rosto. "As pessoas começaram a valorizar tanto essa participação que fui ficando nervosa", conta. "Na hora, a tensão fez com que eu desse o tapa com uma força absurda. Meu irmão quase voou."

Gentileza
De todas as 20 cantoras, Wanderléa, 62, é, de longe, a que mais conhece Roberto. Tanto que não consegue se lembrar de nenhum momento que represente com precisão a relação deles. "É o mesmo que pincelar uma história de um irmão que viveu contigo uma vida inteira", compara. "Só posso dizer que ele é uma das pessoas mais gentis que conheço."
Paula Toller, 46, descreve um episódio que, acredita, dá bem a dimensão dessa gentileza. "Íamos cantar juntos, e o tom era inadequado para a região vocal dele -isso acontece muito quando mulheres fazem dueto com homens", lembra. "Mas ele fez questão de manter o meu tom, mesmo tendo ficado menos confortável para ele. Um verdadeiro anfitrião, bem-humorado e muito carinhoso."
Claudia Leitte, 28, concorda. Surpreendeu-se com o carinho com que foi recebida por Roberto. "Conversamos sobre carros, música, e, como se não bastasse, ele ainda demonstrou que conhecia o meu trabalho", diz. "Pediu que eu cantasse a música "Safado, Cachorro, Sem Vergonha". Foi marcante."
Segundo Marina Lima, 53, Roberto sabe fazer uma mulher sentir-se importante e esta é uma das características mais atraentes de sua personalidade. "Ele realmente presta atenção no que você está dizendo, se mostra interessado", diz.
"Soube que ele me imitou cantando "Como Dois e Dois". Quase morri. A sensação que eu tive foi de "eu existo, o Roberto me notou". Agora, tudo o que eu quero é cantar para ele."
Ao que parece, ela não está sozinha.

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